Entrevista

Celina diz que trabalha para unir grupo em 2026; leia a entrevista completa

A ex-deputada federal e distrital é considerada a candidata natural à sucessão de Ibaneis Rocha, mas, em conversa com o Correio, ela avalia que o momento é de "construção de entregas e de semear para colher" nas eleições

Em meio a um cenário político conturbado no Distrito Federal, por conta dos atos antidemocráticos de 8 de janeiro, o nome da vice-governadora Celina Leão (PP) se destacou durante o período de substituição ao governador Ibaneis Rocha (MDB).

Em entrevista exclusiva ao Correio, Celina Leão falou sobre as dificuldades enfrentadas e as lições aprendidas durante os 66 dias em que ficou à frente do Palácio do Buriti. Além disso, opinou sobre assuntos como a batalha pelo Fundo Constitucional, seu futuro na política, violência contra a mulher e relação com o governo federal.

Vivemos um período bastante complicado no início do ano, por conta dos atos golpistas. Como foi substituir o governador Ibaneis Rocha em um momento tão conturbado?

Foi muito complicado porque você não se prepara para um momento como aquele. Mas a vida te prepara para algumas situações que você venha a passar. Os três mandatos que eu tive, com esse é o quarto, me prepararam para conseguir superar aquele momento de dificuldade. Naquela época, precisávamos trazer estabilidade política para nossa cidade de manter o nosso grupo, que é o mesmo do governador Ibaneis, unido, sem dificuldade e sem nenhum tipo de movimentação que fosse contrária ao nosso governador. E conseguimos. Mantivemos o governo caminhando, a lealdade ao nosso governador e trouxemos a normalidade à cidade.

Quais lições a senhora tirou durante esse período?

A primeira é que foi preciso ter muito pé no chão e cabeça tranquila. Tem que seguir, realmente, o princípio de caráter que você tem e acho que se revela muito nesses momentos de dificuldade. Além disso, exercitei muito o diálogo institucional republicano, como governadora. Isso foi muito importante para várias vitórias que tivemos, não só sobre o retorno do governador Ibaneis, mas o encaminhamento do projeto das forças de segurança, que foi negociado nesse período.

Sempre falo que não precisa levantar as mesmas bandeiras, e as nossas são diferentes. Isso é claro e visível para a população do Distrito Federal. Somos um governo de centro-direita e temos um governo federal de esquerda eleito, e a democracia é a convivência desses poderes com respeito. Assim como queremos o respeito ao nosso governo, respeitamos o governo federal, que foi eleito democraticamente. Acho que esse diálogo institucional republicano respeitoso beneficiou a população do Distrito Federal.

Outro grande destaque deste ano foi a luta pelo Fundo Constitucional do DF. Como foi essa longa batalha?

Foi uma construção histórica, em que também precisamos dialogar com o governo federal. A perda do Fundo Constitucional seria algo irreparável, a curto, médio e longo prazos. Brasília não sobreviveria. Começamos esse debate no Senado, onde teve uma participação muito atuante do senador Omar Aziz (PSD-AM), que foi o relator e puxou para si a responsabilidade e discutiu muito com os pares.

Acho que até por conta da minha trajetória política, de estar vivendo no Congresso Nacional, o governador incumbiu a mim essa missão, até porque o presidente da Câmara (Arthur Lira) e o relator (Cláudio Cajado) são do meu partido. Conseguimos resolver essa situação com êxito, mas não posso deixar de agradecer a todas as pessoas que foram importantes, a nossa bancada federal e os nossos senadores, que nos ajudaram. Além disso, alguns senadores de outros estados — que adotaram o DF como sua casa — também colocaram todo o empenho na questão do Fundo Constitucional.

Alguns políticos e parte da população ficaram incomodados com a ausência do governador nas negociações do FCDF. Por que ele preferiu ficar de fora das articulações?

Foi uma questão estratégica. O governador Ibaneis tem um jeito muito peculiar de governar, por isso ele é muito respeitado. Ele sabia que eu tinha uma condição, por ser do partido, e por se sentir representado, na minha presença. Foi um conforto que ele teve. Mas todas as vezes que era necessário, pedia para ele ligar e conversar com as autoridades. Ele sempre esteve junto, apesar de não estar aparecendo, nos bastidores, o governador Ibaneis estava ativo.

Em relação ao seu futuro político, a senhora tem uma ideia do cargo que pretende se candidatar nas próximas eleições?

Temos que pensar muito no nosso trabalho, que é o atual governo, fazendo uma boa gestão. É claro que há uma perspectiva de uma continuidade do nosso projeto político, mas eu acho muito cedo para a gente falar sobre eleição, propriamente dita. Tenho falado, com os nossos secretários e com os nossos grupos políticos, sobre trabalho, porque se você semear você vai colher o fruto daquilo que você fez de positivo para a cidade, a população reconhece aquilo que você faz. Estou mais preocupada com a nossa gestão, nas áreas que a gente tem mais fragilidade e no que eu posso ajudar mais o governador Ibaneis. Estou bem focada nisso. Sem contar que, um processo eleitoral antecipado, pode criar um pouco de mal-estar, um sentimento de arrogância. É claro que temos um projeto político de continuidade, mas isso vai ser construído em 2026.

Acha que a participação na briga pelo Fundo Constitucional foi positiva para a sua imagem?

Claro. Foi uma vitória da cidade, mas também foi uma vitória pessoal. Até porque, com a resistência que existia do (Cláudio) Cajado, os políticos adversários me criticaram e disseram que, se a gente perdesse, a culpa seria minha. Mas como ganhamos, também tenho que colher os frutos disso. Tenho certeza de que isso pesará em 2026, até porque foi uma batalha muito difícil.

A senhora chegou a saber sobre o fato do José Humberto Pires ter se lançado como candidato ao GDF? Qual é a sua opinião?

Acho que nosso grupo político vai se manter unido. Temos muito respeito pelo comando do nosso governador Ibaneis e, nesse jogo da política, destacam-se as pessoas que têm mandatos, que estão à frente e que estão com essa capacidade (de governar). Mas nosso grupo não vai se desfazer, existem vários cenários políticos que a gente precisa exercitar e a eleição passa por partidos e mandatários políticos, além do nosso governador. Sobre essa possibilidade de o José Humberto se candidatar, ele tem desmentido isso e tenho certeza que ele está à disposição daquilo de que o governador Ibaneis decidir. Esses tipos de ruídos fazem parte da política, mas não nos abala de forma alguma.

E sobre o futuro do próprio Ibaneis?

O governador está muito tranquilo. Ele tem, bem pavimentada, uma construção de Senado, pois vai sair consagrado como um governador que fez e deixou um legado para o Distrito Federal. Isso o capacita para buscar o cargo de senador da República, acredito que esse seja o caminho natural dele e acho que seria, talvez, um dos senadores mais votados da história do Distrito Federal, por ter quebrado recordes. Seria a coroação do trabalho do governador Ibaneis.

Como ficou a relação com o governo Lula, depois do forte apoio a Jair Bolsonaro nas eleições?

É preciso ter respeito dentro da democracia. Você não vai desconstruir o seu passado para construir o seu futuro. Você vai pegar aquilo que você fez de positivo, que era absolutamente natural, o meu partido era a base do governo, inclusive, tinha o ministro da Casa Civil. Então, é absolutamente natural nosso apoio ao ex-presidente Jair Bolsonaro. Sempre fui muito respeitosa nas minhas colocações. Respeito a divergência e nunca deixei de sentar na mesma mesa de uma pessoa que pensa totalmente diferente de mim, na hora de construir alguma coisa positiva para a cidade. Esse tem que ser o caminho para que a gente possa fazer o melhor para a nação.

Se arrepende do apoio que deu a Bolsonaro?

De forma alguma. Era o nosso caminho natural, o apoio a Bolsonaro e, da mesma forma que trabalhamos para que ele vencesse, fui nas minhas redes sociais, depois do resultado, falar que acreditava na nossa democracia e que as urnas eram soberanas. Temos que saber ganhar, perder e se reconstruir para uma próxima eleição.

Acha que a senadora Damares Alves pode ser candidata ao GDF em 2026?

É claro que ela tem total liberdade e tamanho para isso. Acredito que isso é uma decisão pessoal dela, mas todas as vezes que ela me encontra, sempre enaltece — não só internamente, mas publicamente — o nosso trabalho. Acho que, se ela vier candidata, será uma coisa absolutamente natural e eu respeito essa vontade, mas acredito que existe uma grande possibilidade desse grupo todo se unir.

Os crimes de violência contra a mulher têm crescido no DF. O que tem sido feito para coibir essa realidade?

Muitas vezes, a violência contra a mulher só é enxergada quando acontece o crime do feminicídio, mas se você chegar nas nossas delegacias, temos várias ocorrências de violência física, psicológica e ameaça. A regulamentação da legislação que multa os autores dos crimes que movimentam a máquina pública vai ser muito disciplinadora. Essa lei vai ser muito educativa, porque o cidadão vai sentir no bolso aquilo que ele achava que poderia passar impune. Temos também o Viva Flor, agora sendo alcançado na própria delegacia, a lei dos órfãos do feminicídio, que regulamentamos e os órfãos começam a receber o auxílio a partir de outubro. Além disso, lançamos uma campanha no metrô, que vai percorrer todas as estações do metrô.

Falando sobre o feminicídio, especificamente, o que pode ser feito de maneira efetiva e drástica para combater esse tipo de crime?

Conseguimos identificar que o feminicídio tem algumas algumas características que fomentam para que o crime aconteça. Primeiro, é a falta da denúncia. Se pegarmos os índices da Secretaria de Segurança Pública, muitas mulheres que morreram não tinham um registro de ocorrência contra o agressor. É por isso que criamos o programa Não se Cale. A segunda situação, é a mulher voltar a conviver com agressor. Às vezes ela, na boa-fé, não acredita que o homem teria coragem de repetir a violência. Sem contar a questão da dependência emocional e financeira. A terceira é a medida protetiva. Tem vítimas que estavam pedindo 'pelo amor de Deus' para não morrer para o Estado e foram mortas.

Temos grandes obras em andamento no DF, principalmente as rodoviárias, que têm complicado o trânsito e tirado a paciência dos motoristas. Acha que realmente é viável interferir em grandes vias, ao mesmo tempo?

Precisamos resolver o problema da nossa cidade. Esse incômodo é temporário, mas as obras são permanentes. Às vezes, a população não tem dimensão do quanto o DF tem crescido e do quanto de veículos novos têm sido emplacados. Não podemos esperar e fazer uma obra agora e a outra daqui um ano. Até porque tem um processo licitatório, uma ordem de serviço e um cronograma que é natural do processo hierárquico e burocrático do governo. O que temos feito é tentar monitorar o trânsito, 24 horas por dia, para a gente ver o que pode ser feito para minimizar esses impactos. Mas rápido vai passar, algumas obras estão sendo entregues, inclusive. A gente pede desculpa à população, mas logo vai passar e vamos poder chegar em casa mais cedo e curtir a família com mais tranquilidade.

A DF Legal tem feito grandes operações de derrubada em áreas irregulares. Por que o crime de grilagem é tão recorrente na capital do país?

A Terracap, em determinado momento, não conseguiu ofertar imóveis para a classe média, ou era muito caro, ou era a Codhab que fazia a entrega de moradia popular. Isso foi percebido pelo governador Ibaneis e estamos fazendo alguns empreendimentos para a classe média comprar de forma legalizada. O que as pessoas ainda não haviam entendido, mas agora começaram a entender, é que não adianta comprar o terreno grilado, pois ela vai pagar duas vezes. Não existe nenhuma fórmula de se regularizar terra pública que não seja a cobrança da área. Até porque a legislação não nos permite e o Ministério Público acompanha de perto.

 


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SUGESTÕES PARA FRASES

"Exercitei muito o diálogo institucional republicano, como governadora. Isso foi muito importante para várias vitórias que tivemos"

"Assim como queremos o respeito ao nosso governo, respeitamos o governo federal, que foi eleito democraticamente"

"Todas as vezes que era necessário, pedia para ele (Ibaneis) ligar e conversar com as autoridades. Ele sempre esteve junto (na briga pelo FCDF)"

"Foi uma vitória da cidade, mas também foi uma vitória pessoal (a retirada do FCDF do arcabouço fiscal)"

"Nesse jogo da política, se destacam as pessoas que têm mandatos, que estão à frente e que estão com essa capacidade (de governar)"

"Ele (Ibaneis) tem, bem pavimentada, uma construção de Senado, pois vai sair consagrado como um governador que fez e deixou um legado"