Já passava das 18h de sexta-feira, quando Ana Rosa de Albuquerque, de 72 anos, preocupada porque a filha, Júlia, não chegava em casa e nem atendia o telefone, ligou para uma amiga de Júlia em Taguatinga, de onde Júlia seguiria para o Plano Piloto. Sem resposta, continuou aflita, até que, pela imprensa, recebeu a pior notícia de sua vida.
Sua filha, Júlia de Albuquerque Violato, de 37 anos, morreu no choque entre o ônibus da viação Marechal e o trem de carga, no Setor de Indústria, no DF. Ao Correio, ela contou que, em nenhum momento, recebeu qualquer assistência, seja do Governo do Distrito Federal, seja da empresa de ônibus.
“Não foi um acidente e sim uma sucessão de erros e negligência”, diz a mãe de Júlia, que já constituiu advogado para processar o GDF, a empresa de ônibus e o motorista. “Só vou sossegar a hora em que estiverem todos na cadeia”, diz,
Ana Rosa lista vários pontos de descaso que contribuíram para a tragédia. Primeiro, o fato de a via em que o ônibus trafegava não ter cancela com avisos — dessas que o leitor certamente já viu nos filmes — para obrigar todos os carros a pararem quando os trens se aproximam do cruzamento.
Segundo, a companhia de transporte, que não treina os motoristas para essas passagens e mantém em seus quadros quem infrações de trânsito. Terceiro, o motorista, ao perceber que seu veículo era grande, não ter parado antes da linha férrea e esperado para fazer a travessia. “O GDF fez a obra sem se preocupar com a segurança e a empresa não estava nem aí para isso”, diz.
Ao Correio, Ana Rosa contou que, no fim da tarde de sexta-feira (17/11), recebeu um telefonema da Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal para confirmar seu endereço. Mas até meio-dia deste sábado (18/11), quando Ana Rosa conversou com o Correio, ninguém havia lhe procurado. Nem do GDF, nem da empresa Marechal, responsável pelo ônibus.
“A sorte é que eu tenho uma família que me apoia e me acolheu. A dor é a maior da minha vida. Minha filha era minha luz, minha proteção, minha alegria”, conta.
Com uma tristeza que não há força no mundo capaz de dissipar, Ana Rosa vai esperar o laudo da perícia para entrar com uma ação contra todos os que forem responsáveis. “Quem deixou que as coisas chegassem a esse desfecho deve ir para a cadeia, para que sirva de exemplo”, disse ao Correio.
O que dizem as partes
Ao Correio, o GDF não comentou a fala da mãe de Júlia sobre a intenção de processar o governo. No entanto, reforçou as informações publicadas em nota na noite de sexta.
"O trecho em que ocorreu o acidente, onde há sinalização, será investigado para que sejam apuradas as responsabilidades. A Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) tem feito periódicas inspeções técnicas em todas as passagens na linha férrea do Distrito Federal. A mais recente delas foi em 11 de julho. O GDF está colocando toda sua estrutura a disposição das vítimas e seus familiares para oferecer o que for necessário neste momento de dor", pontuou o governo.
O Departamento de Trânsito do Distrito Federal (Detran-DF) informou "que a sinalização de cruzamento rodoferroviário é de responsabilidade da concessionária. Por isso, não instala cancelas e ou semáforos nesses locais".
"Vale ressaltar que há sinalização na via, indicando aos condutores que tenham prudência, observando e ouvindo a passagem de trens, conforme previsão no Código de Trânsito Brasileiro", diz a nota enviada ao Correio.
Ao Correio, a Marechal informou que lamenta "profundamente o acidente" e que "nossos assistentes sociais e psicólogos estão comprometidos em acompanhar de perto o caso, assegurando toda a assistência necessária às vítimas e seus familiares".
"Os rodoviários passam por treinamentos regulares, abrangendo diversos aspectos essenciais para a segurança e o bem-estar dos passageiros. Estes treinamentos incluem direção defensiva, relações humanas, primeiros socorros, e outros temas relevantes", acrescentou a empresa.
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