Ariel Santos Marques, 26 anos, passava mais de 15 horas do dia trabalhando em dois empregos. Morador do Pedregal, no Novo Gama (GO), o cobrador se deslocava todos os dias para o DF para estar a postos para o serviço. Em mais um dia de trabalho, o jovem só esperava encerrar o expediente e descansar, mas teve a vida interrompida por tamanha brutalidade. Ariel foi morto com um tiro no ouvido durante um assalto em um ônibus, na DF-001, no Riacho Fundo 2. Três criminosos são suspeitos do crime e, até o fechamento desta edição, dois seguiam foragidos. Nessa terça-feira (3/10), um adolescente foi apreendido em Goiás.
A morte de Ariel abalou família, amigos, colegas de profissão e motivou um manifesto por pedido de Justiça e segurança no transporte público. A indignação parte não só pelo assassinato do jovem, mas com as mais de 350 ocorrências de roubos em transporte coletivo registradas entre janeiro e agosto deste ano, segundo a Secretaria de Segurança Pública (SSP-DF). Em entrevista exclusiva ao Correio, a mãe do jovem, Jucicleide Souza, 50, falou sobre a história de vida de Ariel e clamou por Justiça.
Ariel não chegou a completar o ensino médio. Parou no 2º ano. Mas a interrupção nos estudos não foi motivo para desistir de sonhar. De uma família de seis irmãos, aos 26 anos ele administrava dois empregos: o de cobrador de ônibus e de despachante em uma fábrica de Santa Maria. Por vezes, ele deixou de dormir em casa para ficar no trabalho e não se atrasar no dia seguinte. “Ele entrava 00h em um e saía às 10h. Era até raro eu o ver em casa. Ele tinha ambições. Comprou moto, carro, um lote e tudo isso fruto do esforço dele”, declarou a mãe.
Na Viação Pioneira, Ariel permaneceu por oito anos. Começou no cargo de serviços gerais e foi promovido a cobrador. No Pedregal, morava com a mãe e chegou a ser casado, onde teve um filho de 2 anos. Nas redes sociais, Ariel publicava fotos do menino.
O telefonema
Era por volta das 22h30 de segunda-feira quando Jucicleide recebeu a notícia de que o filho havia sido baleado no trabalho. O crime foi registrado por câmeras de segurança do ônibus. O coletivo fazia o trajeto de Santa Maria para Ceilândia. Na altura da DF-001, no Riacho Fundo 2, três criminosos embarcaram no ônibus e, antes mesmo de passarem a roleta, anunciaram o assalto.
Em depoimento à Polícia Civil, o motorista contou que, devido ao cansaço, o cobrador estava com um fone de ouvido e cochilando no momento do crime. Ao menos 10 passageiros estavam no ônibus e acompanharam a barbárie. Uma mulher teve o celular levado pelos assaltantes e também foi ouvida pelos investigadores. Depois do latrocínio, os envolvidos ordenaram ao motorista que parasse o ônibus e abrisse a porta.
“Eu não acreditei quando me falaram. Eu imaginei que ele estivesse só ferido e fosse ao hospital e tudo iria ficar bem. Ele era uma pessoa tão calma, por isso jamais reagiria. Não bebia e não fumava. Agora, tudo o que queremos é Justiça. Moramos no mesmo lugar tem 28 anos e ele era muito querido por todos”, disse a mãe de Ariel.
O menor envolvido no latrocínio foi apreendido pela Polícia Militar do Estado de Goiás (PMGO) na casa de parentes, na Cidade Ocidental (GO). Os outros dois participantes do crime, de 20 e 19 anos, seguem foragidos. O Correio apurou que o responsável pelo disparo contra o cobrador é Aílson Cauã de Oliveira Lima. Todos acumulam antecedentes criminais. “Estamos no encalço dos suspeitos, indo em vários endereços ligados a eles”, afirmou o delegado-chefe da 27ª DP, Fernando Fernandes.
Ariel será sepultado às 9h desta quarta-feira (4/10), no Cemitério Parque Memorial no Lunabel Goiás, no Novo Gama.
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