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Caminhos para o diagnóstico e o tratamento do câncer de mama

Profissionais das área de oncologia e mastologia falaram sobre as formas de detecção precoce da doença, a importância da mamografia e os tratamentos disponíveis

Por Mila Ferreira, Naum Giló, Nathallie Lopes*, Sarah Paes (especial para o Correio) — No segundo painel do CB.Debate: Câncer de mama: uma rede de cuidados, promovido nesta quinta-feira (19/10) pelo Correio, quatro especialistas no assunto discutiram o tema Avanços nos diagnósticos e tratamentos. A coordenadora da política nacional de prevenção e controle de câncer, Patrícia Freire, abriu o debate. Os painelistas foram Fabiana Christina Araújo Pereira Lisboa, representante da Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM-DF); Rafaela Pereira Costa, oncologista do hospital Anchieta; e Cristiano Augusto Andrade de Resende, oncologista do grupo Oncoclínicas.

Promoção da saúde, os avanços nos tratamentos para o câncer de mama, a importância do autocuidado, a hereditariedade, o envelhecimento da população e o impacto da pandemia de covid-19 na quantidade de diagnósticos foram alguns dos assuntos tratados pelos especialistas.

A coordenadora da Política Nacional de Prevenção e Controle do Câncer do Ministério da Saúde, Patrícia Freire, ressaltou a importância da promoção da saúde na prevenção de muitos casos de câncer. Como exemplo, Patrícia citou a diminuição dos riscos de exposição aos cancerígenos, principalmente os laborais. "Os trabalhadores de postos de combustíveis, por exemplo, recebem uma carga diária muito grande de gases voláteis e altamente cancerígenos. Precisamos enfrentar esse problema", alertou.

Promoção em saúde é também falar de vacinas que estão disponíveis pelo SUS e que podem ajudar a prevenir o câncer de colo de útero. "A vacina contra o vírus HPV, que é extremamente segura e eficaz contra o câncer de colo de útero, pode ser obtida na rede pública, mas ainda é muito pouco procurada, e o uso ainda é pouco estimulado", acrescentou.

Patrícia explicou ainda que promoção da saúde também é combater alguns estigmas. "Ainda há um preconceito muito grande, até mesmo entre os profissionais da saúde, em recomendar e prescrever a vacina do HPV", exemplificou. A coordenadora aproveitou a oportunidade para incentivar as pessoas a se vacinarem.

Exames

A mastologista do hospital Anchieta e membro da Sociedade Brasileira de Mastologia do DF Fabiana Christina abordou assuntos como rastreamento, diagnóstico e tratamento cirúrgico. Em sua fala, a médica destacou a importância do rastreamento com a mamografia, exame essencial e o mais utilizado, principalmente para mulheres a partir dos 40 anos. "Com esse exame, é possível detectar lesões não palpáveis. Se feito anualmente, aumenta as chances de um diagnóstico precoce e diminui a mortalidade entre 16% e 56%", enfatizou.

No entanto, a profissional ressaltou que, em casos de alterações mamárias e histórico familiar, além de homens com casos de ginecomastia — excesso de mama —, as pessoas podem procurar um mastologista para tratamento cirúrgico antes mesmo dos 40 anos. Para a especialista, o teste genético também se mostra de grande valor para o rastreamento da população de alto risco, com tendências a mutações hereditárias, lesões precursoras e histórico familiar.

Segundo Fabiana, cirurgias redutoras de risco de câncer são válidas, mas alertou sobre a retirada da mama preventivamente. "É importante conscientizar as mulheres de que uma retirada da mama sem a devida indicação documentada pode diminuir os riscos, mas não zera, além de todas as outras complicações que podem surgir", explicou.

Hábitos saudáveis

Rafaela Pereira Costa, oncologista com atuação em câncer de mama do Hospital Anchieta, lembrou que, a cada 10 pacientes, uma tem o câncer como fator herdado. "Então, é evitável e prevenível. Os bons hábitos não são bons só para prevenir, mas também para evitar que o câncer volte", assinalou.

Como forma de tranquilizar as mulheres que têm medo de fazer os exames e receber um eventual diagnóstico positivo, a especialista observou que os tratamentos estão cada vez mais personalizados. "Antes, a paciente tinha que se adaptar ao tratamento. Hoje em dia, é o contrário: o tratamento é que se adapta à paciente", assinalou.

"Antigamente, a gente colocava o câncer de mama em um combo só. Hoje, a gente sabe que tem vários diagnósticos. Nem sempre aquele tipo de tumor com aquele tratamento vai ser o ideal para a paciente. Isso depende da idade, se tem alguma outra doença associada, de quais efeitos colaterais que a gente quer poupar essa paciente. O objetivo é ter resposta ao tratamento, redução do risco de reincidência e aumento de cura com menos efeitos colaterais", continuou.

A médica enumerou alguns fatores que podem interferir no momento da escolha do tratamento mais adequado. "Um deles é a tolerância. As pacientes mais jovens geralmente são mais tolerantes aos tratamentos. Mas também são analisados os impactos de longo prazo. Por isso, tentamos personalizar o tratamento, se será com remédios ou cirurgia", disse.

O envelhecimento é um fator de risco, mas a oncologista destacou outros aspectos importantes. "A população está envelhecendo e, geralmente, o diagnóstico é a partir dos 50. Mas isso está mudando. Houve um estudo publicado nos Estados Unidos com pacientes com menos de 40 anos e grande parte era obesa. Os hábitos estão impactando", exemplificou.

Outra preocupação é a demanda represada pela covid-19, período em que os exames eletivos ficaram suspensos, incluindo a mamografia. "Muitas mulheres estão chegando com diagnósticos mais tardios, isso ainda é uma realidade, mesmo depois de estarmos em um momento de controle maior da pandemia. Às vezes, a paciente não tem mais chance de cura, mas a gente quer mudar. A gente quer falar para as pacientes que venham fazer o exame de rastreamento", afirmou.

Tratamentos

O oncologista do grupo Oncoclínicas Cristiano Augusto Andrade de Resende também ressaltou a importância da prevenção e do rastreamento da doença. Ele comentou sobre os tipos de tratamento, a importância do autocuidado e o impacto da pandemia de covid-19 na quantidade de diagnósticos.

O câncer ainda é uma doença estigmatizada e que gera muitas dúvidas e medos. Por isso, o oncologista salientou que o acesso à informação é uma das formas de aumentar o sucesso dos tratamentos e a cura. "A doença tem um comportamento agressivo, mas a paciente não é culpada pela doença que ela tem. E ter um diagnóstico avançado não significa que aquela paciente não deva ser cuidada de maneira integral. No fim das contas, o que a gente quer é que todas as mulheres possam viver mais e melhor, e a evolução do tratamento está completamente ligada a isso", explicou.

"Não podemos demonizar o tratamento, mas o melhor cenário é aquele em que ele começa na fase inicial da doença. Podemos fazer um cuidado personalizado com base nas características de cada um para tentar evitar ao máximo a quimioterapia, que é um tratamento com grau de toxicidade mais alto, ou seja, no qual há um efeito colateral na saúde dessa pessoa", orientou Cristiano.

Quanto às dúvidas em relação à quimioterapia e suas consequências, o médico afirmou que esses efeitos dependem da saúde de cada pessoa. "Com a quimioterapia eu posso ter queda de cabelo, baixa imunidade, náuseas, vômitos, aftas na boca, alteração de sensibilidade. Isso não significa que todos os pacientes vão passar por todos os efeitos colaterais, mas existe uma probabilidade de isso acontecer. Todo o tratamento tem muitos benefícios, mas isso não tira a chance de ter essas ocorrências", concluiu o médico.

*Estagiária sob a supervisão de Malcia Afonso

 

 

 

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