Um dilema ambiental tem tirado o sossego de quem passa pelo Setor Policial Sul. Uma grande quantidade de árvores do canteiro central da via principal que está, literalmente, marcada para morrer. A sinalização branca, com a letra X no tronco, indica que elas serão cortadas. No entanto, fica o questionamento em meio à surpresa: por quê?
De acordo com a Secretaria de Obras do Distrito Federal, há uma explicação muito clara. A região, hoje, passa por uma série de intervenções de mobilidade urbana, com investimento de R$ 47 milhões. São 5km divididos em quatro frentes de atuação nas obras: calçadas e ciclovias, pavimentação asfáltica e drenagem, e um corredor exclusivo para ônibus.
É nessa última ação que reside o centro do impasse. A pasta afirma que, para a continuidade dessa obra, foi necessário fazer algumas ações no local. "Para a execução, foi necessária a supressão vegetal de algumas espécies de árvores demarcadas como interferência no percurso da nova via", esclarece.
O órgão também pontua que a retirada das árvores foi aprovada pelo Instituto Brasília Ambiental (Ibram), por meio de Autorização de Supressão Vegetal, a qual prevê que haja uma compensação pela vegetação removida. "Somente foram retiradas as árvores que interferiam no percurso. Nada mais. A legislação em vigor prevê que, para cada árvore nativa suprimida, cinco novas espécies nativas devem ser compensadas", afirma.
Opinião divergente
Apesar da explicação do Poder Público sobre a situação, nem todos aceitaram o argumento. A agente aeroportuária Sibele Marilac, 49 anos, foi uma das que não gostou da ideia. Ela atravessa o local todos os dias para ir ao trabalho. Para a moradora de Valparaíso (GO), sem a vegetação, os que andam pelo Setor Policial "vão torrar" debaixo do sol. "As paradas não tem proteção nenhuma contra o sol e ainda vão tirar a única coisa que gera alguma sombra aqui. Acho que vai ficar um pouco pior, principalmente nesse calor em que estamos vivendo", frisou. Apesar da indignação, ela entende que se houve compensação, o prejuízo é atenuado.
Já outros transeuntes não veem dessa forma. A neuropsicóloga Maria Lucilene, 60, vê que a ausência de sombra nesse calorão vai fazer falta, mas se isso for para um benefício maior, "está perdoado". "Se arrancá-las faz parte de um projeto de melhoria de mobilidade, está tudo tranquilo", disse. No entanto, ela frisa a necessidade de garantir a compensação pela vegetação removida. "Brasília é muito conhecida pela sua vegetação. O próprio projeto urbanístico tem essa preocupação", argumenta. E a moradora do Guará aproveita para deixar uma mensagem para quem ainda está reticente. "É preciso entender que o governo deve estar observando esses aspectos também. Vamos dar um novo olhar a isso", finalizou.
Entre a poda e o corte
O DF conta com uma rica vegetação, com mais de 200 espécies de árvores. Além do valor estético e paisagístico, elas desempenham um papel vital na qualidade do ar, na redução do calor urbano e na promoção da biodiversidade local, principalmente quando tratamos de uma metrópole.
A preocupação fica por conta dos números de cortes de árvores. Em 2022, foram suprimidos 11.050 indivíduos arbóreos (de janeiro a junho foram 4.825). Este ano, entre janeiro e junho, foram 6.098 árvores — aumento de 26,4% em relação ao mesmo período do ano passado.
No DF, o serviço de poda/corte de árvores fica à cargo da Companhia Urbanizadora da Nova Capital (Novacap), que atende solicitações de poda e corte abertas através da Central 162. "Um técnico do Departamento de Parques e Jardins (DPJ) se encaminha até o local do chamado e verifica a urgência no atendimento da demanda. Se for urgente, o técnico sinaliza que o órgão precisa atuar imediatamente e uma equipe é deslocada para o serviço. Se não for urgente, o chamado de poda entra na fila de atendimento", explica.
Nesse sentido, há padrões bem-definidos para a supressão de vegetação local. "Os critérios são técnicos e analisados pelos engenheiros florestais da Novacap. O solo, raiz, troncos, folhas, todas as questões relacionadas ao indivíduo são analisadas para que seja identificada a necessidade ou não de supressão", pontuam. Por isso, nada de pânico, afinal, "nem sempre que um chamado de supressão é aberto a árvore é, de fato, suprimida".
*Estagiário sob supervisão de Patrick Selvatti
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