Há menos de uma semana, o mundo foi surpreendido por um novo capítulo na guerra entre muçulmanos e judeus, que já resultou na morte de milhares de palestinos e israelenses. No Distrito Federal, ainda que geograficamente distantes da Faixa de Gaza, famílias sofrem com a angústia e preocupação com a segurança de entes queridos que moram na região.
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O comerciante Omar Nasser, 62 anos, chegou a Brasília há 18, como refugiado. "A guerra, na verdade, nunca parou um dia sequer", assinala o morador de Ceilândia. Ele veio com a esposa e parte dos filhos para o Brasil, mas outros dois, além de tios e outros parentes, ainda moram em Ramallah, território palestino na Cisjordânia, a cerca de 20 quilômetros de Jerusalém. "A guerra ainda não chegou lá, mas há muita preocupação, porque o conflito deve aumentar. Em Ramallah, muita gente tem parentes na Faixa de Gaza", relata.
Nasser conta que o filho ficou na região para cuidar das terras que tinha, mas que acabaram sendo perdidas no conflito. Hoje, restaram apenas a casa e o comércio que é cuidado pelo filho. Omar também tem uma filha que mora em Ramallah, que já casou e lhe deu netos. "Já chamei várias vezes para eles virem para cá, mas decidiram ficar", lamenta.
O também comerciante Wassim Mohammad Karajah, 40, nasceu no Brasil, mas foi criado em território palestino, onde ainda vivem os pais e vários tios e primos. "Como não me preocupar? Por enquanto, o conflito não chegou ao lugar onde moram, mas tenho certeza que um dia vai. A guerra não vai acabar por agora e quem está pagando a conta são os civis dos dois lados. Todo mundo está preocupado", lamenta o morador de Samambaia.
O pai de Wassim, que já prestou serviços para o governo palestino, hoje é aposentado. "Meus pais já vieram várias vezes para o Brasil. Mas, infelizmente, eles preferem ficar na terra deles", diz o comerciante, que vive na capital há 25 anos.
Fogo cruzado
O presidente da Comunidade Judaica, com sede em Taguatinga, Edson Bendanan, afirma que há pelo menos cinco membros em Israel no momento, em cidades como Jerusalém e Berseba, que fica localizada mais próxima da Faixa de Gaza. "Mantemos contato constante com eles. Há um temor em relação ao Líbano e à Síria, mas as tropas israelenses já estão no norte do país para evitar invasões na região. Mesmo assim, há o temor de ficar em meio ao fogo cruzado", observa o presidente.
No momento, não há voos comerciais saindo de Israel, mas Bendanan conta que, quando possível e necessário, a comunidade se mobiliza para comprar as passagens para aqueles que decidem voltar para o Brasil.
S.Francys, 38, chegou em Jerusalém há dois meses para concluir os estudos requisitados para se tornar rabino. Quando o conflito estourou, ele decidiu se mudar para o distrito de Haifa, no norte do país, onde está hospedado temporariamente na casa de amigos, enquanto os ânimos não arrefecem.
"Em Jerusalém, todo mundo começou a estocar comida em casa. Onde eu moro é de difícil acesso, cercado por árabes", lembra. Em Brasília, mora em Águas Claras, onde também vivem a mãe, a irmã e uma filha. "Elas ficam muito aflitas. Porque é o maior conflito desde a Guerra de Yom Kippur, em 1973. Minha mãe e minha irmã mandam mensagem a cada cinco minutos. Se não respondo logo, elas já acham que algo aconteceu", revela o empresário.
O plano era voltar em seis meses para Brasília. Francys quer dar continuidade aos estudos, mas está sentindo falta da cidade natal. "Existe uma frustração em relação aos estudos que foram interrompidos, mas esse sentimento é suplantado pelo medo e pela tensão", observa o futuro rabino.
Sem volta
Ester Guimarães, 23, mora em Israel desde 2019 e conseguiu a cidadania israelense há três meses. Ela estuda hebraico em Jerusalém. "Há muitos bairros árabes, então a recomendação é ficar em casa. Nas ruas, vemos apenas pessoas fazendo trabalho voluntário ajudando os israelenses que fugiram do sul do país deixando tudo para trás, dando roupas, agasalhos e divulgando a campanha de doação de sangue", relata ela.
Antes de ir para o Oriente Médio, Ester morou por um período em Brasília, onde ainda moram uma prima e tias. "Gosto muito do Brasil e sinto muita falta dos meus familiares, mas não pretendo voltar. Aqui é minha terra e meu povo", confessa.
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