Decisão

Justiça aceita denúncia e torna réu dentista acusado de estuprar paciente

Gustavo Najjar responderá por dois crimes na Justiça do DF. Dentista que atende em um consultório no centro de Brasília pode pegar até 16 anos de prisão. Ele responde em liberdade

A 3ª Vara Criminal de Brasília aceitou a denúncia do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) e tornou réu o dentista Gustavo Najjar, de 37 anos, acusado de estuprar uma influenciadora digital, 33, em um consultório no centro de Brasília, no mês passado.

A denúncia foi aceita pela Justiça em 3 de outubro. Najjar é réu após a denúncia do MP elencar crimes previstos nos artigos 215 (violação sexual mediante fraude) e 213 (estupro). Caso condenado, o dentista pode pegar pena de dois a 16 anos de prisão. Ele responde ao processo em liberdade, após ter deixado a carceragem da Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) na quarta-feira (27/9).

Ele ainda é alvo de outras três denúncias oficiais de abusos, além de outras quatro mulheres terem procurado a polícia para relatar crimes cometidos pelo dentista – mas não registraram boletim de ocorrência. Na liberdade provisória, foram colocadas algumas restrições, como a impossibilidade de Gustavo se aproximar de uma das vítimas, que culminou no indiciamento dele, por parte da PCDF.

Poucos dias antes de deixar a prisão, um exame de DNA confirmou que o material biológico coletado na vítima, que denunciou Gustavo por estupro e o levou à cadeia, era mesmo dele. Antes, um laudo feito pelo Instituto de Medicina Legal (IML), da Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF), já havia confirmado que a vítima do dentista apresentava lesão corporal contusa compatível com o crime sexual.

O Correio procurou a defesa de Gustavo. Em nota, os representantes do dentista disseram que "refuta, veementemente, a  notícia da prática de qualquer crime e não vai comentar os detalhes do processo em respeito ao sigilo dos autos". A defesa pontuou, ainda, que estão sendo tomadas medidas para responsabilizar os agentes públicos (leia a nota completa abaixo).

"A defesa de Gustavo Najjar reafirma que refuta, veementemente, a notícia da prática de qualquer crime e não vai comentar os detalhes do processo em respeito ao sigilo dos autos.

O que a defesa adianta, mais uma vez, é que em resposta à acusação da prática do ilícito existem provas robustas e incontestáveis.

A divulgação de informações escolhidas pelos agentes públicos encarregados da investigação/processo, além de configurar ilícitos graves, busca criar sensacionalismo irracional para antecipar um julgamento sobre os fatos em apuração.

Todas as medidas legais estão sendo tomadas para responsabilizar os agentes públicos que, mesmo advertidos, insistem em transgredir a lei, e que assumem, de forma deliberada, o risco dos resultados de sua conduta inconsequente.

Em respeito à decisão do poder Judiciário, que determinou o sigilo dos autos, e para evitar a exposição da intimidade de outras pessoas envolvidas no processo, a defesa se restringe a essas palavras e segue confiando na justiça.”

Os casos

Oficialmente, quatro mulheres procuraram a polícia para denunciar o dentista. As mulheres também acusam o profissional de saúde, que é especialista em harmonização facial, de ter as molestado sexualmente.

Em depoimento à polícia, uma mulher de 31 anos afirmou que o dentista teria abusado dela em dezembro do ano passado, durante um curso ministrado por ele em Fortaleza (CE). Na ocasião, Gustavo teria pedido para a vítima permanecer na sala de aula durante o intervalo para o almoço, usando o pretexto de que ele avaliaria uma cirurgia que ela tinha feito nos seios.

Sozinhos na sala, o profissional de saúde perguntou se a vítima tinha ficado com flacidez nos seios após a cirurgia e pediu para que a vítima mostrasse o resultado cirúrgico para ele. A mulher negou o pedido a princípio, porém, após o autor insistir dizendo que o exame seria estritamente profissional, ela levantou a blusa.

Nesse momento, o dentista disse que realmente ela não tinha flacidez e pegou em um dos seios, passando a acariciá-lo. A vítima logo mandou ele parar e saiu em direção a porta para ir embora. O autor entrou na frente dela, a segurou e tentou beijá-la à força, dizendo que apenas soltaria a mulher quando ela se acalmasse. A vítima disse que estava mais calma, então Gustavo a soltou e ela saiu da sala.

Uma segunda mulher também depôs à polícia. Ela tem 44 anos e relatou que Gustavo teria a molestado no consultório dele, em agosto de 2020, durante a realização de um procedimento estético. Ela contou que foi a última paciente a ser atendida pelo dentista e que só estavam os dois no consultório. A vítima foi até o local para fazer uma avaliação para a aplicação de fios na face.

Após ser avaliada por Gustavo, a mulher decidiu realizar o procedimento naquele momento. A vítima disse que durante o procedimento passou a sentir dor e que o dentista deu um comprimido para que ela ficasse mais relaxada. A mulher então contou que, após tomar a medicação, ficou mais “lenta” e se recorda do autor passando as mãos no rosto dela como se o acariciasse.

Em seguida, o dentista perguntou se a vítima tinha feito algum procedimento cirúrgico e ela respondeu que tinha colocado silicone nos seios. Nesse momento, Gustavo a questionou se ela tinha flacidez e pediu para ver os seios da mulher. À polícia, a vítima disse que estava confusa por conta da medicação e não se lembra de como as coisas foram acontecendo, mas se recorda de estar em pé, em frente a um espelho, com o autor a abraçando por trás com as mãos nos seios dela.

Além disso, a mulher de 44 anos se lembra que tentou se livrar do autor e apenas conseguiu ir embora do consultório após a mãe dela passar a telefonar de forma insistente. Ela disse para o dentista que a mãe estava no shopping a esperando, quando percebeu que já passava das 22h e o centro comercial estava fechado.

De acordo com a polícia, uma terceira vítima prestou depoimento na quinta-feira (14/9). Ela também acusou o dentista de tê-la importunado sexualmente durante um atendimento no consultório dele. Esse terceiro crime teria sido cometido em Fortaleza, as informações, então, serão remetidas à Polícia Civil do Estado do Ceará.

Os casos relatados podem ser enquadrados como crimes de importunação sexual e de estupro de vulnerável. As ocorrências serão apuradas em inquéritos policiais autônomos.

Prisão

O caso que levou o dentista para a prisão é referente a uma mulher de 33 anos. Ela contou a polícia que conheceu o dentista nas redes sociais e teria ido ao consultório para fazer uma avaliação, para ser submetida a um procedimento de harmonização facial. No local, após a vítima contar que realizou algumas cirurgias estéticas, Gustavo teria pedido para que ela retirasse a roupa, para que ele pudesse avaliar.

A vítima tentou se desvencilhar, dizendo que queria ir embora. Ela relatou ter gritado, mas o criminoso puxou a vítima, tendo rasgado sua calça e afirmado que ninguém a escutaria, pois não havia mais ninguém no consultório. Em pânico, a vítima não conseguiu mais resistir e o autor consumou a prática sexual.

Após o estupro, o autor voltou a conversar com a vítima sobre os procedimentos estéticos, como se nada tivesse acontecido. A vítima, em choque, conseguiu ir embora e encontrou o ex-marido e a filha, que a aguardavam no shopping. Ela seguiu até a 5ª DP, para o registro da ocorrência contra o dentista.

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