Segurança pública

Número de tentativas de homicídio aumenta 11,5% no DF

Os números subiram de 425 para 474, até setembro deste ano, na comparação com o mesmo período de 2022. A banalização da violência como forma de resolução de conflitos é uma das explicações, segundo especialistas

Violência -  (crédito: Gordon Johnson/Pixabay)
Violência - (crédito: Gordon Johnson/Pixabay)
postado em 01/11/2023 06:00 / atualizado em 01/11/2023 12:06

As tentativas de homicídios tiveram aumento no Distrito Federal. Números da Secretaria de Segurança Pública (SSP-DF) mostram que, até setembro deste ano, foram registrados 474 casos, o que representa um aumento de 11,5% em relação ao mesmo período de 2022, em que foram contabilizadas 425 ocorrências. Os dados apontam que, em 2023, houve uma média de 52 tentativas de assassinatos por mês. Em contrapartida, na mesma comparação, o número de homicídios diminuiu em 10%, passando de 208 para 187 (menor quantidade em 24 anos, de acordo com a secretaria).

Segundo o levantamento da pasta de segurança, Ceilândia é a região administrativa com mais tentativas de homicídios. Somente este ano, foram 61 casos, números que superam os 58 do mesmo período de 2022. Na análise da incidência do crime por 100 mil habitantes, feita pelo Correio, a cidade cai para a quarta colocação, com 17,4. O primeiro lugar fica com o Recanto das Emas, que tem 25,4 assassinatos tentados a cada 100 mil moradores (confira o infográfico).

Especialista em segurança pública e professor de direito do Ceub, Antônio Suxberger destaca duas razões para o crescimento desse tipo de violência. "A primeira se refere ao incremento dos números da população em situação de rua que, frequentemente, apresenta quadro de vulnerabilidade decorrente de dependência química (droga) ou uso abusivo de álcool", comenta. "Isso leva a casos de conflituosidade nessa população que, infelizmente, se tornam situações de violência, e acabam proporcionando os homicídios tentados trazidos pela SSP", avalia Suxberger.

A outra hipótese, de acordo com o especialista, refere-se ao aumento indiscriminado de armas de fogo em circulação no DF — de janeiro a 18 de outubro, a Polícia Militar (PMDF) apreendeu 1.438 armamentos ilegais, número 11,3% maior do que o registrado no mesmo período do ano passado (1.292). "Isso é consequência da política recente de afrouxamento das regras de acesso a essas armas e, em episódios de violência, a aquisição facilitada a instrumentos de maior potencialidade lesiva implica incremento de casos de homicídio tentado", observa o professor do Ceub.

CID-2910-violencia
CID-2910-violencia (foto: Maurenilson Freire)

Banalização

Pesquisador em segurança pública da Universidade de Brasília (UnB), Welliton Caixeta destaca que o aumento dos registros de tentativas de homicídio no DF também está ligado com a banalização da violência como forma de resolução de conflitos. "Ele é potencializado pela flexibilização do acesso às armas de fogo por parte da população nos anos anteriores, mas também com problemas estruturais da realidade local, marcada por uma violenta desigualdade social", ressalta.

O especialista pondera que tais fatores não conseguem explicar a totalidade dos casos. "Quando os observamos de maneira contextualizada e em perspectiva relacional, verificamos que esse tipo de criminalidade possui relação com a prática de outros crimes, como a criminalidade organizada e o tráfico de drogas", avalia. Caixeta aponta que a utilização das armas brancas é outro aspecto percebido na recorrência desses crimes, mas faz um elogio às forças de segurança. "No DF, o aumento de registros de tentativa de homicídio pode ser explicado ainda pela eficiência das forças de segurança em frustrar a consumação do crime de homicídio, em alguns casos", argumenta.

Questionada, a Secretaria de Segurança Pública do DF afirma não ter um recorte sobre os tipos de armas utilizadas nesses crimes, mas a reportagem levantou que, em pelo menos quatro das tentativas de homicídio mais recentes, a arma utilizada pelo autor era uma faca (leia Memória).

Para trazer um sentimento de segurança à população, o pesquisador observa que isso depende não apenas da eficiência das instituições de segurança pública em proverem respostas eficazes para o problema da criminalidade especializada, "mas à desarticulação de grupos criminosos que têm atuado no DF, à retomada plena do controle de armas de fogo, às ações institucionais e individuais de conscientização para formas alternativas e pacíficas de resolução dos conflitos intersubjetivos, à efetividade do sistema de justiça e ao funcionamento eficiente de suas instituições, bem como a diversos outros fatores."

Trabalho conjunto

Ao Correio, o secretário de Segurança Pública do DF, Sandro Avelar, disse que a implementação de políticas coordenadas, assim como o investimento em tecnologia, inteligência e capacitação, têm contribuído para a redução criminal na capital do país. "No acumulado de janeiro a setembro deste ano, tivemos o menor número de homicídios dos últimos 24 anos", destacou.

Em relação às tentativas, ele afirmou que a SSP tem um trabalho conjunto das forças de segurança, órgãos de governo e sociedade. "São operações de desarmamento, pontos de bloqueio e outras ações de fiscalização, realizadas em locais, dias e horários de maior incidência criminal. Isso tudo para não só inibir a prática de crimes, mas também retirar armas ilegais de circulação, reduzindo o poder de letalidade de eventuais criminosos", detalhou Avelar.

Para o gestor da pasta de Segurança Pública, o Corpo de Bombeiros tem um papel fundamental, no âmbito das forças de segurança, para que esses crimes não passem de tentativas de homicídio. "A corporação tem demonstrado um excelente tempo de resposta em atendimentos de urgência e emergência, o que vem contribuindo diretamente na redução das mortes violentas no DF", ressaltou.

Memória

10 de julho — Um homem foi preso por tentativa de homicídio no Riacho Fundo 2. A PMDF, por meio de uma testemunha, chegou ao paradeiro do criminoso, que estava em um supermercado nas proximidades. O autor confessou aos policiais que recebeu cerca de R$ 2 mil para cometer o ato. A mandante também foi presa. A vítima esfaqueada foi socorrida e levada para o Hospital Regional de Ceilândia (HRC).

18 de julho — Suspeito por tentativa de homicídio foi preso em flagrante no Cruzeiro Novo. A vítima esfaqueada era regressa do sistema penitenciário e utilizava tornozeleira eletrônica. Os policiais encontraram o autor a 500 metros do local do crime, por meio de imagens feitas por populares. Ele estava com a faca utilizada, ainda suja de sangue.

11 de agosto — A 33ª Delegacia de Polícia realizou uma operação para prender um homem que, de acordo com as investigações, era apontado como um dos autores da dupla tentativa de homicídio qualificada. Segundo a Polícia Civil (PCDF), ao ser interrogado sobre a motivação do crime, o suspeito permaneceu calado, mas existia fortes indícios de que o crime havia sido motivado por desentendimentos ideológicos entre facções criminais.

13 de setembro — Em Ceilândia, um homem de 28 anos foi preso em flagrante pelo crime de homicídio tentado. Segundo o delegado-chefe da 19ª Delegacia de Polícia, Thiago Peralva, os policiais receberam a informação de que um homem de 41 anos teria dado entrada no Hospital Regional de Ceilândia (HRC) após ter sido esfaqueado. De acordo com as investigações, a ação foi motivada por ciúmes.

15 de setembro — No Sol Nascente, um homem de 36 anos foi preso em flagrante por tentativa de homicídio. De acordo com a Polícia Militar, durante uma discussão entre duas mulheres, o suspeito efetuou dois disparos contra o marido de uma delas. Durante as revistas, os militares encontraram um revólver calibre .38, com duas munições deflagradas e três intactas. Além do crime de tentativa de homicídio, o detido foi autuado por porte ilegal de arma de fogo.

2 de outubro — Um homem ateou fogo em uma casa com a família dentro, em Taguatinga. O crime aconteceu por volta das 19h30. Na residência, estavam a irmã do autor e três crianças, que não se feriram. Porém, uma vizinha que tentou impedir a ação do criminoso, levou três facadas e precisou ser encaminhada para o Hospital Regional da Ceilândia (HRC). A família e o autor do crime foram encaminhados para a 12ª DP.

*Estagiário sob a supervisão de José Carlos Vieira

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