O corpo de Maria de Deus Fernandes Crateus, 64 anos, vítima do capotamento de ônibus ocorrido na BR-070, foi sepultado na tarde desta segunda-feira (23/10), no Cemitério Campo da Esperança da Asa Sul. O acidente aconteceu no sábado (21/10), na altura de Ceilândia. O veículo transportava 32 passageiros, dos quais cinco morreram e 17 ficaram feridos.
A aposentada era natural de Coelho Neto, no Maranhão, tinha quatro filhos, netos e era apaixonada por viajar. “Deusinha”, como era carinhosamente chamada, tinha o sonho de morar em Brasília com a família e, recorrentemente, passava temporadas na capital. “Para ela, não tinha tempo ruim, pois estava sempre animada”, comentou a prima Ana Lúcia Leal, 47.
“Estávamos preparando uma comemoração para a sua chegada, como tínhamos o costume de fazer, mas soubemos pela televisão do acidente e logo corremos para os hospitais de Taguatinga e de Ceilândia em busca de notícias”, recordou Ana Lúcia. Quem estava no local da tragédia e identificou o corpo de Deusinha foi o genro Lourival Martins, 53, responsável por buscá-la na rodoviária.
Foi com Lourival que Maria de Deus teve o último contato por mensagem — via áudios — na qual informou sobre o ônibus ter sido parado e escoltado pelos fiscais da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT). “Quando soube do acidente, corri para o local do capotamento. Reconheci Deusa pelos brincos que sempre usava e fiquei transtornado”, lamentou.
Bárbara Crateus, 30, sobrinha da aposentada, reforçou que a tia viajava frequentemente com essa empresa de ônibus e não sabia que se tratava de um transporte irregular. "Vamos acompanhar as investigações do Ministério Público e acreditamos que o crime será julgado como homicídio doloso, quando se assume o risco de matar", avaliou a jovem, que é advogada.
O veículo, que fazia o trajeto Maranhão-Brasília, não tinha autorização para realizar o transporte interestadual de passageiros, estava sem seguro e com os pneus carecas, segundo informações da ANTT. No mesmo dia, o motorista que dirigia o ônibus, Felipe Alexandre Gonçalves Henriques, e o pai dele, Alexandre Henriques Camelo, dono da empresa de transporte de turismo responsável pelo veículo, foram presos em flagrante.
Tragédia
O acidente ocorreu após o ônibus ser parado no posto da Polícia Rodoviária Federal (PRF) da BR-070, onde agentes da ANTT realizaram uma vistoria e encontraram irregularidades no veículo, constatando que se tratava de transporte pirata, conforme informou a Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF). Assim, os fiscais iniciaram uma escolta do ônibus até o terminal rodoviário mais próximo — em Taguatinga —, como é padrão neste tipo de flagrante, para que os passageiros pudessem desembarcar e o veículo fosse apreendido.
A empresa ficaria, ainda, responsável por arcar com os custos do restante da viagem dos que embarcaram, para que seguissem por outra linha, em situação regular. Entretanto, em uma tentativa de fuga, o motorista teria arrancado em alta velocidade durante o trajeto entre o posto da PRF e o terminal rodoviário, perdendo o controle do veículo. Em nota, a ANTT afirmou que não houve perseguição por parte da equipe da agência.
Felipe disse, em testemunho à PCDF, que quem estava dirigindo o veículo no momento do acidente era o pai. Alexandre, por sua vez, garantiu que não estava fugindo da fiscalização, uma vez que o ônibus estava cheio e os fiscais estavam em posse dos documentos dos passageiros. Segundo a versão dele, o ônibus derrapou devido a uma caminhonete que freou na frente do veículo, fazendo-o perder o controle. O teste de bafômetro foi feito no local e comprovou que nenhum dos dois ingeriu bebida alcoólica. Ambos responderão na Justiça por homicídio qualificado.
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