O administrador de empresas Assis Rocha, que participou do Podcast do Correio desta quinta-feira (18/10), foi um dos brasileiros que retornaram de Tel Aviv, em Israel, no primeiro avião da Força Aérea Brasileira (FAB) enviado para recolher repatriados, logo após o acirramento do conflito entre Israel e Palestina. Ele é o responsável, no Distrito Federal, pelas peregrinações da instituição católica Obras de Maria, que organiza viagens de fiéis a pontos religiosos distintos. Em entrevista aos jornalistas Adriana Bernardes e Lucas Mobile, Rocha contou que viu de perto a mais recente retomada dos bombardeios. Destacou que embora entenda a causa palestina por um território, "não é possível compactuar com o terror".
- Número de brasileiros resgatados em Israel chega a 916; entenda repatriação em curso
- Primeiros 211 brasileiros resgatados em Israel chegam a Brasília
- Israel-Palestina: entenda como começou este conflito histórico centenário
- Guerra Israel-Hamas: Faixa de Gaza está à beira do colapso humanitário
O que é exatamente a instituição católica Obras de Maria?
O que vocês fazem?
É uma comunidade católica de leigos. Foi fundada por um leigo chamado Gilberto, em Recife (PE). No início, ele pretendia juntar alguns jovens para evangelizar, a partir de uma experiência pessoal que teve com Deus. Reuniu jovens na periferia, foram morar juntos com esse intuito de evangelizar de todas as formas, com alegria. A partir desse trabalho ele começou a solidarizar-se com os pobres e com as realidades difíceis. A Obras de Maria foi abraçando essas causas. Nosso fundador conseguia se relacionar muito bem com as pessoas e levava muita gente para viajar para Aparecida (SP) e para a comunidade de Canção Nova, em Cachoeira Paulista (SP). Até que surgiu a oportunidade de expandir as viagens para Fátima, em Portugal, e para Roma, na Itália. Não se trata apenas de uma empresa de turismo, mas uma missão. As viagens são realizadas com o intuito de levar as pessoas aos lugares religiosos.
O senhor estava em Israel quando a guerra começou e voltou ao Brasil no primeiro avião da FAB. Pode falar a respeito dessa experiência?
Nossa viagem durou 12 dias. Sempre as viagens iniciam na parte da Galileia, no norte de Israel. Quando estávamos descendo para Jerusalém o guia me falou que houve um ataque e que não sabia o que iria acontecer. Fomos para Jerusalém. Quando chegamos lá, nos acomodaram e nos deram umas instruções de segurança. O Ministério de Turismo pediu a todos para não sair do hotel e nos deu orientação sobre o que fazer, caso o alarme soasse na cidade. No início fica aquela apreensão, mas o grupo não viu nada. O que tivemos foram dois alarmes e ficamos numa sala, no subsolo do hotel, onde celebramos uma missa.
O senhor disse que já foi quase 50 vezes a Israel. O clima é sempre de tensão?
Conhecer Israel é uma experiência fantástica para nós que temos fé. A gente sabe das tensões, mas sempre é uma coisa muito regionalizada, muito fechada ali em Gaza e em áreas onde eles têm interesse em destruição. A gente sabe que existe um conflito, que não há paz. Aquela causa humanitária, aquela causa que a Palestina carrega é uma coisa que põe essa rixa eterna entre eles, que não vai terminar tão cedo, mesmo que se mate todos do hamas. A causa palestina é muito maior do que isso. Não aprovamos esse terrorismo todo, mas a causa do povo, daquelas pessoas que estão ali lutando pelo direito ao seu espaço também tem que ser objeto de reflexão.
O que o senhor pode contar sobre a origem dessa guerra?
O que a gente entende numa visão bem brusca é que ali era uma região dominada pela Palestina, tudo era Palestina. Os judeus foram embora e, depois, voltaram. Foi definida, pela ONU, uma divisão de Estado, mas essa divisão não foi respeitada por Israel e se criou a causa palestina, que é a luta dos palestinos pelo seu território. Em meio a esse conflito entram os grupos extremistas, entram os terroristas e aí vem uma forma errada de reivindicar. Há muitos árabes que vivem em Israel, mas eles carregam dentro de si a causa palestina, porque é do seu povo, da sua raça, da sua etnia. Então, a causa para eles é muito mais forte do que a cidadania, eles sempre vão lutar por isso. A causa palestina é algo com que todos nós temos que nos preocupar, porque os palestinos são as pessoas mais pobres e mais simples que existem. Mas, claro, nunca vamos apoiar o terror. Eu jamais apoiaria um grupo extremista ou o terrorismo.
* Estagiário sob a supervisão de Hylda Cavalcanti