Sistema financeiro

Aos parlamentares da CLDF, presidente do BRB explica pouco sobre operações

O presidente do Banco de Brasília, Paulo Henrique Costa, afirma que forneceu todos os esclarecimentos em reunião ontem na Câmara Legislativa (CLDF), mas parlamentares alegam que ainda há o que ser elucidado pela instituição

Na Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF), o presidente do Banco de Brasília (BRB), Paulo Henrique Costa, esteve por cinco horas em reunião com os deputados distritais -  (crédito:  Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)
Na Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF), o presidente do Banco de Brasília (BRB), Paulo Henrique Costa, esteve por cinco horas em reunião com os deputados distritais - (crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)
postado em 14/11/2023 07:12 / atualizado em 14/11/2023 11:51

O presidente do Banco de Brasília (BRB), Paulo Henrique Costa, compareceu à Câmara Legislativa (CLDF), ontem, para uma reunião sobre a situação financeira da instituição. O dirigente, por cinco horas, conversou com os distritais e apresentou balanços elaborados pelo banco, mas, na avaliação de parte dos parlamentares, não abriu muitos detalhes de operações em que o BRB está envolvido, como a parceria com o Flamengo e a venda de ativos para mostrar uma suposta performance financeira positiva da instituição.

A reunião ocorreu a portas fechadas, dentro da sala do plenário da Casa. Paulo Henrique mostrou os números de três balanços de 2023 divulgados pelo banco. O último deles, que saiu na semana passada, referente ao terceiro trimestre, indicou um lucro líquido de R$ 76,4 milhões. Ocorre que o valor revela que o BRB voltou a adotar a política de venda de carteiras de créditos consignados, como já havia feito no segundo trimestre — estratégia utilizada para alavancar resultados positivos.

Em 30 de agosto, o banco vendeu R$ 113,9 milhões em contratos de crédito consignado para a Byx Capital. Com a operação, auferiu um prêmio de R$ 21,3 milhões. Já em 29 de setembro, às vésperas de encerrar o terceiro trimestre, o banco fez uma nova transação do tipo. O negócio, mais volumoso, foi de R$ 533 milhões, em benefício da Facta Financeira — pela operação, o BRB contabilizou um prêmio de R$ 88,9 milhões.

Sem detalhes

O Correio apurou que, aos distritais, Paulo Henrique não entrou em detalhes sobre o que motivou as operações de ativos de boa qualidade do banco, e considerou os negócios como "comuns". Ele disse que vendas e compras de carteiras são "corriqueiras" — mesmo que tenha sido a tempo de entrar no balanço do trimestre seguinte para performar como positiva.

A parceria do BRB com o Flamengo, no âmbito da plataforma Nação BRBFla, teve perdas que somavam, em 30 de junho deste ano, R$ 455 milhões — à época, a carteira ativa totalizava R$ 433 milhões. Os números são sobre empréstimos concedidos e de inadimplentes de torcedores do clube carioca. Para os parlamentares, Paulo Henrique afirmou que, no geral, as finanças do BRB apontam para lucro de R$ 588 milhões com o clube da Gávea. No entanto, não explicou em qual período ocorreu, além do quadro atual em que o banco está envolvido. O dirigente também não entregou documentos.

Interlocutor entre o BRB e os distritais, o presidente da Câmara Legislativa, deputado Wellington Luiz (MDB), contou que, na avaliação dele, Costa respondeu a todas as perguntas. É esperado que o dirigente do banco compareça mais vezes à Casa. "Todos os deputados fizeram perguntas e colocações, além de sugestões. Na minha opinião, o presidente do BRB respondeu a todas (as perguntas) e tem apresentado encaminhamentos que serão importantes daqui para a frente. Eu avalio como uma reunião extremamente positiva", citou.

Já Paulo Henrique, após sair da reunião com os distritais, afirmou à imprensa que respondeu a todas as perguntas dos distritais, de maneira ampla e detalhada. O dirigente não entrou em detalhes sobre as operações do BRB. "Foi uma excelente oportunidade para apresentar os números e a evolução do BRB, além de se aproximar dos parlamentares, que é o papel desta Casa, acompanhar de perto. Todos os números e informações foram fornecidos", disse. "Tudo que a gente discutiu foi muito amplo, detalhado. Todas as perguntas foram respondidas. Combinamos de voltar periodicamente para que essa Casa possa acompanhar de perto os avanços do BRB", completou o dirigente.

Superendividados

As declarações do presidente ocorreram frente a um grupo de aposentados do banco, que queriam saber o porquê do não cumprimento da lei dos superendividados, em vigor desde abril deste ano. A Câmara chegou a promover uma audiência pública, no mês passado. Na ocasião, além de aposentados, servidores ativos utilizaram o púlpito para narrar situações humilhantes que estavam enfrentando devido a cobranças abusivas feitas pelo BRB. Na reunião, o dirigente afirmou que busca soluções sobre anistia e desconto de juros dessas dívidas.

Informações

Para a presidente da Comissão de Fiscalização, Transparência e Controle, deputada Paula Belmonte (Cidadania), há temas que ainda carecem de mais esclarecimentos por parte do banco.

O deputado Gabriel Magno (PT) considerou a presença do dirigente positiva, apesar de pouco explicar sobre as operações do banco. Para o petista, que já solicitou o compartilhamento de cópias de processos que citam a parceria entre o Flamengo e o banco no Tribunal de Contas (TCDF), os números apresentados mostram uma dependência muito forte do banco com seus parceiros privados. "Na minha concepção, o valor que ele citou de lucro (R$ 588 milhões) é derivado de uma série de operações, que podem ser mensuradas de diversas perspectivas, como o retorno da publicidade com o clube carioca. Numa quebra da parceria, mesmo que seja de forma unilateral, o banco fica bem vulnerável", explica.

"É o primeiro encontro nosso com o Paulo Henrique, e muitos assuntos ficaram pendentes. Uma das nossas preocupações é sobre os ativos do banco, que são bastante ligados a parcerias privadas, como o próprio Flamengo e a Genial Investimentos. Essa mesma empresa é ligada a várias investigações da Polícia Civil do Estado de São Paulo (PCSP) e de operações da Polícia Federal", completou o petista.

Novas audiências

Nos próximos dias, o dirigente do BRB deverá estar novamente com parlamentares, separadamente, para explicar sobre a situação da instituição financeira. Paulo Henrique também irá em uma audiência na Comissão de Fiscalização, Transparência e Controle. Não há confirmação de datas.

 


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