MEIO AMBIENTE

Pesquisa aponta desigualdade ambiental entre ricos e pobres no DF

Estudo feito pelo ObservaDF mostra que problemas como poeira e perturbação sonora estão mais presentes no dia a dia da população de baixa renda. Pobres e ricos estão pessimistas quanto ao futuro do planeta

Mais de 57% da população do Distrito Federal afirma ter lixo, poeira, animais abandonados, entulhos de obras e perturbações sonoras como principais incômodos nas regiões onde mora. O dado faz parte do estudo "Hábitos sustentáveis e desigualdades ambientais no Distrito Federal", divulgado pelo Observatório de Políticas Públicas do DF (ObservaDF). Para isso, foram entrevistadas mil pessoas, em agosto de 2023.

"A situação piora muito nas regiões de renda mais baixa, o que demonstra a necessidade de uma maior atuação do governo com políticas públicas para esses locais", analisa Lucio Rennó, professor da Universidade de Brasília (UnB) e pesquisador do ObservaDF responsável pelo levantamento.

Mais de 75% dos entrevistados de baixa renda dizem conviver com lixo nas vias onde moram. Entre os de classe alta, pouco mais da metade se queixou disso. A presença de esgoto na rua foi apontada por 50% dos entrevistados mais pobres e por 25% entre os de maior poder aquisitivo.

Os participantes da pesquisa também foram questionados sobre a existência de árvores nas proximidades de casa, o que foi confirmado por mais de 62% dos entrevistados da classe alta. Na faixa de baixa renda, a arborização foi observada por cerca de um terço da amostra. Já a presença de animais abandonados nas ruas chega a quase 75%, entre os mais pobres, e pouco mais de 50% entre os mais ricos.

A presença de grandes áreas verdes, como parques ecológicos, também são indicativos de saúde do meio ambiente de uma região. Mais um vez, a renda se revela um fator determinante para o acesso a espaços como esses. 66,9% dos mais ricos disseram frequentar parques ecológicos do DF contra 39,3% da faixa de renda média-baixa e 42,5% da baixa.

Entre os principais problemas ambientais do DF, foram apontados lixo e entulho nas ruas (47,7%), incêndios no cerrado (44,4%) e secas (34,1%).

As expectativas para os próximos anos são pessimistas, no geral — 60,7% dos entrevistados acreditam que os problemas ambientais vão aumentar no futuro contra 20,1% que pensam o contrário. "A expectativa fica ainda mais negativa quando a renda é mais baixa e entre os jovens", aponta Lucio Rennó. Dos mais pobres, 68,8% avaliam que a situação vai piorar para meio ambiente, percentual semelhante à faixa etária de 16 a 24 anos, 65,2%.

Em relação ao meio ambiente a nível mundial, as questões mais relevantes para os entrevistados são o desmatamento (53,4%) e o calor intenso (33,7%). Os responsáveis pelos males citados pelos participantes do estudo são os grandes fazendeiros (22,1%), políticos (18,1%) e garimpeiros (17,8%).

Hábitos sustentáveis

Lucio Rennó explica que um dos eixos do estudo foram hábitos sustentáveis, ou seja, o que as pessoas admitem que fazem e pedem para as demais que cause impacto positivo no meio ambiente. "Percebemos que as pessoas são muito críticas em relação ao comportamento do outro", destaca Rennó.

Cerca de 75% dos entrevistados afirmam ter reduzido o tempo de banho a fim de economizar água. Por outro lado, pouco mais de 12% acreditam que a população do DF tem se esforçado para isso. Aproximadamente 87% disseram que economizam água de modo geral, mas menos de 25% acham que os moradores da capital têm a mesma prática.

A pesquisa também aponta que 83,4% dos entrevistados avaliam que as ruas ficam empoeiradas no período da seca e 66,5% afirmam que convivem com lixo nas vias públicas. Metade dos entrevistados contaram que enfrentam alagamentos nas ruas da região onde vivem e 62,5% disseram que convivem com animais abandonados nas vias. A boa notícia é que os relatos da presença de rios e de córregos poluídos ou degradados perto de onde moram é mais raro — 18,5% da amostra.

O estudo apontou ainda que 53,6% dos entrevistados têm animais domésticos. Desses, 85,6% disseram ter cachorro, 24,8%, gato, e 10,6%, pássaros. No caso da utilização de hospitais públicos veterinários, a faixa de baixa de renda foi a que demonstrou fazer mais uso do serviço — 42,5%. Na classe alta, o percentual cai para 35,4%.

A pesquisa está disponível na íntegra no site observadf.org.br.

 

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