O delegado-geral da Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF), José Werick de Carvalho, e outros três policiais da corporação, prestarão depoimento nesta quinta-feira (9/11), no Núcleo de Investigação e Controle Externo da Atividade Policial (NCap), do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT). O caso faz parte da investigação do MP contra o ex-chefe da PCDF Robson Cândido e do delegado Thiago Peralva, suspeitos de utilizar clandestinamente um sistema de monitoramento para vigiar uma mulher.
É esperado que José Werick preste depoimento na sede do MP. Além dele, foi intimado a depor o diretor do Departamento de Polícia Especializada (DPE), Victor Dan.
Conforme o Correio revelou, a denúncia de uso clandestino do sistema de monitoramento de suspeitos de crimes chegou às mãos dos promotores por meio de e-mails apócrifos. As informações posteriormente foram confirmadas pela própria Polícia Civil. Dois agentes também foram intimados e são esperados nesta quinta no âmbito da investigação conduzida pelo MP.
A reportagem do Correio apurou que a ida de Dan também tem como objetivo desvendar o motivo de ele ter aparecido na Delegacia Especial de Atendimento à Mulher (Deam) da Asa Sul, quando a esposa e a ex-namorada de Cândido registraram boletim de ocorrência. Para evitar desgaste por estar envolvido em stalking e violência, o ex-delegado-chefe pediu exoneração do cargo no dia seguinte.
Como parte das diligências dos promotores, a Justiça mandou prender Cândido, que está detido na carceragem da PCDF, enquanto Peralva foi afastado da delegacia que chefiava, a 19ª DP (Setor P Norte), e atualmente usa tornozeleira eletrônica como medida cautelar. Em nota, a PCDF informou que a atual gestão está “à disposição para prestar esclarecimentos do fato apurado”.
Investigação
Cândido foi preso na manhã de sábado (4/11). A prisão preventiva foi realizada a pedido dos promotores do Núcleo de Investigação e Controle Externo da Atividade Policial (NCap), com o apoio do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (GAECO) e do Centro de Inteligência (CI) do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT).
Antes poderoso diretor da Polícia Civil, reconduzido no segundo mandato do governador Ibaneis Rocha (MDB), Robson Cândido envolveu-se em um escândalo pessoal com uso da estrutura da Polícia Judiciária em uma denúncia de perseguição e violência contra a mulher. Em meio a uma política de redução de casos de agressões de gênero, o chefe da Polícia Civil viveu durante meses um conturbado relacionamento em que é acusado de agressões físicas e psicológicas.
Dessa forma, as ligações telefônicas da namorada do delegado-geral eram monitoradas como se ela fosse uma criminosa ou interlocutora de traficantes. O objetivo era ter acesso a todos os passos da jovem de 25 anos. A vítima descreveu Robson como extremamente ciumento e possessivo.
De acordo com o depoimento da vítima, Robson aparecia nos lugares em que ela estava, a seguia e a abordava. Conforme a apuração do Ministério Público, os delegados utilizaram a estrutura da própria Polícia Civil, como viaturas descaracterizadas, celulares corporativos e carros oficiais, com o propósito de monitorá-la.
Além da prisão do ex-delegado-geral, decretada pelo Juizado de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher de Águas Claras, os promotores cumpriram dois mandados de busca e apreensão. Um dos alvos é a 19ª Delegacia de Polícia, de Ceilândia, cujo delegado-chefe, Thiago Peralva Barbirato, seria o responsável por inserir no sistema o prefixo telefônico da vítima. Os promotores de Justiça também cumpriram mandado de busca e apreensão na casa de Peralva, em Águas Claras. O delegado, que passou no último concurso, é considerado novato e da extrema confiança de Robson Cândido.
Saiba Mais
Operação Vigia
De acordo com as apurações, os delegados investigados promoveram de forma clandestina e criminosa a interceptação no sistema VIGIA para praticarem stalking (perseguição) e a violência psicológica com a vítima. Tudo começou quando a namorada de Robson Cândido procurou a Delegacia Especial de Atendimento à Mulher (Deam) e denunciou que estava sendo perseguida pelo então delegado-geral. Na época, a mulher de Robson também registrou ocorrência.
Na operação, foram colhidos elementos que apontam para a existência dos crimes de interceptação telefônica ilegal, corrupção passiva, violação de sigilo funcional, invasão de dispositivo de informática e descumprimento de medida protetiva de urgência.
O juiz Frederico Ernesto Cardoso Maciel, do Juizado de Violência Doméstica e Familiar Contra a Mulher de Águas Claras, determinou o afastamento imediato do delegado Thiago Peralva Barbirato. O policial também terá de usar tornozeleira eletrônica.
O Ministério Público pediu a prisão preventiva de Thiago Peralva, mas a Justiça optou por decretar uma série de medidas restritivas. Ele está proibido de entrar em contato com a vítima e com testemunhas do processo de violência doméstica, por qualquer meio de comunicação. Também há restrição de contato de Peralva com qualquer servidor, estagiário, detentor de cargo comissionado, policial ou delegado lotado na 19ª DP ou com qualquer servidor ou promotor do Gaeco e do NCap.
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