Criminalidade

Apreensão de armas reduz homicídios no DF

Até a última semana, 716 pessoas foram presas no DF por porte ilegal de arma de fogo. O arsenal apreendido pela Polícia Militar cresceu 11,3%, em relação a 2022. Especialistas e SSP aprovam operações para diminuir mortes violentas

Dados da Polícia Militar (PMDF) mostram que, entre janeiro e 18 de outubro deste ano, 1.438 armas foram apreendidas no Distrito Federal. O número é 11,3% maior do que o registrado no mesmo período de 2022, quando foram 1.292 (confira o infográfico). Os dados contribuem para que, segundo a Secretaria de Segurança Pública (SSP-DF), o DF tenha registrado o menor índice de mortes violentas com o uso delas nos último 24 anos. Além disso, a corporação prendeu, no mesmo período de 2023, uma média de duas pessoas por dia, pelo crime de porte ilegal de arma de fogo — foram 716 prisões de janeiro até a última quarta-feira.

Presidente da Comissão de Segurança Pública da OAB-DF, Ana Izabel Alencar comenta que, nos últimos anos, muitas pessoas se registraram como colecionadores, atiradores e caçadores (CAC), apenas para "andar armado, como se pudesse fazer o que quisesse e o que pretendesse com a arma". Dados da Polícia Civil, obtidos pelo Correio por meio da Lei de Acesso à Informação (LAI), em março deste ano, apontam que as ocorrências criminais envolvendo CACs tiveram um aumento de 78,2% entre 2021 e 2022, passando de 115 para 205.

Para a advogada, apenas os agentes públicos de segurança deveriam ter a posse liberada. "São pessoas preparadas para utilizá-las somente no momento correto. Porém, o que vem acontecendo é um uso indiscriminado de armas. Muitas acabaram parando nas mãos de pessoas desequilibradas — que tiveram comportamentos impulsivos — e acabaram culminando nesses tipos de crimes", destaca.

"Todos os dias a gente vê que, em um lugar diferente do Brasil, um crime cometido por uma pessoa que é CAC. É muito importante que essas armas sejam procuradas e retidas para que a sociedade se sinta mais segura", avalia. "A arma deixa a pessoa mais corajosa, valente e, às vezes, briguenta. Imagina pessoas utilizando armas 'a torto e a direito', sem autorização e sem passar por um procedimento para obter o porte de armas. Isso é ainda mais perigoso", alerta Ana Izabel.

A presidente afirma que as operações de desarmamento são extremamente importantes para a diminuição do número de armas ilegais no DF. "É uma forma de coibir a obtenção e posse de armas de fogo ilegais e o estado voltar a realizar essas operações, pois, neste momento, existem muitas pessoas armadas ilegalmente e com a possibilidade iminente de cometer crimes, a qualquer momento", alerta.

Fiscalização integrada

Especialista em segurança pública, o professor do Centro Universitário do Distrito Federal (UDF) Júlio Hott acredita que, com o acesso a armas ilegais, por parte dos bandidos, aumenta a quantidade de crimes, principalmente os cometidos com o emprego desses dispositivos bélicos. "O que colaborou muito para o aumento dessas armas ilegais foi a flexibilização das autorizações dos registros de CACs", observa. "Essas armas, sendo transportadas de um lugar para outro e guardadas deficientemente, podem ser objetos de furto e, certamente, caem nas mãos de bandidos, causando aumento na criminalidade", reforça.

Para o professor, da mesma forma que foi feita uma restrição na aquisição, porte e registro dessas armas pelos CACs, também é importante um trabalho de fiscalização integrado e intenso das polícias Civil, Militar e Rodoviária Federal, principalmente nas divisas, para retirar esse arsenal ilegal de circulação. "Isso diminuiria muito a criminalidade, principalmente a relacionada aos crimes contra a vida", aponta Hott — de acordo com dados da Secretaria de Segurança Pública (SSP), houve um aumento de 11,5% nas tentativas de homicídio no DF, comparando janeiro a setembro de 2022 (425) e 2023 (474).

Operações conjuntas

Ao Correio, o secretário de Segurança Pública, Sandro Avelar, ressalta que a retirada de armas irregulares das ruas, assim como o trabalho para inibir o tráfico deste tipo de equipamento, impacta diretamente na queda da criminalidade, sobretudo na redução da letalidade. "Isso tem contribuído para a redução dos homicídios, por exemplo. No acumulado dos primeiros nove meses deste ano, tivemos a menor marca deste tipo de delito em 24 anos", comemora.

Segundo dados da pasta, em 2023, foram oito registros a menos que em 2022. Ou seja, neste ano foram computados 15 homicídios e, em 2022, ocorreram 23 crimes da mesma natureza.

Para Avelar, isso é reflexo das diversas investigações e operações desarmamento realizadas pelas polícias do DF, em conjunto com as unidades de inteligência, que auxiliam nesse trabalho. "A intenção é que essas ações sejam cada vez mais regionalizadas, com estratégias e operações específicas para cada localidade do DF", destaca o secretário.

Em nota, a Polícia Militar (PMDF) informa que a corporação está envolvida ativamente no policiamento ostensivo e preventivo, em estreita cooperação com outras forças de segurança, por meio de operações e abordagens policiais. A estratégia, de acordo com a PMDF, se concentra, também, na retirada de circulação do maior número possível de armas de fogo ilegais, com isso, prevenindo a ocorrência de outros tipos de crimes.

pacifico - apreensoes armas ilegais

 

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Thomas Tucker/Unsplash - Uma média de duas pessoas foram presas pela PMDF, por dia, pelo crime de porte ilegal de arma de fogo
Maxzzerzz/Unsplash - Uma média de duas pessoas foram presas pela PMDF, por dia, pelo crime de porte ilegal de arma de fogo
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Memória

25 de dezembro de 2022

Em depoimento à Polícia Civil, o empresário bolsonarista George Washington de Oliveira Sousa, 54 anos, confessou que pretendia distribuir armas e munições para os apoiadores do presidente Jair Bolsonaro que estavam acampados em frente ao Quartel-General do Exército. Na época, o Correio apurou que ele adquiriu o registro de CAC em outubro de 2021 e, desde então, montou um arsenal. Em depoimento na delegacia, George Washington de Oliveira alegou que pagou mais de R$ 170 mil na compra de armas e munições.

4 de fevereiro de 2023

Paulo Roberto Moreira Soares, 38, que matou a ex-mulher, Izabel Guimarães, 36, com um tiro na cabeça, em Ceilândia, era aluno de um curso de tiro e tinha registro de CAC. O crime ocorreu na casa onde Izabel morava com a filha. O casal tem uma filha pequena e estava em processo

de separação.

30 de junho de 2023

O serralheiro Bruno Gomes Moraes, 38, que matou a enfermeira e companheira Patrícia Pereira de Sousa, 41, tinha registro de Colecionador, Atirador Desportivo e Caçador (CAC), além de ter o registro da arma utilizada no crime. Após ser preso em Luziânia (GO), o serralheiro confessou o crime na delegacia. Aos agentes, o feminicida justificou que matou a companheira em

"legítima defesa".

15 de outubro de 2023

Hugo Olinto de Menezes Santos, 38, está preso preventivamente, suspeito de atirar contra um servidor público de 50 anos. O crime ocorreu no domingo, após uma briga de trânsito no Setor de Indústria e Abastecimento (SIA). De acordo com a família da vítima, o servidor foi internado em estado grave no Hospital de Base de Brasília. pela prática, em tese, dos crimes de tentativa de homicídio qualificado por atirar contra um servidor público durante uma discussão no trânsito,

além de porte ilegal

de arma de fogo.

Mudanças

Em 21 de julho, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) assinou um novo decreto para regulamentação da compra e uso de armas de fogo. Além de dificultar a aquisição e a utilização, as novas regras restringem o número de armas para os CACs. Confira as normas atuais:

Caçadores excepcionais

» Até seis armas;

» Até 500 munições,

por arma, por ano;

» Necessidade de autorização

do Ibama.

*A Polícia Federal e o Comando do Exército poderão autorizar, em caráter excepcional, a aquisição de até 2 armas de fogo de uso restrito e suas respectivas munições.

Colecionadores

» Até 1 arma de cada modelo, tipo, marca, variante,

calibre e procedência;

» Vedadas as automáticas

e as longas semiautomáticas

de calibre de uso

restrito cujo 1º lote de

fabricação tenha menos

de 70 anos.

Atiradores desportivos (retomada dos níveis)

Atirador Nível 1 — Definição:

Oito treinamentos ou competições em clube de tiro, em eventos distintos, a cada 12 meses.

» Até 4 armas de fogo de

uso permitido;

» Até 4 mil cartuchos, por ano;

» Até 8 mil cartuchos .22 LR ou SHORT, por ano.

Atirador Nível 2 — Definição: Doze treinamentos em

clube de tiro e quatro competições, das quais

duas de âmbito estadual, regional ou nacional,

a cada 12 meses.

» Até 8 armas de fogo

de uso permitido;

» Até 10 mil cartuchos, por ano;

» Até 16 mil cartuchos, por ano.

22 LR ou SHORT.

Atirador Nível 3 — Definição: Vinte treinamentos em clube

de tiro e seis competições,

das quais duas de âmbito nacional ou internacional,

no período de 12 meses.

» Até 16 armas de fogo,

sendo 12 de uso permitido

e até quatro de uso restrito*;

» Até 20 mil cartuchos, por ano;

» Até 32 mil cartuchos por ano.

22 LR ou SHORT.

*A Polícia Federal e o Comando do Exército poderão autorizar, em caráter excepcional, a aquisição de até quatro armas de fogo de uso restrito e suas respectivas munições, no limite de até 6 mil cartuchos, por ano, para atiradores de nível 3

Fonte: governo federal