Passados quase 9 anos desde a inauguração, a indefinição sobre a ocupação do Centro Administrativo (Centrad) continua. A estrutura, construída em uma área de 182 mil metros quadrados — equivalentes a 25 campos de futebol —, tem 16 prédios e fica na Avenida Elmo Serejo, ao lado do Estádio Serejão, da Rodoviária de Taguatinga e próximo à Estação Centro Metropolitano do metrô. Inicialmente, a ideia do Governo do Distrito Federal (GDF) era abrigar ali parte dos serviços administrativos públicos da capital federal.
Posteriormente à inauguração, realizada em 2014, no governo Agnelo Queiroz (PT) (confira Saiba mais), o funcionamento do Centrad virou promessa de campanha de Ibaneis Rocha (MDB), ainda na disputa do primeiro mandato, mas, por enquanto, o projeto não se concretizou. Enquanto isso, comerciantes da região, que tinham a esperança de dias melhores com a inauguração do complexo, aguardam ansiosamente pelo desenrolar da história. É o caso de Rubens Fernandes, 55 anos, dono de um sacolão que fica do outro lado da Elmo Serejo, em frente ao centro administrativo. "Trabalho aqui desde 2006. Quando soubemos (comerciantes) da construção do Centrad, ficamos muito alegres, porque, com ele em funcionamento, o movimento seria muito maior", diz.
Segundo ele, desde 2014, quando foi inaugurado, todos estão admirados pelo fato dele não ter entrado em funcionamento ainda. "A gente fica se perguntando quando ele vai abrir. Eu, por exemplo, sempre crio expectativas quando vejo alguma movimentação por lá, mas, geralmente, são os guardas que cuidam dos prédios", lamenta. "A esperança é grande para que aquilo abra, um dia, e melhore o movimento. Cliente, a gente tem, mas com o pleno funcionamento do Centrad, as coisas devem melhorar bastante", observa Fernandes.
Descrença
O pensamento é o mesmo da dona de uma loja de salgados, próxima ao Centrad, Rita de Kássia, 22. Ela conta que, quando alugou o ponto, há quase quatro anos, tinha muita expectativa de que os servidores ocupassem o complexo. "Só que não foi da forma que a gente esperava. Pelo visto, vai demorar muito ou talvez nem venham", avalia. "Tive várias outras opções de locais para abrir, porém, ficamos sabendo da expectativa de ocupação do Centrad e decidimos apostar neste local", comenta.
A empresária afirma que, como o complexo ainda não está ocupado, o movimento não está sendo tão alto quanto o esperado. "Está dando para pagar as contas, mas o lucro não está tão bom. Espero que eles venham para cá, para que o movimento aumente, principalmente por conta desse tempo difícil que acabamos de passar, em razão da pandemia. Ainda estamos nos recuperando", detalha a jovem.
Gerente de um posto de gasolina que fica praticamente ao lado do Centrad, Marilene de Assis, 43, lembrou que, quando começou a trabalhar no local, estava no final das obras. "Os comerciantes da região tinham bastante expectativas em relação ao complexo. Os postos, inclusive o nosso, chegaram a construir conveniências, pensando no público que viria", destaca.
De acordo com Marilene, atualmente, a situação é outra. "Agora, a gente está mais descrente. Na época, criamos a nossa conveniência justamente por causa do Centrad. Só que ela foi desativada há pouco mais de um ano, porque não teve o público esperado", lamenta. "Se tivesse movimento no prédio, a gente acredita que o fluxo na conveniência poderia ser melhor, pois o pessoal viria para tomar um lanche ou, às vezes, almoçar", diz.
Empregos
Presidente da Associação Comercial e Industrial de Taguatinga (ACIT), Justo Magalhães reforça que a não ocupação do Centrad está trazendo prejuízo para todos. "É ruim para Taguatinga. A gente está sempre em contato com o governo e a informação é sempre que não tem nenhum prazo para que os prédios sejam ocupados", lamenta.
Segundo Magalhães, a ACIT tem a esperança de que, um dia, o complexo seja aberto. "Ele, com certeza, impulsionará o comércio na região. O fato de colocar pelo menos 15 mil servidores no Centrad, traria uma grande variedade de consumidores", estima. "Além disso, haveria uma valorização dos imóveis próximos, além de incentivar novos empreendimentos. Algumas construtoras, inclusive, estão esperando a resolução para construir prédios residenciais e comerciais", ressalta.
Para o presidente da associação, além de ajudar os comerciantes que já existem, o complexo poderia gerar, no mínimo, cerca de 2 mil novos empregos, pois outros empreendimentos seriam incentivados a se instalarem nas proximidades. Mesmo assim, Justo Magalhães tem um receio. "A nossa expectativa é de que o Centrad seja aberto daqui a, pelo menos, dois anos. O único medo é que, nesse período, o complexo não tenha mais utilidade, pois a tendência é que tudo seja resolvido de forma on-line, ou seja, não haveria a necessidade de alocar tantos funcionários nos prédios do complexo", comenta.
Estimativas
Além da melhora econômica, o doutor em transportes Artur Morais ressalta que a possível ocupação do Centrad, vai ajudar no trânsito do DF. "O complexo deve abrigar aqueles que estão nas secretarias que ficam concentradas no anexo do Palácio do Buriti e por alguns prédios que são alugados, no Plano Piloto. Desta forma, quem mora no lado Sul, não vai precisar se deslocar para o centro da cidade", pontua. "Eles não estarão sujeitos a esses engarrafamentos que a gente vê, todos os dias, na EPIA, na EPNB, na EPTG e na Estrutural, por exemplo. Isso vale tanto para o período da manhã quanto para o período da tarde", acrescenta.
O especialista coloca o transporte público como outro fator relevante. "Existe uma estação do metrô próxima ao complexo, além de estar sempre no contra fluxo que ocorre nos horários de pico", afirma. "Só que, para saber, realmente, o que isso vai impactar nesse fluxo para o Plano Piloto, precisamos saber qual é a quantidade de servidores que vão estar alocados no Centrad", pondera. "Até porque, quem mora na região Norte, como Sobradinho e Planaltina, vão ter que fazer um percurso maior para chegar em Taguatinga, além de manter os problemas de engarrafamentos, tanto na ida quanto na volta", argumenta Morais.
Apesar de elogiar objetivo de descentralização dos serviços públicos do GDF, fazendo com que eles fiquem mais acessíveis para a maioria da população, o professor titular de urbanismo e planejamento urbano da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Brasília (FAU/UnB), Benny Schvarsberg, classifica a implantação do projeto como "truncada e irresponsável". "Não foram feitos estudos de impacto, por parte daquele grande equipamento, no trânsito e na vizinhança", critica o professor.
Para dar um jeito na ociosidade do Centrad, o urbanista afirma que existem diversas proposições e alternativas. "Diria que, uma delas, é instalar um serviço de atendimento público, como por exemplo, o Na Hora", comenta. "Outra solução é a implantação de cursos que a Universidade do Distrito Federal oferece e oferecerá, no futuro", acrescenta Schvarsberg.
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Plano de ocupação
Ao Correio, o chefe da Assessoria de Projetos Especiais do Gabinete do Governador, Marcelo Lavocat Galvão, disse que a ideia é que haja a ocupação do Centrad. "Mas, para isso, é preciso terminar o que está sendo feito. Estamos na fase de projetos e licitações de obras internas e externas, que vão encerrar todos os serviços necessários", afirmou, ressaltando que faltam 5% para a conclusão de toda a obra.
De acordo com Galvão, haviam algumas partes do complexo que não estavam concluídas, como o setor de restaurante. "Também precisamos de obras viárias, como a criação de um viaduto em frente ao complexo, para evitar a interferência no fluxo de veículos da região", ressaltou. "A ideia é que esses projetos, tanto o interno quanto o externo, estejam encerrados até o fim de 2023 e, a partir do ano que vem, a gente comece as obras. Porém, não temos a condição de definir um prazo específico", afirmou.
Sobre o plano de ocupação, o chefe da Assessoria de Projetos Especiais do Gabinete do Governador comentou que a ideia é fazê-lo por partes. "No começo, órgãos de apoio à população devem ser instalados. Mas também recebemos manifestação de interesse por parte da Universidade do Distrito Federal (UnDF) e da Polícia Militar (PMDF)", revelou Marcelo Galvão.