Com o fim de ano chegando, os brasilienses começam a se preparar para as viagens de férias. Uma grande dúvida é quanto a maneira de se deslocar: avião, carro ou ônibus? Qual meio de transporte compensa mais, financeiramente? O Correio utilizou quatro dos principais destinos para o período festivo como base (Fortaleza, Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo), partindo do Distrito Federal, e pesquisou, em 24 de novembro, quais seriam os gastos com combustível e passagens (veja o infográfico). A distância é somente entre uma cidade e outra, não conta o valor total percorrido.
Para uma pessoa que esteja viajando sozinha, por exemplo, o levantamento mostrou que vale mais a pena ir de carro do que de avião para o Rio de Janeiro ou Salvador — os cálculos dos gastos com combustível são para ida e volta. O mesmo não vale para Fortaleza e São Paulo, destinos que compensam o bilhete aéreo. O coordenador de graduação em economia, gestão pública e financeira do Centro Universitário Iesb, Riezo Silva, ressalta que a decisão de viajar de carro, ônibus ou avião está relacionada às prioridades financeiras e ao custo benefício de cada opção. "É como equilibrar a compra de roupas de marca com a necessidade de economizar para a educação dos filhos", compara.
O especialista analisou o levantamento feito pela reportagem e afirmou que os dados de consumo de combustível e o preço médio da gasolina podem ser um atrativo para optar pelo carro. "Mas é importante avaliar os custos a longo prazo ao escolher esta viagem, levando em conta a manutenção periódicas do veículo, como troca de pneus, entre outros", pondera. "O avião oferece a opção mais rápida para distâncias longas, economizando tempo precioso, especialmente durante as festas de fim de ano", analisa.
Para o professor, a opção do ônibus tem um papel fundamental na mobilidade urbana, principalmente no transporte sustentável e coletivo. "Enfatizando que, além do custo mais baixo, essa opção contribui para a redução do tráfego nas estradas e impactos ambientais", avaliou.
Economista, sociólogo e professor de mercado financeiro da Universidade de Brasília (UnB), César Bergo afirma que o planejamento é primordial na hora de definir qual é o melhor meio de transporte. "Temos que observar algumas questões importantes como, a quantidade de pessoas, a distância, o tempo disponível, o conforto e a comodidade", detalha.
"É preciso ver se é uma viagem individual ou familiar. Isso tem um peso fundamental na escolha do transporte. A distância a ser percorrida também conta, porque tem que considerar as condições da estrada, o tempo que você vai perder e, muitas vezes, em uma viagem de carro ou de ônibus, existem muitas paradas e gastos extras, como comida e possíveis pedágios", ressaltou. "O tempo disponível também pesa. Muitas vezes, uma pessoa tem uma semana para viajar, enquanto outra tem um mês. Isso também pesa na escolha", reforça.
O economista também salienta que, ao ir de avião, apesar de não ter o custo de manutenção do carro, existe um limite de bagagens e, caso ele seja ultrapassado, vai pesar muito no bolso. "Com relação ao automóvel, quanto mais pessoas viajarem, o preço por pessoa vai ficar mais barato. Então, pode ser economicamente mais vantajoso", calculou. "Só tem que levar em consideração a distância e os possíveis gastos extras com hospedagem durante o caminho", alerta o professor.
"O conselho é que, ao ponderar sobre o meio de transporte para a viagem de fim de ano, os brasilienses devem considerar seu custo imediato e o possível endividamento, pois não há só os custos do transporte para chegar no destino tão sonhado", alertou Riezo Silva. "A escolha entre carro, avião e ônibus é uma decisão que reflete gastos que talvez não foram planejados, influenciados por fatores econômicos, preferências e prioridades individuais", conclui.
Preços salgados
A consultora Beatriz Lopes, 38 anos, sempre faz pesquisas antes de comprar a passagem para visitar a família no Vale do Jequitinhonha, interior de Minas Gerais. "Todos os anos, faço a viagem para Belo Horizonte e depois para lá. Normalmente, saio daqui em 22 de dezembro, então pesquiso preços de passagens áreas ou de ônibus — sempre com antecipação, para pegar um bom preço", ressaltou. "Na hora de me planejar, o tempo de viagem conta muito, mas viajar de avião está ficando muito caro, só vale a pena quando tem alguma promoção", lamentou.
Por isso, a moradora de Águas Claras tem dado preferência ao ônibus, pela questão financeira. "Este ano, por exemplo, só a ida para BH estava custando em torno de R$ 1.300 de avião, enquanto de ônibus consegui pegar algumas promoções e paguei R$ 370", calculou. A Rodoviária Interestadual de Brasília deve ter um aumento na quantidade de embarques nos dois últimos meses do ano, em relação a 2022 — 15% em novembro e 20% em dezembro. A Inframerica está recebendo informações das companhias áreas e, por isso, ainda não divulgou a estimativa do movimento no Aeroporto de Brasília para este fim de ano. "Avião mesmo, só se tiver uma super promoção. Mas, por enquanto, ainda não está valendo a pena", complementou Beatriz.
E foi justamente o preço salgado das passagens aéreas que impediu o casal de analistas de sistemas Bruno Candido, 46, e Neliany Medeiros, 47, de passarem o Réveillon em Florianópolis. "Estávamos pensando em passar a virada do ano lá, a convite de amigos. Tínhamos até onde ficar, seria apenas comprar as passagens", comentou Neliany. "Mesmo assim, ficou inviável, por conta dos altos preços. Durante as pesquisas, vimos que estava mais barato ir para o exterior do que para lá", detalhou.
Esta seria a primeira vez que os moradores do Guará fariam uma viagem mais longa no fim de ano. "A gente costuma ir para locais mais próximos, como Pirenópolis", contou Neliany. Em relação ao planejamento, Candido destacou que o casal tem um combinado na hora de escolher se vão de carro ou avião. "Acima de 500km, não vamos de carro. Neste caso, a gente fica com o avião mesmo. Não cogitamos o ônibus, pela questão da agilidade e conforto", detalhou. "Tivemos algumas experiências, indo para o Rio de Janeiro de carro, por exemplo, e vimos que não dá. Estou velho para isso", brincou Bruno.
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Preferências
Embarcando rumo a Portugal, Graça Araújo, 67, também estava desapontada. Apesar de estar indo visitar um dos filhos, ela contou que o resto não terá a mesma oportunidade em 2023. "Estou indo sozinha justamente porque a passagem está muito cara. Me programei e fiz bastante pesquisas, mas não consegui encontrar um valor que desse para levar toda a família", lastimou a moradora do Lago Norte.
Ela disse que, quando faz esse tipo de viagem, pesquisa bastante antes de comprar. "É sempre para ir de avião. Para mim, ir de carro ou ônibus não compensa, por conta do tempo e dos riscos que corremos no trânsito, além de gastos nas paradas com comida e hotel", reforçou.
"Mesmo optando somente pelo avião, faço todas as pesquisas de preço, procurando voos nos horários mais baratos", garantiu. "É preciso fazer isso mesmo. No comércio, por exemplo, quando você vê o preço de algo, pode ser que 20 metros a frente exista uma loja com o preço mais em conta. O mesmo funciona no caso das passagens", concluiu Graça.
Nalvaguiar Rodrigues, 45, viaja pelo menos uma vez por ano até Santa Luzia do Paruá, no Maranhão. As idas até sua cidade natal sempre são feitas de carro próprio, pois, segundo ela, comprar passagens de avião ou de ônibus fica caro. "Quando não tínhamos carro, costumávamos ir de ônibus. Agora a família aumentou e fica muito mais caro. Comprar quatro passagens, de ida e volta, pesa no bolso. Outra coisa importante é a nossa privacidade", explicou.
A empresária também colocou o deslocamento da cidade como um diferencial. "Quando vou para o Nordeste, costumo visitar muitos parentes, e o carro próprio me possibilita isso, imagina ficar pegando ônibus para ir na casa de cada um deles?", descreveu. A moradora do Itapoã contou que, ao retornar para o DF, soma mais de 8 mil km percorrido. "Por isso, descarto qualquer outra opção de viagem", pontuou.
Colaborou Luis Fellype Rodrigues*
*Estagiário sob a supervisão de Suzano Almeida