Quem passar próximo à Ponte das Garças, no Lago Paranoá, neste fim de semana, vai notar uma grande movimentação na terra e na água. Desde quinta-feira (5/10), Brasília recebe o Campeonato Brasileiro de Va'a Velocidade, mais conhecida como canoa havaiana, que vai até domingo (8/10). A disputa é seletiva para o Mundial de Sprint, no Havaí, em 2024. Reunindo 732 atletas de várias idades e estados brasileiros, o Lago Paranoá se tornou ponto de evento náutico e mostra que há competidores profissionais na capital federal.
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Atleta brasiliense, Rafael Maia, 38 anos, já foi campeão brasileiro de stand up paddle e, ao conhecer a canoa havaiana, em 2013, após compor uma equipe para competir com os amigos, se apaixonou pela modalidade. "Depois dessa prova, cada um começou a trabalhar mais com a canoa havaiana em Brasília e implementamos a canoa também como meio de trabalho. Desde então, estou competindo", contou o profissional. Rafael teve a oportunidade de participar em equipe do mundial em 2018, no Taiti, terminando como a quarta melhor canoa do mundo. Quatro anos depois, no mundial em Londres, o time unido conseguiu ser o vice-campeão.
Empenhado nas provas, Rafael espera passar pela seletiva e ir para o mundial no Havaí. "Brasília está muito bem representada na atualidade da canoa com bons atletas e bons resultados. Temos vários campeões brasileiros de diversas categorias. A gente tem uma categoria também feminina muito forte", comentou o atleta, empolgado por competir em casa. "É um grande cenário para a gente aproveitar o Lago Paranoá e ver que é um esporte que não tem perfil de pessoas. É um esporte que abraça todo mundo", acrescentou.
Para ele, a canoa havaiana é um esporte coletivo e representa a união, além de ensinar a respeitar as diferenças. "A canoa tem uma cultura que engloba todos esses fatores, que é o que me fez apaixonar pelo esporte mesmo. É uma família e faz a gente enxergar a vida com um olhar mais de harmonia e de interação com o próximo", avaliou Rafael.
Equipes
O Campeonato Brasileiro de Va'a Velocidade reúne competidores jovens e experientes, de 11 a 82 anos. Ao todo, são 732 atletas — 370 mulheres e 362 homens — de oito estados do país. A maior delegação é a do Rio de Janeiro, com 360 atletas. Depois, vem Brasília, com 213, seguida por São Paulo, com 82.
Paulo dos Reis, 46, veio com a equipe Mirage, de Ilhabela (SP). O atleta pratica a modalidade há cerca de 15 anos. "Conheci a canoa em Ilhabela e comecei a remar de stand up paddle também, mas a canoa realmente foi o esporte que me conquistou e, hoje, sou praticante", recordou.
Acostumado com os treinos no mar, o paulista acredita que as águas do lago trazem um desafio ainda maior. "Já remei algumas vezes e competi aqui no Lago Paranoá. Realmente é uma água pesada e é difícil, porque a canoa não flutua tanto. É diferente para quem está acostumado a navegar no mar. Vai ser um desafio para a equipe, mas eu acredito que está todo mundo preparado e bem treinado. Com certeza, vamos fazer uma grande prova e passar pela seletiva", disse Paulo, confiante.
O atleta paulista elogiou a logística montada para receber os competidores. "Para a gente, que tem experiências em mundiais, vem correr um campeonato desse aqui no Lago Paranoá, em Brasília, ver essa estrutura na seletiva mundial é muito importante, porque, como atletas, precisamos de boas estruturas nos eventos", ressaltou.
Segundo a organização, a estimativa de público é de cerca de 8 mil pessoas durante os quatro dias de evento, que inlcui palestras e workshops, além de uma vila gastronômica. O espaço tem ainda uma feira com acessórios e artesanatos e aulas abertas à comunidade. Neste fim de semana, haverá provas e palestra com Fernando Fernandes, que é atleta paralímpico e apresentador de TV.
Inclusão
Aos 72 anos, Vik Birkbeck se alongava para competir em três provas. Nascida na Inglaterra, ela mora no Brasil há 48 anos e se apaixonou pela modalidade em 2012. "Comecei quando fiz 60 anos, mas não tinha essas provas para pessoas com mais de 60 anos no país, então, fiquei uma década fazendo provas de máster 50", comentou a atleta.
Vik recordou que conheceu o esporte por meio do filho Reginaldo, que também o pratica. "Fui fotografar uma prova em 2012, no Canadá, e, quando cheguei no país, vi um monte de equipes de mais de 60 anos de várias nacionalidades e pensei 'posso fazer isso também'. Isso foi em agosto. Em novembro do mesmo ano, teve uma prova em Buenos Aires e eu competi. Ganhei!", comemorou Vik, que também trabalha com fotografia e com audiovisual.
Para ela, a canoa havaiana é maravilhosa por ser um esporte muito inclusivo e ao ar livre. Moradora do Rio de Janeiro, ama estar próxima ao mar e treinar nas ondas. "É um refúgio da cidade, porque é difícil morar num espaço urbano, especialmente por ter crescido no interior. Vejo pessoas da minha idade que estão sedentárias e que mal levantam. Desde 1996, vendi meu carro e só ando de bicicleta", assinalou a atleta.
Crescimento
Professora de educação física, canoísta e organizadora do campeonato em Brasília, Diana Nishimura ressaltou que a modalidade é o esporte náutico que mais cresce no mundo, no Brasil e em Brasília. "No cenário brasiliense de dez anos atrás, a gente tinha duas ou três canoas. Agora, temos 70. Por mais de dez anos, foi um clube só. Nós temos 15 clubes, onze deles filiados à federação", disse.
Dados da Confederação Brasileira de Va'a citam mais de 2 mil atletas regulares junto à entidade nacional e cerca de 30 mil remadores de canoa em todo país, superando praticantes comuns e atletas partícipes em competições oficiais de esportes tradicionais, como remo olímpico e canoagem.
Para o mundial, Diana acredita que o Brasil tem chances de medalha com brasilienses participando das provas. Se o Brasil conquistar o lugar mais alto do pódio no mundial, não será a primeira vez. "Nossa primeira medalha de ouro em mundiais aconteceu no ano passado, em Londres, com alguns atletas de Brasília na canoa. A gente começa realmente a fincar a bandeira no cenário internacional. Foi a primeira vez que o Brasil ganhou uma medalha na elite e tinham dois brasilienses na canoagem", relembrou a professora.
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