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Sem ajuda de governos, projeto muda a realidade de crianças e adolescentes

Sem recursos de governos, clube de atletismo do Paranoá e do Itapoã ajuda os frequentadores a buscar um futuro melhor, longe das drogas e da cultura de violência a que estão submetidos os jovens das duas regiões

Treinos são realizados de segunda a sexta-feira na pista de atletismo do Paranoá  -  (crédito: Divulgação/Ascapi)
Treinos são realizados de segunda a sexta-feira na pista de atletismo do Paranoá - (crédito: Divulgação/Ascapi)
postado em 18/10/2023 06:03

Um projeto social das regiões administrativas do Paranoá e do Itapoã tem exercido papel fundamental na vida de jovens e crianças. A Associação de Atletismo do Paranoá e Itapoã (Ascapi), de acordo com seu fundador, Gilvan Ferreira, 58 anos, é um daqueles exemplos de iniciativas onde a mão do governo não alcança. Criado há aproximadamente 14 anos, o programa surgiu depois que Gilvan começou a praticar corrida com sua filha e decidiu incentivar outras pessoas no esporte. O que no início era um passatempo, no futuro teria um importante valor social para a comunidade.

Segundo o criador do Ascapi, além de formar grandes atletas, o clube sempre buscou formar cidadãos de bem. "Tirar a criançada do meio das drogas, da prostituição, do tráfico é um dos nossos principais objetivos. Eu não tenho conhecimento de nenhum atleta meu que entrou no mundo do crime e esse é meu maior orgulho", afirma, acrescentando que encontra ex-alunos estudando ou exercendo carreiras como na polícia. "Todos seguiram o caminho certo", completa o treinador.

Mudanças

Para Angra Diogo, 38, o clube surgiu como uma bênção na vida dela, pois tem sido fundamental para o desenvolvimento do filho Cícero Alves, 12, diagnosticado com Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) e de Transtorno do Espectro Autista (TEA). "Antes de começar a frequentar o clube, ele era um garoto muito fechado, a única pessoa que ele era apegado era a mim", comenta. Segundo ela, depois que começou a participar das aulas "o garoto passou a se socializar mais, conversar mais, até mesmo a fala dele mudou", avaliou a mãe.

Cícero treina desde os 9 anos, e desde então a evolução dele é progressiva em diversas áreas, de acordo com a mãe. "Todos os dias que nós saímos dessa pista (de corrida) eu enxergo uma melhora. Se colocar meu filho do passado e o de hoje, parece outra criança", afirma.

Aline de Souza, 37, afirma que o clube é muito importante para a saúde do filho, de 12 anos. "Eu vim parar aqui por motivos de saúde do Bryan. Alguns exames dele e deram alteração no diabetes, além da asma. O médico nos recomendou caminhada e foi aí que eu conheci o professor Gilvan", conta a auxiliar em serviços gerais. De acordo com ela, o garoto frequenta o programa há três anos e as crises de asmas que aconteciam no mínimo seis vezes por ano, se reduziram a, no máximo, uma vez. Em relação ao diabetes, "as taxas estão normais", destaca.

Apoiadores

Segundo os organizadores, ao final de todos os treinos são distribuídos lanches e, pelo menos uma vez por mês, cestas básicas são doadas para as famílias que participam do programa, sem contar os materiais como tênis e uniformes. Para manter tudo isso, o projeto conta com o apoio de amigos e pessoas da comunidade. Em relação às viagens para participar de competições, às vezes é possível contar com a ajuda do Comitê Brasileiro de Clubes (CBC) em parceria com as Loterias Caixa.

O principal apoiador do projeto, Rodrigo Neiva, 56, conta que cresceu em uma família que sempre foi muito ligada a trabalhos sociais e, desde pequeno, viu seus pais se mobilizando e ajudando as pessoas que mais precisam. "Estou incorporando isso, e o mais importante é o brilho no olhar das crianças. Por isso é muito interessante apoiar esse tipo de iniciativa, pois tudo é destinado a quem realmente precisa", salienta. Para o funcionário do Banco do Brasil, quem realmente conhece os problemas da comunidade são as pessoas que moram lá e o professor Gilvan é um exemplo.

Rodrigo cita o quanto o trabalho impacta positivamente as crianças e jovens das comunidades do Paranoá e Itapoã, afastando-os das violências e drogas. Formando pessoas que estudem mais, que respeitem os pais e no futuro, quem sabe, se tornem colaboradores, pois segundo ele, essas pessoas são quem, de fato, conhecem a realidade. "Eu invisto aqui há cerca de seis anos, e toda a ajuda é bem-vinda, pois nós sabemos que ela vai ser usada da melhor forma, devido ao trabalho totalmente voluntário. Eu sou apenas um catalisador da corrente do bem", afirma.

Para Amanda Pereira, 19, a passagem pelo clube e a forma como foi tratada pelo professor foram de grande importância. "Ele foi uma pessoa de extrema importância para mim, eu o considero um pai, sempre me dava muitos conselhos", comenta. Neste ano, ela conseguiu ser aprovada no vestibular e falou um pouco sobre o papel que o Gilvan teve. "Sempre me incentivou a nunca desistir dos estudos, sempre muito atento. Um exemplo disso é como ele pedia os boletins escolares todas as vezes. Nos ajudava sempre que que precisávamos", completa a ex-atleta.

Como ajudar

Telefone: 61-99369 9880

*Texto de Luis Fellype Rodrigues, estagiário sob a supervisão de Márcia Machado

 

 

  • Momento da entrega do lanche para os atletas do clube
    Momento da entrega do lanche para os atletas do clube Foto: Divulgação Ascapi
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