VIOLÊNCIA

PM quebra braço de aluno com espectro autista em escola do Guará

Terceiro sargento da PMDF e professor temporário da SEE-DF, Renato Caldas Paranã, 41 anos, é suspeito de lesionar, ao fazer uma imobilização, um aluno com transtorno do espectro autista que estava em crise, em uma escola especial

Estudante foi levado ao Hospital de Base, onde passou por cirurgia. Na foto, raio-X mostra lesão
 -  (crédito: Material cedido ao Correio )
Estudante foi levado ao Hospital de Base, onde passou por cirurgia. Na foto, raio-X mostra lesão - (crédito: Material cedido ao Correio )
postado em 15/11/2023 10:42 / atualizado em 15/11/2023 10:42

Um aluno de 15 anos teve o braço quebrado por um professor temporário e policial militar, apontado como Renato Caldas Paranã, de 41 anos. O caso ocorreu no Centro de Ensino Especial 1 do Guará, em 7 de novembro. O menino é portador do transtorno do espectro autista (TEA), e a fratura teria ocorrido durante um momento de crise do estudante. 

Angélica Rego Soriano, mãe do menino, conta que o professor, ao invés de tentar acalmar o aluno, imobilizou o braço dele. "A vice-diretora disse que pediu para que o Renato soltasse o braço dele (o filho), e ele não soltava, e quando ela saiu para chamar a psicóloga,  escutou um grito. Quando voltou meu filho já estava no chão e com o braço quebrado, e o Renato não prestou socorro", relata a mãe.

Angelica afirma que o menino não é uma criança agressiva, mas ultimamente apresentava um comportamento diferente. "Tinha algo diferente, ele estava resistente às coisas em casa e toda terça-feira ele não queria ir à escola, que é o dia que esse professor ficava na sala de informática", conta.  

Depois do ocorrido, o estudante foi levado ao Hospital de Base, onde passou por cirurgia para colocação de pinos de titânio no braço. Angélica relata que, ao chegar na unidade de saúde, o menino estava em estado de pânico e foi sedado. "Ele não podia ver uma figura masculina que ele gritava, esperneava, segurava minha mão e ficava com muito medo", disse. O menino recebeu alta em 10 de novembro e segue sob os cuidados da mãe. 

O professor 

Renato foi aprovado e classificado em terceiro lugar no processo seletivo simplificado para a contratação de professores temporários, em 2022. O policial começou a lecionar como professor de contrato temporário na escola em agosto deste ano, segundo o Portal da Transparência do Governo do Distrito Federal, e recebeu o primeiro salário como docente em setembro. O sargento da PMDF substituía uma professora de informática, que está afastada.

Ainda de acordo com o Portal da Transparência, como servidor da PMDF, Renato recebeu o salário líquido de terceiro sargento de R$ 10.860,94, em setembro. E no mesmo mês recebeu R$ 4.769,84 líquido como professor temporário da SEE-DF. Ao Correio, a PMDF confirmou que o membro da corporação poderia trabalhar em mais de um órgão público, de acordo com a Emenda Constitucional 101, que permitiu aos militares do DF direito acumularem cargos públicos.

Após o caso, a família registrou boletim de ocorrência na 4ª Delegacia de Polícia, no Guará, que está à frente das diligências. Procurado pela reportagem, o advogado Marcelo Almeida, que representa o policial, disse que está aguardando as investigações e que todos os envolvidos sejam ouvidos, para que os fatos possam se esclarecidos.

Afastado 

Em nota, a Secretaria de Educação do DF (SEE-DF) informou que, por meio da Coordenação Regional de Ensino do Guará, a direção realizou o primeiro acolhimento e imediatamente o Corpo de Bombeiros foi acionado, o qual prestou atendimentos ao estudante. Em seguida, o aluno foi encaminhado para o hospital, sendo acompanhado pela diretora, pela professora e pela avó.

"A Pasta informa que o professor foi imediatamente afastado e o caso já está sendo apurado pela Polícia Civil e pela Corregedoria da SEEDF, que tomará todas as medidas cabíveis, conforme determina a Lei Complementar nº 840/2011. A SEEDF reforça que repudia qualquer ato de violência e prestará todo auxílio necessário ao estudante", disse a nota.

Procurada pela reportagem, a PMDF afirmou que o caso de tratou se um acidente e que o professor foi chamado para ajudar na contenção de um aluno, portador do Transtorno do Espectro Autista (TEA nível 3 não-verbal) que estava em crise nervosa, agredindo outros alunos e funcionários. "Durante o atendimento, o aluno teve uma segunda crise nervosa, desequilibrou-se e caiu. Durante a queda, seu braço estava preso ao braço do professor e veio a fraturar. De imediato, o professor envolvido realizou os primeiros-socorros e solicitou apoio do Corpo de Bombeiros", disse em nota a corporação. 

  • Estudante foi levado ao Hospital de Base, onde passou por cirurgia
    Estudante foi levado ao Hospital de Base, onde passou por cirurgia. Na foto, raio-X mostra lesão Foto: Material cedido ao Correio
  • Dê a sua opinião! O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores pelo e-mail sredat.df@dabr.com.br

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação
-->