Mobilidade urbana

Vendas de veículos elétricos aumentam 111% em dois anos. Veja os prós e contras

São mais de 3 mil elétricos/híbridos no DF. Apesar do preço alto, especialistas e usuários apontam que a economia com combustível e a manutenção podem compensar ao longo do tempo. Falta de eletropostos é o grande desafio

O arquiteto e urbanista Rogério Markiewicz passou a utilizar carro elétrico pela sustentabilidade -  (crédito:  Kayo Magalhães/CB/D.A Press)
O arquiteto e urbanista Rogério Markiewicz passou a utilizar carro elétrico pela sustentabilidade - (crédito: Kayo Magalhães/CB/D.A Press)
postado em 17/10/2023 06:08

Em meio a tantas variações nos preços dos combustíveis, os modelos elétricos/híbridos têm ganhado espaço no mercado. No Distrito Federal, até setembro deste ano, havia 3.179 veículos do tipo registrados pelo Departamento de Trânsito (Detran-DF), número 45% maior que o de 2022, com 2.194 modelos na capital do país. Se comparado a 2021, o aumento foi de 111,6%, quando o DF contava com 1.502 carros.

Para o economista, sociólogo e professor de mercado financeiro da Universidade de Brasília (UnB) César Bergo, antes de saber se esse tipo de veículo é vantajoso, é importante se atentar para o perfil do condutor/consumidor. "Se ele tem um perfil urbano, de utilização constante do carro, com deslocamentos frequentes, haverá uma grande vantagem, pelo fato de a energia elétrica ser mais barata que o combustível", aponta. "Alguns fabricantes colocam essa economia entre 50% e 73%. Outro aspecto é que o carro elétrico dispensa manutenção e troca de óleo", acrescenta Bergo.

Mesmo assim, o especialista avalia que, na hora de decidir pela compra do elétrico/híbrido, é necessário fazer a conta no na ponta do lápis. "O preço desse meio de transporte é bastante elevado. Por isso, é preciso calcular se a economia com combustível e outros itens, no caso dos elétricos, vai compensar ao longo dos anos, em relação ao que será gasto na aquisição do veículo", alerta. "Considerando também a questão econômica, temos a questão das baterias. Quando termina sua vida útil, o valor a ser gasto com a troca é praticamente o de um veículo novo, o que pode prejudicar uma possível revenda", pondera.

  • O arquiteto e urbanista Rogério Markiewicz passou a utilizar carro elétrico pela sustentabilidade
    O arquiteto e urbanista Rogério Markiewicz passou a utilizar carro elétrico pela sustentabilidade Kayo Magalhães/CB/D.A Press
  • Vítor Ramagem se apaixonou pelos modelos elétricos aos 10 anos e comprou o primeiro no ano passado
    Vítor Ramagem se apaixonou pelos modelos elétricos aos 10 anos e comprou o primeiro no ano passado Kayo Magalhães/CB/D.A Press
  • Apesar da pequena quantidade, os veículos elétricos e híbridos estão em uma crescente constante no DF
    Apesar da pequena quantidade, os veículos elétricos e híbridos estão em uma crescente constante no DF Kayo Magalhães/CB/D.A Press

Sustentabilidade

Professor de Engenharia Elétrica do Ceub, Luciano Duque traz outras vantagens dos veículos elétricos. "A primeira é em relação ao ruído. Ele não emite tanto barulho quanto os carros à combustão. Além disso, o carro elétrico é menos poluente", detalha. "Como grande desvantagem, temos a autonomia. Não existe uma grande quantidade de pontos de recarga, se compararmos com os postos de gasolina, que estão espalhados pela cidade", pondera o especialista.

Duque lembra ainda que a maior parte dos condomínios, principalmente os verticais, não estão preparados para os veículos elétricos. "Eles têm projetos antigos e, por isso, não foi prevista uma estrutura de energia para suportar um ponto de recarga", destaca. Mas isso não foi um problema para o arquiteto e urbanista Rogério Markiewicz, 59 anos. Morador da Asa Sul, ele conta que adquiriu o modelo 100% elétrico há oito anos, quando o mercado ainda era uma grande novidade no país. "Me arruma uma tomadinha de três pinos, que faço miséria", brinca.

"No meu caso, especificamente, comprei pela questão da sustentabilidade e pelo meu lado profissional. Minha formação de urbanista teve uma importância muito grande, pois eu exigia que as construções fossem o mais sustentável possível, mas não estava fazendo algo no meu dia a dia", comenta o arquiteto.

Hoje em dia, segundo ele, além da sustentabilidade, o que é levado em conta é a economia. "O preço de compra ainda 'pega', mas a conta fecha ao longo do tempo. Carrego uma vez e rodo praticamente a semana toda. Acaba que não gasto energia elétrica na minha casa. No fim do mês, o custo fica tão baixo que não chega a R$ 70 por mês", calcula Markiewicz, afirmando que gasta R$ 0,11 por quilômetro rodado, enquanto o valor chegava a mais de R$ 0,50 no carro à combustão.

Sobre a manutenção, o arquiteto conta que, em oito anos que tem carro elétrico, trocou apenas filtro de ar-condicionado. "Fora isso, o gasto é com freios e pneus, pois é um veículo que não tem óleo, não tem vela, não tem correia, entre outros itens que geram gastos periódicos", destaca.

Paixão e economia

Assim como ele, o também morador da Asa Sul Vítor Ramagem, 26, tem um veículo 100% elétrico e não se arrepende da compra. "Achava um saco ter que sair abastecer, pagar R$ 250 de gasolina, enquanto poderia estar fazendo isso na minha casa, gastando R$ 50 para carregar o carro de bateria maior, sem ter que me deslocar", desabafa. "Mês passado, por exemplo, tive gasto zero de energia em um dos carros que dirijo, porque não tive que carregar em casa", compara Vítor explicando que a recarga foi feita no estacionamento de um shopping.

O cirurgião dentista conta que conheceu os carros elétricos em 2006, quando tinha 10 anos. "Comprei meu primeiro veículo no fim de 2022, vai completar um ano em dezembro. Mas a paixão foi tão grande que, em sete meses, compramos três carros elétricos lá em casa", brinca.

Mas há quem prefira os híbridos, Talitha Freire, 40, moradora do Park Way. A advogada comprou o modelo em 2021, pois queria um veículo que fosse menos agressivo ao meio ambiente. "Além disso, detesto parar em posto para abastecer. Em relação à economia, percebi desde a aquisição do carro, pois parei de abastecer com a mesma frequência de quando tinha um carro convencional", detalha.

Mesmo assim, ela conta que não é só alegria. Para Talitha, um dos principais pontos negativos para quem tem carro elétrico/híbrido é a recarga. "São poucos pontos e, quando tem, normalmente é um ou dois carregadores", lamenta. "Então, a minha intenção é seguir com o híbrido, até porque acho que, no Brasil, a gente ainda não tem condição de ter um veículo 100% elétrico, não me sinto segura, por conta da recarga", argumenta a advogada.

Em nota, o governo do DF informou que existem 34 eletropostos públicos (confira o quadro acima), que fazem parte de um acordo assinado com a Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABI). Além disso, um novo documento foi firmado neste ano, com o objetivo de continuar o fomento da eletromobilidade no Distrito Federal. "Está sendo feito um levantamento dos referidos eletropostos para que a ABDI realize a manutenção e o remanejamento", disse o texto enviado, ressaltando que não há uma data específica para a conclusão do levantamento.

Motos também ganham espaço

 

Equipe da Origem, startup de motos elétricas do DF
Equipe da Origem, startup de motos elétricas do DF (foto: Origem/Divulgação)

A primeira projetista e fabricante de motos elétricas do Brasil surgiu em Brasília. Fundada pelos engenheiros Diogo Lisita, Felipe Borges e Pablo Estrela, em 2017, a empresa surgiu como startup e construiu uma fábrica própria na Zona Franca de Manaus, capaz de alcançar a capacidade produtiva de 100 mil motos elétricas por ano. Diogo Lisita, sócio-fundador e CEO da empresa, contextualiza que o objetivo da fabricante é garantir uma ferramenta de trabalho para o piloto se mover livremente, com segurança e baixo custo.

Ele reconhece a dimensão do desafio de viabilizar a mobilidade urbana, começando pelo DF. "O desafio é grande. Temos que entregar veículos com performance equivalente ou superior às alternativas à combustão, com uma solução de recarga eficaz e conveniente, em um arranjo financeiro saudável para os clientes", ressalta.

A complexidade, no entanto, é o que motiva a operação, que conta com mais de 100 funcionários em Brasília e Manaus. "Já passou da hora de os veículos elétricos deixarem de ser artigos de luxo. Para isso, nos comprometemos com a construção da maior infraestrutura de recarga de veículos elétricos do país, buscando uma jornada sem interrupções para os pilotos", ressalta o CEO.

Ele se refere às Estações de Troca de Bateria (ETBs), projetadas, fabricadas e instaladas pela própria empresa de motos elétricas, sempre em locais estratégicos para as rotas profissionais. A rede, que é a maior no país, conta com mais de 50 ETBs instaladas no Distrito Federal. Até o final de 2023, segundo a fabricante, estão previstos mais de 100 pontos na região.

Além disso, a empresa conta com a modalidade de moto elétrica por assinatura, voltada para empresas, frotistas, operadores logísticos e condomínios, por meio de planos mensais de assinatura com custo fixo e sem caução. (AS)

 Três pergundas para...

Ricardo Bastos, presidente da Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE)

Como o senhor avalia o cenário de veículos elétricos/híbridos no DF?

A eletromobilidade no Distrito Federal teve um crescimento expressivo depois da importante decisão do governo local de isentar a cobrança de IPVA de veículos elétricos e híbridos, no final de 2021. O resultado dessa política foi imediato: em dois anos, Brasília tornou-se a segunda cidade do país que mais emplaca veículos eletrificados (elétricos puros e híbridos), ficando atrás apenas de São Paulo e acima de todas as demais capitais brasileiras.

Em relação ao mercado, qual a sua opinião sobre o crescimento no DF?

Brasília tornou-se uma cidade líder em eletromobilidade, mas sua posição no ranking de vendas de veículos convencionais não se alterou significativamente. Que conclusões podemos tirar desses números? Esse crescimento indica de forma muito didática que, tendo os incentivos adequados, o consumidor responderá positivamente à eletromobilidade, dando preferência ao veículo elétrico sobre o veículo à combustão em sua decisão de compra. Como, aliás, tem acontecido nas cidades e países que apostaram no transporte sustentável.

 Acha que a capital do país está preparada para um possível "boom" desse tipo de veículo?

Acredito que Brasília já está ciente do crescimento desse mercado. O governo distrital se prepara para adotar uma legislação que determine uma previsão de infraestrutura de recarga nos novos edifícios comerciais e residenciais. Essa é uma medida indispensável para o DF se preparar para esse crescimento. Cabe notar que as próprias montadoras já estão fazendo investimentos em infra de recarga, acompanhando a evolução da demanda. Mas acho que a capital do país poderia dar um passo além. Por exemplo, adotando uma política ativa de incentivos à instalação de carregadores públicos rápidos e ultrarápidos nos principais corredores de trânsito.

 

Onde recarregar

» Administrações regionais de: Sobradinho, Águas Claras, Guará, Samambaia, Vicente Pires, Paranoá, São Sebastião, Ceilândia, Sudoeste, Lago Sul, Lago Norte, Varjão, Fercal, Brazlândia, Planaltina, Taguatinga e Riacho Fundo;

» Câmara dos Deputados, Anexo IV do Congresso Nacional;

 » Ministério da Ciência e Tecnologia;

 » Secretaria de Meio Ambiente;

» Secretaria de Saúde;

» Parque de Apoio;

 » Emater-DF (Antiga Secretaria de Saúde -Sede);

 » Secretaria de Estado de Segurança Pública DF (Estacionamento);

» Ceasa — Centrais de Abastecimento de Distribuição (Estacionamento interno);

 » Novacap — (Estacionamento interno, em frente ao BRB);

 » Hospital das Forças Armadas (HFA) — (Estacionamento interno);

 » Fundação de Apoio à Pesquisa (FAP);

 » Secretaria de Estado de Desenvolvimento Urbano e Habitação (Seduh);

 » Tribunal Regional Federal (TRF);

» Palácio do Buriti (P-1 e P-2);

» Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI);

» Parque da Cidade Sarah Kubitschek (Estacionamento 13);

 » Reciclotech (Gama).

 Fonte: GDF

 

 

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