A capital do país tem apresentado um avanço cada vez maior na produção de mel. Os últimos dados da Emater-DF mostram que a quantidade de apicultores no Distrito Federal subiu quase três vezes, entre 2018 e 2022, passando de 68 para 199 criadores de abelhas. Além disso, a produção subiu quase quatro vezes no mesmo período de comparação, indo de 9.569kg para 36.739kg.
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Agora a perspectiva é de que o incentivo à apicultura avance cada vez mais na região. Isso porque, com o apoio da Fundação de Empreendimentos Científicos e Tecnológicos (Finatec), pesquisadores da Universidade de Brasília (UnB) estão desenvolvendo um aplicativo para que os apicultores saibam qual é o melhor ponto na propriedade para instalar o apiário e, assim, consigam o certificado de mel orgânico. Com o selo, a precificação pode aumentar em 50% e 100% pelo quilo do produto.
A tecnologia consiste em sobrevoar as propriedades com um drone para fazer imagens que posteriormente serão inseridas em um software e analisadas com o uso da inteligência artificial, que identificará o que há nos arredores da propriedade rural, apontando o melhor local para construir o apiário. Assim, os criadores de abelhas podem agregar valor ao mel e conseguir o certificado de produto orgânico.
O professor Sanderson César Macêdo Barbalho, do Departamento de Engenharia de Produção da Faculdade de Tecnologia da UnB coordena o projeto e relata que a necessidade de criar a tecnologia partiu dos desafios que envolvem a produção orgânica. "Principalmente no caso do mel, porque em um raio de 3km em torno da prioridade tudo tem que ser orgânico, não pode ter água suja, produção de hortaliças com agrotóxico, lixões, não pode ter frigorífico, e esse raio para pequenos produtores é difícil", diz o professor.
Com esse dispositivo, caso o produtor de mel peça a certificação, quando o técnico chegar para avaliar a área ele não vai precisa entrar em outras propriedades para se certificar que não há lavouras que usam agrotóxico nas proximidades das colmeias. "Numa propriedade de 10 hectares, o certificador teria que entrar em uma média de 10 propriedades vizinhas para avaliar se o mel é ou não orgânico. "Com o aplicativo, bastará ele colocar o drone no ar para saber a localização das colmeias e o que tem em sua volta", diz Sanderson.
Para Sanderson, o mel 100% orgânico tem um sabor diferente. "Ele tem mais flavonoides — componentes de baixo peso molecular encontrados em diversas espécies vegetais —, que são substâncias que melhoram o gosto e o potencial medicinal do produtol", explica. Segundo ele, quando as pessoas perceberem que a abelha é rentável, vão tentar protegê-las. "Hoje, o que ocorre é um extermínio por conta dos venenos", conclui.
A pesquisa tecnológica está em fase final e deve entrar em operação em novembro. Além de alavancar a produção do mel orgânico no DF e região, a nova tecnologia vai ajudar a combater o perigoso risco de extinção das abelhas, por colocá-las em apiários, evitando que suas colmeias sejam destruídas ou queimadas pela população.
Produtores
O projeto é desenvolvido com apicultores do assentamento Chapadinha, na região do Lago Oeste, produtores da Fercal, em Sobradinho, e outro grupo na região de Anápolis, em Goiás. Ao todo, são 45 produtores de mel.
O apicultor Florisvaldo Florêncio, 45 anos, trabalha com a produção de mel há cerca de 2 anos na região do catingueiro, na Fercal, na propriedade de 1,6 hectares que conta com cerca de oito espécies de abelhas. Ele está otimista com o projeto da UnB. "Esse mapeamento vai ajudar a produzir um mel orgânico e, com isso, ajudar a conseguir o certificado e aumentar a precificação do produto final", relata o apicultor.
Anselmo Ramos de Carvalho, 35, também é apicultor na mesma região de Florisvaldo e está com altas expectativas para utilizar o aplicativo na propriedade. "Estamos ansiosos para que isso aconteça porque vai agregar valor ao produto".
Estudar a biodiversidade da região também será importante para os apicultores. De acordo com o professor, com o conhecimento, os produtores poderão mapear o local e, até mesmo, fazer e saber a quantidade de caixas de abelhas que serão utilizadas por hectare.
Nelson Antonio Franzin, 69 anos, tem um apiário na região da Chapadinha, no Lago Oeste. Ele relata que o projeto da UnB é de suma importância para o plano comercial do produtor. "O apicultor, normalmente, tem dificuldade de saber sobre o pasto apícola das abelhas — onde a abelha circula — então, essa tecnologia vai ser fundamental para o apicultor. "Vamos descobrir as floradas que ocorrem em cada estação para posicionar melhor o apiário e saber a melhor época para colher o mel. Vamos conhecer as áreas que apresentam as melhores condições de vida para a abelha e, assim, produziremos mais", relata o produtor.