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Livreiro Chiquinho e poeta Sóter: a resistência da literatura de Brasília

Ao podcast Conversa com o Zé, o livreiro Chiquinho da UnB e o poeta José Sóter destacam a importância da Universidade de Brasília para a cultura local e relembram a trajetória na cena artística da cidade nos anos 1970

Chiquinho e Sóter relembraram detalhes da vida cultural da cidade na década de 1970 -  (crédito: Minervino Júnior/CB/D.A.Press)
Chiquinho e Sóter relembraram detalhes da vida cultural da cidade na década de 1970 - (crédito: Minervino Júnior/CB/D.A.Press)
postado em 28/10/2023 00:01 / atualizado em 28/10/2023 12:19

No quarto episódio do podcast Conversa com o Zé, o jornalista José Carlos Vieira recebeu o livreiro Francisco Joaquim de Carvalho, o Chiquinho da UnB; e o poeta José Sóter, editor da Semim, para um papo sobre a importância da universidade para a cultura de Brasília, a difusão da poesia na capital e a manutenção do hábito da leitura.

A conversa iniciou com José Carlos recordando a época em que conheceu Chiquinho, em 1978, ao ingressar na Universidade de Brasília. O livreiro, natural de Picos (PI), destacou que UnB sempre foi vanguarda no que se refere à literatura, à arte e ao cinema. "Ter ido trabalhar na universidade selou o meu destino e cresci sendo o observador de uma época. Há 48 anos, estou lá e me considero um espectador privilegiado", comentou.

Em um momento político delicado, era nos corredores do Minhocão que se firmavam ideias inovadoras. Momentos emblemáticos recordados por Chiquinho incluem a entrega do título de doutor honoris causa a Darcy Ribeiro, em 1995; a palestra do Nelson Mandela, em 1992; e a entrega do título de doutor honoris causa a José Saramago, no qual o livreiro ganhou um autógrafo do autor, com a ajuda do editor Luiz Schwarcz, que o definiu como o melhor livreiro de Brasília.

Na capital, Chico trabalhou em várias bancas de jornal e livrarias, aproximando-se de publicações de vanguarda e de circulação nacional, como a revista Realidade e O Pasquim. Na livraria Galilei, em 1978, conheceu o livreiro Nelson Abrantes, que lhe apresentou diferentes e importantes obras. "Tinha até pesadelos com tantos títulos na cabeça", contou, aos risos.

Em certa ocasião, conheceu e tornou-se amigo da escritora Cora Coralina na cidade de Goiás Velho (GO). Ali, o livreiro pegou o primeiro autógrafo de um autor, assinatura que, para ele, tem validade documental. Assim, passou a frequentar bienais e feiras do livro, para conhecer, conversar, vender livros e, claro, pegar autógrafos de diferentes personalidades.

Na UnB, começou a vender livros de mão em mão, frequentando os departamentos e perguntando quais exemplares os professores precisavam. A demanda por pedidos cresceu e Chiquinho tornou-se cada vez mais conhecido. "Esse é o grande charme do livreiro, conhecer o mundo todo dentro daqueles livros e conseguir identificar a obra certa para o leitor certo", pontuou José Carlos.

Já José Luiz do Nascimento Sóter, o poeta Sóter, natural do Catalão (GO), recordou o momento em que, recém-chegado na capital, nos anos 1970, teve a oportunidade de cair no "redemoinho" cultural brasiliense. Questionado sobre quando se reconheceu como poeta, o escritor disse: "O mais difícil para o poeta é se assumir poeta. Em Catalão, eu era o Zé Luiz, que escrevia bilhetinhos românticos para os amigos entregarem às namoradas. Em Brasília, tornei-me o Sóter".

No quadradinho, o poeta sempre se preocupou com a criação de diferentes veículos para a divulgação dos versos, visando ocupar os espaços públicos, ao ar livre, em botecos e em portas de teatros. Fez fotopoema, o SOS Poético, em que colocava um poema nas garrafas de vinho e jogava no Lago Paranoá e, mais recentemente, colocou suas criações em formato de agenda.

"Faça você mesmo"

"Os poetas não eram de ficar esperando os 'louros', eram de ir para a rua, num movimento 'faça você mesmo'", relembrou o escritor. Com essa perspectiva, fundou a editora Semim, na qual o foco era mais se expressar do que apenas comercializar um produto. Lá, ele e amigos escritores aderiram à serigrafia, usada nas capas dos livros, e aos carimbos, utilizados nos títulos das obras.

No que tange ao consumo de literatura hoje, Sóter opinou que o livro ainda atrai as pessoas, enquanto Chiquinho apostou que, em 2024, acontecerá o renascimento do livro físico. "Gostaria que, quando as pessoas viessem a Brasília, conhecessem a minha livraria, um ponto de encontro para conversas, mais do que venda de títulos", disse o livreiro. 

 


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