Sepultamento

Passageiro morto em blitz: Familiares e amigos se despedem de Islan da Cruz

Islan morreu no último domingo (29/10), após o motorista do carro em que ele estava tentar fugir de uma blitz no Eixo Monumental. Os policiais militares atiraram contra o veículo para pará-lo e atingiram o rapaz

O corpo de Islan da Cruz Nogueira, 24 anos, foi velado e sepultado na manhã desta terça-feira (31/10), no Cemitério Campo da Esperança, na Asa Sul. O jovem estava no banco do passageiro da BMW que tentou fugir de uma blitz no último domingo (29/10), no Eixo Monumental. Ele acabou baleado por policiais que tentaram parar o carro. Sob forte comoção, familiares e amigos querem justiça pela morte do rapaz.

Pai de Islan, Jorge Nogueira dos Santos, 51, não conseguia conter as lágrimas ao falar do filho. "Meu filho é tudo, é minha vida. Só tenho lembranças boas dele. Apesar de ser o pai, eu aprendi muita coisa com ele. Ele me deu muita força em momentos difíceis. Ele mora no meu coração", disse o pedreiro. Islan morava com o pai em São Sebastião.

Para Jorge, o erro foi tanto da Polícia Militar do DF quanto do motorista Raimundo Cleófas, 41 anos, que tentou fugir do bloqueio. "O erro foi dos dois lados. O que eu quero é justiça. Quero que ele pague pelo que fez, porque aqui na Terra a gente planta e colhe, mas não desejo o mal para ele. Quero que Deus perdoe ele e que ele reconheça que está errado", disse o pai.

Tia do rapaz, Mari Luiza Florinda da Cruz, 42, contou que a Islan era o segundo sobrinho dela e era o xodó da família. "Era muito amado. E o amor que ele recebia de todos nós da família, ele transmitia. Ele era muito carinhoso com a mãe, com o pai, com a irmã, com todos. Por onde ele passava, ele fazia amizade", lamentou a empresária.

A família contou que Islan trabalhava durante o dia em um supermercado em São Sebastião e, durante a noite, trabalhava em uma pizzaria que pertencia a família do motorista Raimundo. "Meu sobrinho era trabalhador, ajudava em casa e sempre estava buscando algo para fazer na intenção de ajudar os pais", disse a tia.

Morte na blitz

Islan estava no banco do passageiro de uma BMW 350i branca, que fugiu da Operação Álcool Zero, na madrugada de domingo (29/10), no Eixo Monumental. Os policiais militares deram ordem de parada, mas o condutor, Raimundo Cleofás Alves Aristides Júnior, 41, desobedeceu e acelerou em alta velocidade atropelando um PM e furando o bloqueio.

Após a tentativa de fuga, os agentes de segurança dispararam contra o veículo, atingindo Islan. Ele morreu no local, antes da chegada do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu). O veículo tinha marcas de tiro nos vidros traseiro e dianteiro, capô e porta.

A PMDF afirma que o condutor desobedeceu às ordens emitidas pelos policiais, o que teria dado início à perseguição, até o momento em que o condutor parou, saiu do carro e deitou-se no chão, na via S1, perto da Esplanada dos Ministérios. Os tiros, segundo a corporação, eram em direção aos pneus para que o carro parasse.

Investigação

Durante coletiva de imprensa para esclarecer detalhes acerca da abordagem em blitz com tentativa de fuga e morte, o delegado-chefe da 5ª Delegacia de Polícia (Área Central), João de Ataliba Neto, afirmou que foram instaurados dois inquéritos policiais. O primeiro é relativo ao flagrante do motorista, Raimundo Cleofás, preso pelos crimes de tentativa de homicídio contra um policial militar e por embriaguez ao volante. Já o segundo é para apurar as circunstâncias da morte do passageiro Islan da Cruz Nogueira, causada pelo Estado.

O motorista foi preso em flagrante. Ele passou por audiência de custódia na manhã desta segunda-feira (30/10), sendo convertida a prisão em preventiva. A polícia aguarda o resultado da perícia no veículo e o laudo cadavérico da vítima. Não há informações de quantos tiros atingiram o carro e se algum chegou a atingir o pneu.

No entanto, as oito armas de oito PMs que dispararam foram apreendidas para saber de qual pistola de 9mm saiu o disparo que vitimou o passageiro. O motorista passou por audiência de custódia e teve a prisão convertida em preventiva. A PCDF tem dez dias para concluir o inquérito policial.

A PCDF ainda vai ouvir mais testemunhas, entre policiais, que serão identificados e que estavam na operação, e pessoas presentes no local do ocorrido. Ao todo, foram 15 agentes, sendo cinco por ponto de bloqueio. As câmeras de segurança da via também serão analisadas para entender a dinâmica da fuga. “Hoje, a gente tem mais perguntas do que respostas”, concluiu o delegado.

Segundo o coronel da PMDF, Edvã Sousa, os PMs envolvidos na ação foram afastados da função. “Eles estão afastados para poder preservar as questões psicológicas deles, não porque estão sendo investigados. Eles fazem parte de um processo e, como eles estavam no ambiente, vão sofrer toda a investigação policial militar e pela questão do inquérito civil. O afastamento não é por serem culpados. É o rito processual estabelecido”, pontuou.

Ainda de acordo com o coronel, todos os policiais passam por um treinamento para saber utilizar as armas de fogo. “Eles fizeram aquilo que tinha que ser feito e que foi avaliado no momento. Tem todo o contexto do local: luminosidade, o grau de risco, a preocupação, a adrenalina. A maioria dos tiros estavam na região abaixo do vidro e próximo aos pneus do lado direito na tentativa de fazer o carro parar”, avaliou.

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