Mobilidade

Sem transporte público eficiente, trânsito no DF tem risco de colapso

Ministério Público debate a dependência de carros no DF e cobra ações do GDF para evitar o agravamento da situação. A urbanista Romina Caparelli destaca que o tombamento do Plano Piloto não é impeditivo para melhorias na mobilidade

O Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) promoveu, ontem, o debate Mobilidade sustentável: como vencer a carrodependência no DF?. O objetivo do evento foi discutir soluções para melhorar a mobilidade urbana no Distrito Federal e superar a dependência do automóvel na capital do país, considerando ainda a preservação do meio ambiente. Ao final do debate, as entidades presentes assinaram um documento que será enviado ao Governo do Distrito Federal (GDF) em que solicitam investimentos em um sistema com mais pessoas se deslocando de ônibus, de metrô, a pé, de bicicleta ou por meio de outros modos ativos de transporte e com menos carros e motos em circulação.

Estiveram presentes no debate e assinaram o documento representantes de entidades como Rodas da Paz, Rede Urbanidade, Instituto Instituto do Movimento Nacional pelo Direito ao Transporte Público de Qualidade para Todos (MDT), entre outros.

O deputado distrital e presidente da Comissão de Transporte e Mobilidade Urbana (CTMU), Max Maciel (PSol), destacou a importância do acesso da população a um transporte público de qualidade. "Não dá para pensar que as pessoas vão mudar para o Plano Piloto para morar perto do trabalho. É preciso garantir o acesso com qualidade. Realizamos estudos que mostraram que a construção de todos esses viadutos não vai melhorar o trânsito em nada. Queremos rediscutir a cidade", disse. "Quanto maior a facilidade de acesso ao transporte público, mais pessoas tiram o carro das ruas e passam a utilizar o transporte público. Essa é uma matemática do mundo", completou.

O Ministério do Meio Ambiente esteve representado pelo coordenador de Cidades Sustentáveis, Salomar Mafaldo, que falou sobre a importância da agenda da mobilidade ser trazida ao processo de adaptação do DF às mudanças do clima. "O governo federal vem pensando em construir um programa de mobilidade elétrica, há uma intenção de fazer um pacote de transição ecológica", destacou. "Nisso, está incluído a eletrificação da frota de ônibus no Brasil. Há uma perspectiva de se implementar uma frota de 6 mil ônibus nos próximos anos. Acredito que o transporte público deve ser priorizado. Entendemos que o ponto tem que ser um transporte público de qualidade, limpo e acessível para todos os brasileiros", acrescentou.

"Estamos anestesiados com o fato de que, até agora, não conseguimos encontrar soluções para o caos que está se formando. Mas se ainda não chegamos ao colapso, estamos muito próximos, não só em relação à mobilidade urbana, mas também com relação ao meio ambiente", afirmou Dênio Augusto de Oliveira, coordenador da rede Urbanidade e promotor do MPDFT. "Estamos construindo cidades para carros. Estamos atrasados na missão de começar a construir cidades para pessoas", completou. 

Uirá Lourenço, ativista da Rede Urbanidade observou que, apesar da área central de Brasília contar com uma malha cicloviária relativamente grande, as ciclovias estão sempre vazias. "Precisamos de mais adeptos à mobilidade ativa e transporte coletivo. Uso bicicleta diariamente e me questiono quanto ao motivo das ciclovias estarem sempre tão vazias", pontuou.

O evento foi mediado pela arquiteta e urbanista Romina Caparelli, que alegou que o tombamento do Plano Piloto não é impeditivo para melhorias na mobilidade. "É muito fácil colocar a culpa no tombamento para não fazer melhorias. Quando há vontade política, a gente faz viadutos como o do Sudoeste. O tombamento não é limitação. Não podemos nos deixar levar por essa falácia", disse.

Miriam Moraes, representante da Secretaria de Transporte e Mobilidade do DF (Semob), também esteve presente e informou que a secretaria está em processo de finalização de um convênio com o Laboratório de Transporte e Logística (Labtrans) — instituição que faz parte da Universidade Federal de Santa Catarina — para atualização do Plano Diretor de Transporte Urbano e Mobilidade do Distrito Federal (PDTU-DF) e elaboração do plano de mobilidade previsto na Política Nacional de Mobilidade Urbana. "Dentro da construção do novo PDTU, queremos a participação da população. No termo de referência, está prevista a participação por oficinas e teremos também audiência pública", explicou Miriam.

Reivindicações

Ao final do debate, os presentes assinaram um documento que será encaminhado ao Governo do Distrito Federal e aos órgãos de trânsito do DF onde são sugeridas melhorias. "Nesta semana, é celebrado o Dia Mundial sem Carro, data importante para refletir acerca dos grandes impactos negativos do carro sobre a qualidade de vida nas cidades, tais como: poluição, impermeabilização do solo, estresse, sedentarismo, segregação social e mau uso dos espaços urbanos", diz o texto.

Entre as medidas sugeridas no documento para favorecer a mobilidade sustentável estão a redução gradativa do uso de combustíveis fósseis, investimento em transporte por trilhos (trem metropolitano, metrô e VLT), integração física e tarifária dos modais, inclusive dos que atendem a área metropolitana (Distrito Federal e cidades próximas de Goiás), revisão/eliminação dos projetos viários voltados à fluidez automotiva (ampliação de pistas e construção de túneis e viadutos), redução/readequação do limite de velocidade nas vias; priorização e investimentos na infraestrutura cicloviária e na qualificação e manutenção de calçadas e demais espaços destinados a pedestres, entre outros.

 

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