Tempo

Após registrar 36,7ºC, meteorologistas explicam calorão que faz no Gama

O relevo e a ausência de arborização permitem que a região administrativa registre as temperaturas mais altas do DF, como os 36,7ºC de ontem. Moradores relatam as estratégias adotadas para driblar o desconforto térmico e problemas de saúde

O calor tem castigado os brasilienses nos últimos dias, especialmente os moradores do Gama, que costuma registrar temperaturas extremas de frio e calor, a depender da época do ano. Em tempos de seca e calor, os termômetros da região administrativa estão registrando as temperaturas mais altas do Distrito Federal.

De acordo com Heráclio Alves, meteorologista do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), o quadradinho, mesmo sendo uma região pequena, tem grande variação de temperaturas, a depender das características de cada localidade. A estação localizada em Ponte Alta, no Gama, por exemplo, é uma área de vale, ou seja, uma espécie de planalto entre duas colinas, onde há pouca circulação de ar e, por isso, apresenta temperaturas ora muito altas, ora muito baixas.

"Tudo depende de como é a configuração da região, o relevo, a edificação, se tem pavimentação ou não. A título de comparação, a estação de Águas Emendadas é uma área ampla e de reserva, com pouca edificação e bastante vegetação. Tende a haver maior ventilação, o que explica as baixas temperaturas pela manhã", explicou o meteorologista. Ontem, a Estação Meteorológica de Águas Emendadas registrou mínima de 15,2ºC e máxima de 35,9ºC. Já no Gama, os termômetros variaram entre 20ºC e 36,7ºC.

O calor causa desconforto, mas o gamense não pode parar por conta das altas temperaturas. O jeito é arranjar estratégias para lidar com a condição climática. O motoboy Gladston Dias, 34 anos, conta que usa protetor solar todos os dias e que carrega dois litros de água no baú instalado na parte traseira da moto que usa para trabalhar. "São cuidados que eu tomo o ano inteiro, mas nesta época de seca eu redobro a atenção", revela.

No trabalho, Gladston fica muito exposto ao sol, circulando pelas ruas do Gama para fazer entregas. No entanto, os cuidados que toma não foram suficientes para impedir que sofresse de insolação, episódio que ocorreu na última terça-feira. "Minha vista escureceu e tive vertigem, náusea e febre. Precisei tomar soro na veia, no Hospital do Gama. Perdi um dia de trabalho", lamenta.

No Setor Leste, a costureira Vilma Lúcia Siqueira Silva Cardoso, 63 anos, gosta de deitar em um mini colchonete em frente de casa, sob a sombra das árvores do jardim que gosta de cuidar. "Aqui fora é mais ventilado. Dentro de casa fica muito quente durante a tarde", reclama. Além de relaxar ao ar livre, Vilma lança mão de outra estratégia para driblar o calor. Com o auxílio de uma mangueira, ela joga água na parte superior da casa como forma de diminuir o calor que irradia do telhado.

Na casa ao lado, a dona de casa Marlene de Siqueira e Silva, 58 anos, lava a calçada para refrescar onde mora. "O Gama é o lugar mais quente do DF. Está insuportável. Minha filha desmaiou anteontem por conta do calor", relata. A prática de molhar a calçada se estende por toda casa. "Jogo água na casa toda, espalho com o pano e espero secar naturalmente", dá a dica.

O aposentado Francisco de Assis, 70, tem o hábito de fazer caminhadas todos os dias. O costume é uma recomendação médica, devido a diabetes. "Procuro beber muita água e usar chapéu para enfrentar o sol forte", afirma.

Prevenção

O meteorologista do Inmet Heráclio Alves explica que não é possível prever o tempo especificamente de uma região administrativa, mas adianta que a máxima no Distrito Federal pode chegar aos 37ºC, temperatura semelhante à registrada no Gama ontem. Algumas medidas podem ser tomadas para mitigar os efeitos do calor extremo, mas não são soluções que podem ser providenciadas de uma hora para outra. A medida mais eficiente apontada pelo arquiteto e urbanista presidente do Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB) do DF, Luiz Eduardo Sarmento, é plantar mais árvores no contexto urbano. "A arborização urbana no Gama é muito pouca, com diversas ruas sem nenhuma árvore. Pouca ou nenhuma árvore, combinada com muita área asfaltada e cimentada é o combo do calor insuportável, como tem ocorrido nas últimas semanas", avalia.

A solução, de acordo com o urbanista, é aumentar as áreas verdes: reduzir áreas pavimentadas e arborizar ruas, avenidas e estacionamento, impedindo que os raios solares cheguem às superfícies que acumulam o calor e aumentam o desconforto térmico.

Contudo, de acordo com Sarmento, algumas medidas simples e rápidas também podem ser tomadas, como pintar telhas de branco, principalmente se forem de fibrocimento ou metálicas, e permitir ventilação cruzada nos cômodos. "Muitas vezes, a inserção de pequenas janelas que permitam o vento entrar e sair do cômodo melhoram consideravelmente a temperatura interna. Nunca foi tão importante termos imóveis vazados, que permitem ventilação cruzada, algo que os arquitetos e construtoras dos primeiros anos de Brasília sabiam ser algo que melhora a qualidade de vida", finaliza.

 

Mais Lidas

Minervino Júnior/CB/D.A.Press - Gama registra umidade mais baixa na região, com 14%. Termômetros chegaram a marcar 36ºC. Na foto, Marlene Siqueira.
Minervino Júnior/CB/D.A.Press - Gama registra umidade mais baixa na região, com 14%. Termômetros chegaram a marcar 36ºC. Na foto, Vilma Lúcia.
Minervino Júnior/CB/D.A.Press - Gama registra umidade mais baixa na região, com 14%. Termômetros chegaram a marcar 36ºC. Na foto, Vilma Lúcia.
Minervino Júnior/CB/D.A.Press - Com umidade relativa do ar chegando aos 14%, a costureira Vilma Lúcia adquiriu o hábito de jogar água de mangueira no telhado da casa
Minervino Júnior/CB/D.A.Press - Gama registra umidade mais baixa na região, com 14%. Termômetros chegaram a marcar 36ºC. Na foto, Vilma Lúcia.
Minervino Júnior/CB/D.A.Press - Gama registra umidade mais baixa na região, com 14%. Termômetros chegaram a marcar 36ºC. Na foto, Vilma Lúcia.
Minervino Júnior/CB/D.A.Press - Gama registra umidade mais baixa na região, com 14%. Termômetros chegaram a marcar 36ºC. Na foto, Vilma Lúcia.
Minervino Júnior/CB/D.A.Press - Gama registra umidade mais baixa na região, com 14%. Termômetros chegaram a marcar 36ºC. Na foto, Marlene Siqueira.
Minervino Júnior/CB/D.A.Press - Gama registra umidade mais baixa na região, com 14%. Termômetros chegaram a marcar 36ºC. Na foto, Marlene Siqueira.
Minervino Júnior/CB/D.A.Press - Gama registra umidade mais baixa na região, com 14%. TermÃŽmetros chegaram a marcar 36ºC. Na foto, Vilma Lúcia.
Minervino Júnior/CB/D.A.Press - Gama registra umidade mais baixa na região, com 14%. Termômetros chegaram a marcar 36ºC. Na foto, Vilma Lúcia.
Minervino Júnior/CB/D.A.Press - Gama registra umidade mais baixa na região, com 14%. Termômetros chegaram a marcar 36ºC. Na foto, Francisco de Assis.
Minervino Júnior/CB/D.A.Press - O aposentado Francisco de Assis usa chapéu para fazer caminhadas
Minervino Júnior/CB/D.A.Press - Gama registra umidade mais baixa na região, com 14%. Termômetros chegaram a marcar 36ºC. Na foto, Francisco de Assis.
Minervino Júnior/CB/D.A.Press - Gama registra umidade mais baixa na região, com 14%. Termômetros chegaram a marcar 36ºC. Na foto, Francisco de Assis.
Minervino Júnior/CB/D.A.Press - Gama registra umidade mais baixa na região, com 14%. Termômetros chegaram a marcar 36ºC. Na foto, Vilma Lúcia.
Minervino Júnior/CB/D.A.Press - Gama registra umidade mais baixa na região, com 14%. Termômetros chegaram a marcar 36ºC. Na foto, Marlene Siqueira.
Minervino Júnior/CB/D.A.Press - O motoboy Gladston Dias teve insolação por conta do trabalho externo
Minervino Júnior/CB/D.A.Press - Gama registra umidade mais baixa na região, com 14%. Termômetros chegaram a marcar 36ºC. Na foto, Gladston Dias.