DENÚNCIA

Banco Central determina ajustes em balanço do BRB

Banco de Brasília incluiu, no balanço do primeiro trimestre do ano, R$ 77 milhões como receitas recebidas de um negócio com a Santa Casa de Lisboa que não foi concretizado. Instituição portuguesa contratou auditoria

Instituição portuguesa cancela parceria com o Banco de Brasília, depois de auditoria -  (crédito:  Ed Alves/CB)
Instituição portuguesa cancela parceria com o Banco de Brasília, depois de auditoria - (crédito: Ed Alves/CB)
postado em 27/10/2023 05:56 / atualizado em 27/10/2023 06:00

Lisboa — O Banco de Brasília (BRB) tentou inflar seu balanço ao lançar como receita um valor de R$ 77 milhões (14 milhões de euros) que receberia, ao longo de sete anos, da Santa Casa de Misericórdia de Lisboa. A quantia viria de uma parceria na área de loterias entre o banco e a instituição portuguesa, que resultou na criação da BRB Loterias, da qual o banco ficou com 50,1% do capital e os portugueses, com 49,9%.

Agora, sabe-se que o dinheiro não virá nem em sete anos nem nunca. A atual diretoria da Santa Casa de Lisboa suspendeu o negócio com o BRB por considerá-lo inviável. Além de não haver nenhuma garantia de que a operação seria lucrativa, a instituição portuguesa cederia toda a sua expertise na gestão de jogos, já que controla esse mercado em Portugal. A parceria entre o BRB e todas as operações da Santa Casa no Brasil estão sob auditoria da multinacional BDO. Os resultados devem sair em novembro.

Inexistentes

O caso das loterias foi apenas uma das inconsistências que o Banco Central encontrou no balanço do BRB referente ao primeiro trimestre deste ano. Segundo a autoridade monetária, que tem como uma de suas missões manter a saúde do sistema financeiro, as contas do Banco de Brasília apontaram um buraco de R$ 321 milhões. São receitas que não existem, como o pagamento de R$ 75 milhões referentes a um aumento de capital da instituição com ações da BRBCard. Para o BC, esse registro contábil é totalmente inconsistente, assim como o lançamento de R$ 169 milhões referentes a um deságio na compra, pelo banco, de aproximadamente 30% das ações da BRBCard que pertenciam ao Governo do Distrito Federal.

O Banco de Brasília, por determinação do BC, terá de refazer os balanços do primeiro e do segundo trimestres, de forma a expressarem a real situação contábil. O BRB, no entender do Banco Central, deve primar pela segurança de seus números, requisito fundamental dentro do sistema financeiro e do mercado de capitais. A instituição pública tem ações negociadas em Bolsa de Valores. Os papéis ordinários (ON), que dão direito a voto, acumulam queda de 30,56% no acumulado de 12 meses.

Auditoria

O BRB informa que segue os padrões contábeis amplamente aceitos para instituições financeiras no Brasil e que todas as suas demonstrações contábeis são auditadas por empresa de auditoria independente. Todas as determinações do BC são cumpridas integralmente pela instituição e já estão adequadamente refletidas nas demonstrações financeiras relativas a 30/6/2023.

O banco alcançou, nos últimos anos, resultados recordes, tendo ampliado sua base de clientes de 650 mil para mais de 7 milhões, e seus ativos, de R$ 15 bilhões para R$ 45 bilhões, além de possuir clientes em 93% do território nacional. O lucro líquido acumulado desde 2019 chega a R$ 2 bilhões, com mais de R$ 850 milhões em dividendos distribuídos.

Um dos elementos importantes na transformação do BRB foi sua reorganização societária, que se encontra em fase de conclusão, além de operações de fusões e aquisições, dentre as quais a de lançamento de uma empresa de exploração de loterias.

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