Fotografia

A arte de fotografar o Cerrado mescla encantos naturais com paisagem urbana

Profissionalmente ou por hobbie, fotógrafos expressam sua paixão pelas paisagens do Centro-Oeste em belos cliques. Eles dão dicas para quem também deseja fazer o mesmo

Morar em Brasília é, em meio ao caos urbano, deparar-se com as belezas do Cerrado. Na cidade ou nos arredores, o bioma captura não só os olhares comuns, como também é inspiração para fotógrafos apaixonados pelos espetáculos naturais que o rico ecossistema do Centro-Oeste proporciona diariamente.

Haissam Massouh, 41 anos, nasceu na Síria e mora na Capital Federal há 25 anos. Na sua página no Instagram (@massouhphotos) é possível ver diversos registros da paisagem urbana emoldurada pelo Cerrado, fotos que viram quadros e são vendidos para os que desejam uma bela imagem exposta na parede de casa ou do trabalho.

"Busco transmitir em minhas fotos as primeiras impressões que tive quando cheguei: uma incrível harmonia entre o concreto e a natureza em profusão e encantamento. O que mais me atrai no Cerrado são as cores. Gosto de fotografar o sol colorindo o céu no início e no fim do dia e o contraste de cores saturadas", diz o fotógrafo.

Ele explica que gosta do encaixe da natureza com os monumentos modernistas da cidade, como a Catedral Metropolitana e a Ponte JK, acompanhados pela floração dos ipês em meio à seca. Outro elemento que atrai o olhar do fotógrafo são as estrelas do céu da Chapada dos Veadeiros.

"A chapada é um dos melhores lugares do país para fotografar o céu, devido à pouca poluição luminosa. Também gosto de tirar fotos dos chuveirinhos", revela Massouh, fazendo referência à Paepalanthus chiquitensis, espécie de vegetação conhecida como sempre-viva, que reflete a luz do sol e atrai fotógrafos e amantes da natureza do mundo todo.

Além da chapada, Haissam também gosta de visitar a Chapada Imperial, localizada no Distrito Federal, e o Parque Estadual dos Pireneus, em Goiás. Ele garante que para captar boas imagens do céu estrelado é preciso se afastar pelo menos 100 quilômetros dos grandes centros urbanos. Para aqueles que têm vontade de começar a fotografar, mesmo apenas com um celular na mão, o fotógrafo dá a dica: "As melhores luzes naturais estão nos horários do nascer e do pôr-do-sol. Também indico sempre colocar um elemento interessante em primeiro plano".

Alessandra Balestrassi -
Haissam Massouh -
Haissam Massouh -
Haissam Massouh -
Lillian Bento -
Lillian Bento -
Alessandra Balestrassi -
Haissam Massouh -
Alessandra Balestrassi -
Alessandra Balestrassi -

Conexão

Para a fotógrafa Lillian Bento, 40 anos, fotografar o Cerrado traz uma conexão com ela mesma. Natural de Barra do Garças (MT), cidade que compartilha o mesmo bioma da capital federal, ela lembra de uma das célebres frases de João Guimarães Rosa, autor da obra Grande sertão: veredas, "O sertão é dentro da gente".

"Por ser uma vegetação de menor porte, muitos não conseguem ver a verdadeira riqueza do cerrado. É para quem tem olhos que conseguem ver. Com o olhar mais atento, você vai ver as flores, os frutos. A fauna também surpreende e a fotografia é uma forma de mostrar toda essa diversidade de vida", analisa Lillian, que é coordenadora de comunicação da Rede Cerrado (@rede.cerrado), organização nacional que reúne povos indígenas, quilombolas, comunidades tradicionais, grupos organizados e entidades civis, com atuação em prol da conservação do bioma. "Cerrado é um mosaico de biodiversidade e de povos", define a coordenadora.

Lillian começou a fotografar espontaneamente, ainda criança, com uma máquina analógica, registrando as flores de caliandras, ipês e cega-machados. Hoje, apesar de trabalhar profissionalmente com fotografia, ela admite que os registros do Cerrado são feitos para satisfação pessoal.

"Para quem vai começar a fotografar o bioma, a principal dica é a imersão, sentir o que o Cerrado é. Técnica a gente aprende em qualquer curso. A fotografia, no entanto, é o olhar, a conexão com a fauna e a flora. É descobrir, querer ir para além do óbvio. É a savana mais biodiversa do planeta", sugere.

Fauna

Ângulos despretensiosos também podem render capturas preciosas para os que estiverem atentos. "Eu gosto da diversidade de vida, dos passarinhos, das plantas, principalmente por ser em uma paisagem que engana por ser seca. Eu descubro cada coisa, até olhando para o chão", relata Alessandra Balestrassi, que trabalha como fotógrafa de família. Nos registros não programados estão pica-paus, tesourinhas-do-campo e maracanãs feitos a partir do celular. O aparelho é mais cômodo para levar nos passeios à fazenda que ela costuma frequentar em Luziânia, no Entorno. No dia a dia, o condomínio onde mora, no Jardim Botânico, também não decepciona como cenário.

"Normalmente, as fotos são feitas de maneira intuitiva, desde paisagens inteiras até pequenos detalhes", diz Balestrassi. Os cliques são capturados de forma mais íntima e pessoal, utilizando apenas o celular. "Fotografia é um olhar artístico. Não é uma pintura, mas captura algo que muita gente não consegue enxergar", afirma Alessandra (@alebalestrassi), que não se furta de fotografar também espécies botânicas, como a canela-de-ema, que na seca aproveita para exibir as belas flores arroxeadas.

A fotógrafa acredita que muitos têm o "olhar bom para a fotografia", mas prestar atenção em alguns pontos pode ajudar a chegar a resultados melhores, como a limpeza da lente e o alinhamento do horizonte. "Às vezes a vontade é de capturar tudo, mas a dica é entrar na cena e achar detalhes que podem render boas fotos", aconselha.


 

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