Sistema financeiro

Vigilante exige explicações do BRB após fiscalização do Banco Central

Líder do PT na Câmara Legislativa, o deputado distrital Chico Vigilante alertou para os demonstrativos financeiros do BRB, que terão de ser refeitos por determinação do Banco Central. Lucro líquido recorrente apresentou queda significativa de 2020 a 2023. "Grave"

A gestão financeira do Banco de Brasília, alvo de fiscalização do Banco Central, motivou cobranças na Câmara Legislativa do Distrito Federal. O líder do PT na assembleia, deputado Chico Vigilante, exigiu explicações da cúpula do banco após a autoridade monetária exigir que o BRB refaça os demonstrativos financeiros de 2022 e 2032. As falhas foram publicadas pelo Correio.

“Temos informações, e há matérias circulando também, que o Banco Central do Brasil, que fiscaliza as instituições financeiras, determinou que o BRB refaça os cálculos dos supostos lucros que eles teriam tido, porque, ao invés de lucro, teve prejuízo. Com esse prejuízo, terá que refazer tudo que eles tiveram apresentado. Isso é grave”, disse o deputado.

Ao Correio, Vigilante afirmou que ficou preocupado com a gestão do banco após ler as informações sobre despesas e receitas do banco. “Parece uma contabilidade maquiada”, disse. “Vamos tomar providências e buscar explicações”, afirmou.

Na Câmara Legislativa, o parlamentar comentou outros fatos referentes ao BRB, como o projeto de vender ações na Bolsa de Valores. “O mais grave, e que essa Casa precisa estar preocupada com isso, é que a matéria do jornal (O Estado de São Paulo) dá conta de que o BRB está abrindo a venda de ações de até R$ 2 bi. Ou seja, o BRB querendo vender R$ 2 bi de suas ações. Isso não é questão de oposição e nem de governo, é questão de um banco, que todos nós temos carinho por ele", questionou. O parlamentar citou pontos que considera alarmantes sobre o BRB. "É um banco que está com um conjunto enorme de acionistas pendurados, no chamado de superendividados. E, agora, abre a venda das ações para vender R$ 2 bi". Ele considerou a medida “muito grave”.

O líder do PT cobrou um posicionamento firme de seus pares. E cobrou explicações dos gestores do BRB. "Acredito que essa Casa tem que se posicionar fortemente contra essa ação. É preciso que o presidente do BRB venha nesta Casa explicar efetivamente o que é isso. Nós não podemos passar pano e achar que é normal essa abertura, enquanto o banco está com dificuldade. Vai vender R$ 2 bi de ações no momento que as ações estão em queda, desvalorizadas. A quem interessa o sucateamento do Banco de Brasília? Essa Casa tem que assumir a defesa do BRB”, disse. “O BRB é uma instituição da população do DF, e não podemos aceitar a dilapidação do patrimônio do banco”, apontou.

Venda de ativos

Segundo demonstrativos financeiros divulgados pelo próprio BRB, o banco tem apresentado queda significativa no seu lucro líquido recorrente. A fim de compensar a piora na performance, a instituição tem realizado operações não recorrentes, como venda de participações e de outros ativos.

Em 2021, o BRB lançou em seu balanço um lucro de R$ 592,9 milhões, incluindo nesse montante a venda de ações das bandeiras Visa e Mastercard, no valor de R$ 360,6 milhões, entre outras operações. Desconsiderando essa medida pontual, o lucro líquido recorrente neste período totalizou R$ 278,4 milhões, revelando uma queda relevante na comparação com o ano anterior, quando o banco obteve R$ 455,7 milhões de lucro líquido.

Em 2022, o BRB realizou operação semelhante, a fim de melhorar seus números. Contabilizou R$ 306,2 milhões de lucro líquido, mas foi preciso computar R$ 182,5 milhões provenientes da venda de agências. Não fosse isso, o resultado positivo cairia para R$ 160,6 milhões — lucro líquido recorrente bem inferior aos R$ 278,4 milhões que constam no exercício de 2021. Esses valores, é bom lembrar, ainda não refletem a revisão determinada pelo Banco Central, após identificar inconsistências nos demonstrativos financeiros do banco público brasiliense.

A deterioração do lucro líquido recorrente do BRB se agravou no primeiro semestre de 2023. Os balanços divulgados até aqui apontam R$ 37,1 milhões positivos no período. Mas esse saldo considera um crédito tributário no valor de R$ 71,6 milhões, concedidos pela Receita Federal a empresas que apresentam dificuldade em cumprir suas obrigações com o Fisco. Em resumo, os demonstrativos financeiros do BRB mostram, nos últimos quatro anos, quedas relevantes no lucro líquido recorrente, apesar de medidas pontuais lançadas para compensar as perdas financeiras.

Entre os principais bancos do país, o BRB é a única instituição que apresentou prejuízo no primeiro semestre de 2023, considerando-se os números antes do lançamento do Imposto de Renda. O resultado negativo foi de R$ 23,7 milhões.

Seguindo-se esse critério, o Banco do Brasil reportou um lucro de R$ 24,6 bilhões. O Itaú ficou em segundo, com resultado positivo de R$ 19,1 bilhões. Em seguida, aparece o Bradesco, que obteve R$ 9,3 bilhões. O Santander apresentou lucro de R$ 5,8 bilhões. Já a Caixa Econômica Federal, R$ 3,9 bilhões; e o Banrisul (Banco do Estado do Rio Grande do Sul), R$ 480,3 milhões.

 

Inadimplência

Os problemas do BRB também incluem a parceria Nação BRBFla. Segundo o jornal Folha de S.Paulo, o banco acumula um calote de R$ 455 milhões referentes a empréstimos concedidos a torcedores do clube por meio do banco digital. Esse valor se refere a créditos a receber com mais de um ano de atraso, baixados como prejuízo por determinação do Banco Central.

 

Resultado do BRB no primeiro semestre de 2023:

Banco do Brasil - 24.613.842
Itaú - 19.144.000
Bradesco - 9.326.529
Santander - 5.804.664
Caixa Econômica Federal - 3.924.139
Banrisul - 480.331
BRB - 23.705

 

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