Solidariedade

Vítima da poliomielite faz vaquinha para pagar cirurgia e não parar de andar

Com paralisia na perna direita, Leila Repolho, 51 anos, está com desgaste do joelho esquerdo e corre o risco de ficar sem andar

Além do medo de perder o movimento da segunda perna, Leila teme perder toda a qualidade de vida que conquistou. -  (crédito: Material cedido ao Correio)
Além do medo de perder o movimento da segunda perna, Leila teme perder toda a qualidade de vida que conquistou. - (crédito: Material cedido ao Correio)
postado em 09/11/2023 00:59 / atualizado em 09/11/2023 01:00

Leila Repolho Silva, uma mulher de 51 anos, natural de Santarém, no Pará, enfrenta desde a infância as dificuldades impostas pelas sequelas da poliomielite. Com ajuda das muletas, ela embarca no transporte público e percorre sozinha o Distrito Federal para ir ao centro de reabilitação, a terapia e até mesmo para praticar esportes. No entanto, um agravamento recente na saúde pode fazer com que ela não consiga mais andar, e a única esperança é uma cirurgia — que ela não tem condições financeiras de pagar

A poliomielite, comumente chamada de pólio ou paralisia infantil, é uma doença altamente contagiosa causada pelo poliovírus selvagem que, segundo a Fiocruz, pode "infectar crianças e adultos por meio do contato direto com fezes ou com secreções eliminadas pela boca das pessoas doentes". O principal meio de prevenção é a vacina, aplicada na infância, antes dos 5 anos de idade. O Brasil está livre da poliomielite desde 1990, e quatro anos depois, em 1994, recebeu a Certificação de Área Livre de Circulação do Poliovírus Selvagem da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas).

No entanto, o país enfrentou diversos surtos da doença no século passado. Nascida na década de 1970, Leila apresentou paralisia na perna direita desde criança, mas com pouco acesso à saúde pública na cidade onde nasceu, só descobriu aos 15 anos, quando mudou-se para Brasília, o diagnóstico da poliomielite. A doença causou paralisia permanente no membro inferior direito — sintoma que acarreta cerca de 10% das pessoas infectadas com a doença. 

Leila conta que a paralisia não a impediu de lutar por uma vida melhor. "Trabalho desde os 15 anos, tive uma adolescência já trabalhando, correndo atrás de tudo. Por não ter família aqui em Brasília, tinha que me sustentar, bancar minhas despesas, meu aluguel", conta.

Com as muletas e um tutor ortopédico na perna direita, Leila usa o transporte público para percorrer a cidade e anda muito a pé. Mas o esforço constante acabou trazendo uma piora no quadro de saúde. "Devido ao desgaste do lado direito do meu corpo, passei a botar todo peso no lado esquerdo. Com isso, há um ano, comecei a sentir fortes dores”, conta Leila. Confira um trecho da rotina de Leila:

Há três meses, ela foi diagnosticada com um grave desgaste no joelho esquerdo. Com problemas nas duas pernas, Leila pode ficar sem andar. Por falta de recursos financeiros — a única renda dela é da aposentadoria por invalidez do INSS —, ela não tem condições de arcar com a cirurgia e teme parar em uma cadeira de rodas. "Eu só tenho um desgaste no joelho (esquerdo), se eu conseguir operar o joelho, se eu conseguir fazer essa cirurgia, eu posso ficar mais dez anos bem, sem usar cadeira de rodas, ando usando só de muletas”, conta Leila.

Além do medo de perder o movimento da segunda perna, Leila teme perder toda a qualidade de vida que conquistou. "Decidi lançar a vaquinha on-line porque não tenho condições sozinha", explica. 

A polio não pode voltar!

O Brasil enfrenta uma queda na cobertura vacinal da poliomielite, o que gera preocupação entre profissionais da saúde, que veem riscos da doença voltar e, por isso, enfatizam a importância da imunização.

A eliminação da poliomielite no Brasil demandou intensa mobilização de recursos institucionais, tecnológicos e sociais. Especialistas frisam que, com a criação do Sistema único de Saúde (SUS) em 1988, passou a vigorar uma política de vacinação mais sistemática. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que 20 milhões de pessoas que hoje podem andar estariam paralisadas se não houvesse as vacinas.

No entanto, desde 2015, o número de crianças imunizadas apresenta redução. No ano passado, a cobertura contra a pólio no Brasil atingiu 65,6% do público alvo, longe do objetivo de imunizar, pelo menos, 95% das crianças na faixa etária de 1 a 5 anos de idade. 

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