Igualdade

Arte: coletivo de mulheres usa o bordado como ponto de resistência

Grupo de mulheres se reúne, todos os sábados, para bordar frases de cunho político em alusão a minorias como negros e público LGBTQIA . Por meio do trabalho manual elas lutam contra a opressão e a desigualdade

Mulheres que resistem e lutam por direitos e autonomia vêm criando bordados como forma de se expressar politicamente. Formado em abril do ano passado, em meio ao processo eleitoral, o grupo Linhas da Resistência borda a inquietação e a luta contra qualquer forma de opressão e desigualdade.

Na feira Ponta Norte, na 216 Norte, há um espaço onde as bordadeiras se reúnem, nas manhãs de sábado, para produzir mantos com variados temas em defesa de minorias, como a população LGBTQIA, mulheres, negros, entre outros. As bordadeiras dividem espaço na feira com outros dois grupos ligados ao Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST), com o intuito de divulgar pautas que visam um país menos desigual.

Uma das coordenadoras do projeto, a aposentada Bia Diagnart, 64, conta que o bordado permite que elas se conectem por meio da criatividade e imaginação. "O projeto surgiu durante uma angústia nossa, principalmente nas eleições presidenciais do ano passado", lembra. Como forma de resistência, conseguimos um espaço para produzirmos nossos mantos, com pautas políticas da esquerda com o teor de resistência", afirma. Com as mudanças no cenário político as bordadeiras começaram a produzir sobre outros temas. "O que vale para nós é a criatividade e imaginação. Quem nunca bordou, ensinamos. É uma forma de demonstrarmos nossas lutas", detalha.

Todo material produzido pelas artesão é vendido, com temas de cunho político como a emancipação das mulheres e a luta pela visibilidade e contra o preconceito do público LGBT. "Quem quiser bordar, só precisa trazer uma cadeira. Temos aqui linha, tecido, tudo. É trazer a ideia, proposta, e fazemos um bordado em prol das nossas lutas", complementa.

A coordenadora do Linhas da Resistência, a psicóloga Marilza de Macedo, 60, cita que o bordado traz a possibilidade de dar voz às minorias. Ela acrescenta que, em especial o bordado político, coloca no roteiro assuntos que merecem um olhar mais atento de políticos. "Não basta elegemos um governante alinhado com as pautas progressistas, porque há questões que continuam necessitando de atenção. Pensamos que por meio da beleza dos bordados, podemos trabalhar mais a luta por justiça social. É agregar pessoas para esse lugar de pensar e transformar", enfatiza.

Luis Nova/CB -
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Fotos: Luis Nova/CB/D.A Press -
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Bordado em família

O amor pelo bordado contagia integrantes de uma mesma família. Um dos exemplos é a anfitriã do Linhas da Resistência, a aposentada Shirley Altoé, 67, e a prima dela, a também aposentada Marília Altoé, 59. Shirley lembra que o projeto nasceu com uma ideia simples, de panos ligados ao combate à proteção da liberdade e democracia.

Personalidades da política, como a ministra da Saúde Nísia Trindade, e das artes, caso do pintor Rômulo Andrade já fizeram bordados na feirinha de exposições. "Quando aparecia uma pauta importante, nós decidimos fazer panos voltados aquela temática. "Fazemos a sustentação da democracia por meio da arte", cita.

Como forma de ter um posicionamento, as bordadeiras pretendem construir algo voltado à guerra entre Israel e o grupo extremista islâmico Hamas. O conflito, que iniciou em 7 de outubro, mistura política e religião e já se estende há décadas, deixando milhares de mortos e feridos em ambos os lados. "Uma das pautas que nós temos desejo de fazer é sobre o povo palestino. Vamos nos reunir para conversar sobre esse tema que é tão importante", programa Shirley.

"Colocamos expostos onde ficamos cerca de 24 panos. Teve um dia que um movimento de pessoas atingidas pelo petróleo no litoral veio e aquilo, para eles, foi terapêutico. Para quem quiser chegar, produzimos uma determinada temática e o bordado fica lá, exposto para outras pessoas conhecerem. Na minha concepção, faz muito bem para a saúde", vibra a aposentada.

Já Marília atua na "linha de frente" do projeto, onde cuida dos trabalhos todos os sábados. A aposentada conta que a prima a levou para conhecer o bordado, e partir disso se apaixonou. "Ela me levou para conhecer e achei aquilo maravilhoso. Nós bordamos esperança de um país justo, igualitário e trabalhamos para torná-lo realidade", conta. "Bordar para mim, é a união da linha com o tecido, da agulha com os dedos, do pensamento com as mãos. Alguns dias, me desmancho. Depois, levanto e sonho de novo. Tento e insisto. Bordar é isso. Resistir", sintetiza Marília.

Serviço

Para participar do movimento, não precisa saber bordar. É necessário apenas trazer uma cadeira e uma ideia para bordar resistência. Os materiais produzidos não são vendidos. O projeto funciona aos sábados, das 9h às 13h.

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Serviço

Para participar do movimento, não precisa saber bordar. É necessário apenas trazer uma cadeira e uma ideia para bordar resistência. Os materiais produzidos não são vendidos.

Aos sábados, o projeto vai das 9h às 13h