Os moradores da 403 Sul convivem com uma obra inédita iniciada nessa segunda-feira (6/11): a demolição de um bloco de superquadra. Projetado pelo arquiteto William Bryant para a embaixada do Reino Unido, o bloco foi construído em 1962 e inaugurado em 1968.
Agora, vendido a uma construtora, será derrubado para dar espaço a um novo edifício. Além do impacto histórico, a obra tem desagradado os moradores da região, que reclamam do excesso de barulho e do incômodo causado pela poeira. A aposentada Maria Edith, de 65 anos, mora em frente ao prédio, e conta que a casa foi tomada pela terra.
"É um barulho que incomoda. Fico pensando nas crianças que moram perto do bloco, não tem nem condições de dormir. A poeira também é complicada. Ontem passei um pano na minha máquina de lavar e quando olhei de novo estava cheia de poeira. Se durar mais tempo, é chato".
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Por outro lado, o professor Raimundo Paravidine, de 72 anos, acha que a construção vai valorizar a quadra. "Este é o perrengue que temos que passar", afirma. No entanto, o educador também reclama da poeira excessiva.
"O apartamento está todo fechado. Está atrapalhando tudo, minha casa está toda fechada. Não tem ventilação, apenas os aparelhos que tenho dentro do meu apartamento", relata.
A demolição também atrai curiosos. A reportagem notou a presença de alguns moradores que estavam parados ao lado do prédio, apenas observando. Um deles, que não quis ser identificado, justificou a presença contando que gosta de "assistir prédios sendo demolidos".
Em contato com o Correio, um coletivo de alunos de teoria, crítica e história da arte da Universidade de Brasília (UnB) repudiaram a demolição do prédio. Segundo eles, o edifício estava vazio há 2 anos, mas era ocupado por pessoas em situação de rua.
"Horroroso ver destroços de um prédio perfeitamente capaz de ser restaurado sem demolição", afirmam. Os estudantes também contestam a versão da construtora, que justificou que o dano estrutural do edifício era irreversível, descartando a possibilidade de uma restauração.
O Correio tentou entrar em contato com a Administração Regional do Plano Piloto, mas não obteve retorno até a publicação desta reportagem. O espaço segue aberto para futuras manifestações.
Projeto raro em Brasília
De acordo com Pedro Grilo, vice-presidente do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Distrito Federal (CAU/DF), o edifício tinha uma arquitetura brutalista, com concreto aparente. “Uma coisa rara em Brasília, e era único, sem repetições.”
Apesar da importância histórica, Grilo informa que é permitida a realização desse tipo de demolição em Brasília. “É importante salientar que em Brasília ainda não existem blocos de superquadra tombados. Apenas o urbanismo da cidade e alguns edifícios, principalmente os monumentais, são tombados”, esclarece.
Ainda assim, a destruição do prédio é um choque para a cidade. “Já se imagina que outras quadras históricas de Brasília possam sofrer o mesmo, mas com um impacto ainda maior”, finaliza.
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