No quinto episódio do podcast Conversa com o Zé, o jornalista José Carlos Vieira recebeu Fernando César, instrumentista e professor de violão, e o filho, o bandolinista Bento Tibúrcio. Ambos destacaram a importância do ensino de música nas escolas públicas do DF, além do estilo único que tem o choro de Brasília.
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Em um dos momentos altos da conversa, o jornalista abordou sobre a importância do choro para a cena musical brasiliense e sobre a necessidade de preservação do gênero. O músico respondeu que uma maneira de se perpetuar ainda mais o choro seria o levando a música para dentro das escolas. "Infelizmente, nas escolas públicas, são poucas a crianças que têm contato com a arte de modo geral, principalmente com a música instrumental popular brasileira", disse César.
O instrumentista contou que, ao longo dos anos, tem feito alguns projetos para levar o choro para dentro da rede pública de ensino. Ele está montando uma cartilha para entregar para as crianças, com QR Code que leva a um vídeo no YouTube, no qual é contada a história do choro e são apresentados os instrumentos musicais e uma playlist.
Fernando defendeu a criação de uma linha de financiamento junto à Secretária de Cultura para divulgar a arte dentro das salas de aula de Brasília. "Não basta só a escola regular, com conteúdo para concursos. Eu acho que é preciso formar um ser humano, e a música e a arte são fundamentais para essa formação" concluiu.
Para José Carlos, o fomento da música dentro das escola poderia valorizar jovens talentos que existem na capital. Para ele, Brasília tem vocação para cultural forte. "Aqui a gente tem um produto muito bom, que é a música, instrumental brasiliense e tem em um espaço arquitetônico perfeito para esse tipo de ambiente cultural", comentou o jornalista.
Choro e Brasília
Zé perguntou a Fernando sobre o fato de ele ter crescido ouvindo que o choro iria acabar e, por quais motivos, o estilo continua vivo. "O choro é essência da nossa música popular, e aqui em Brasília tem uma força impressionante pois ajuda a levar o gênero para o Brasil inteiro", respondeu Fernando.
O jornalista questionou sobre a diferença do choro de Brasília com as demais regiões do país. Fernando dise que acredita que vem da ousadia herdada de outro gênero musical que denominou a cidade como capital do Rock. "Eu falo muito que isso deve ao sotaque do choro de Brasília. E esse sotaque herdado do rock foi feito aqui na década de 80, e nesse período de tantas bandas, eu acho que essa ousadia do roqueiro a gente conseguiu incorporar e levar para o choro, que se tornou o choro de Brasília", comentou.
Ao Bento Tibúrcio, de 16 anos, Zé relembrou a vinda do jovem músico ao jornal, em 2017, quando havia aprendido a tocar baixo, e perguntou sobre a atual relação com o instrumento. "Eu sempre gostei de baixo desde de criança, mas sempre toquei bandolim e cavaquinho. Só depois eu consegui um contrabaixo e comecei a tocar, ainda toco, mas agora estou estudando o bandolim", conta.
Com as responsabilidades que envolvem a adolescência, o jornalista perguntou como Bento faz para conciliar os estudos do bandolim com a escola e os deveres diários. "Tem alguns alguns compromissos da música que, às vezes, eu preciso faltar um dia de aula. Aí eu vou recuperando as tarefas à noite, mas eu sempre vou bem na escola," relata Tibúrcio.
José Carlos homenageou o pai de Fernando, Américo, funcionário da reserva da marinha, que faleceu no ano passado, que deixou um legado na carreira do músico. "Ele teve uma família musical, o avô dele era um seresteiro, o pai tocava trompete, o irmão saxofone, e ele tocou a vida inteira. Ele nunca foi um profissional da música, mas a música sempre teve junto a ele." disse Fernando.
O instrumentista recordou que o primeiro contato com um instrumento musical ocorreu aqui em Brasília, na década de 80, quando a família veio do Rio de Janeiro. "Meu pai comprou o cavaquinho. Os discos que tocavam em casa eram de choro e, por conta disso, a gente começou a se interessar pelo instrumento musical e a tocar", relatou.