MEIO AMBIENTE

Capivaras desempenham papel essencial nos ecossistemas nos quais habitam

As capivaras são os maiores roedores do mundo e têm importante papel para o controle da vegetação em áreas úmidas e próximas de rios e lagos

As capivaras são os maiores roedores do mundo e desempenham um papel essencial nos ecossistemas nos quais habitam, principalmente pelo controle da vegetação em áreas úmidas e próximas de rios e lagos. De acordo com especialistas, no Distrito Federal as capivaras são oriundas dos diversos afluentes que abastecem o Lago Paranoá. Um dos mais importantes é o Córrego Bananal, que nasce no coração do Parque Nacional de Brasília e deságua perto da Ponte do Bragueto. O local também é morada de jacarés, lontras, jiboias e outros animais que transitam entre o Lago Paranoá, rios e córregos em busca de alimento e abrigo.

Pesquisa realizada pela Secretaria de Meio Ambiente e Proteção Animal (Sema), em parceria com a Universidade Católica de Brasília (UCB) e o Instituto Brasília Ambiental (Ibram), entre 2021 e 2022, aponta que não há uma superpopulação de capivaras na região do lago. O estudo revelou que essa população flutua de acordo com a disponibilidade de recursos em outras áreas.

Nascida na Vila Planalto, Ivonete Fernandes, 43 anos, conta que foi criada na beira do Lago Paranoá e conviveu com as capivaras a vida toda. Ela tem a consciência de que esse animal é fundamental para o equilíbrio ambiental e costuma ir ao local, acompanhada de sua cachorra. "Nós é que devemos tomar cuidado ao entrar no ambiente das capivaras, elas só ficam agressivas quando alguém mexe com seus filhotes. Fui criada com as capivaras e elas nunca representaram nenhum tipo de perigo à mim e nem a minha família", diz.

Carlos Vieira -
Carlos Vieira -
Carlos Vieira -
Ed Alves/CB/DA.Press -

Ivonete observa corretamente. Como qualquer outra espécie, as capivaras podem se defender em situações específicas, quando as fêmeas têm filhotes ou quando se sentem ameaçadas por predadores. "Ao avistá-las, é fundamental apreciar a vista e a presença da nossa fauna nativa a uma distância segura, evitando alimentá-las ou tocá-las", orienta o biólogo Filipe Reis, mestre em zoologia.

Filipe destaca também que, para garantir um convívio pacífico e benéfico tanto para as capivaras quanto para os seres humanos, é fundamental que esses animais sejam acompanhados por estudos ecológicos e de saúde.

Habitat

É ao ar livre, em meio às capivaras na beira do lago, que o entregador Wilker Melo de Sousa, 33, morador de São Sebastião, tira seu intervalo do trabalho. "Descanso na beira do lago diariamente e convivo com as capivaras que, na minha opinião, desempenham um papel super importante para o meio ambiente, além de estarem exatamente onde elas deveriam, soltas na natureza. Em relação aos riscos, podemos corrê-los independentemente das capivaras", conclui.

A  análise de Wilker está em sintonia com a do biólogo Filipe Reis, "a remoção das capivaras do lago pode acarretar desequilíbrios ecológicos, como o crescimento excessivo da vegetação e a falta de presa para alguns possíveis predadores. Além disso, existe o risco de novos animais de outras regiões migrarem para o lago, potencialmente introduzindo patógenos que não existem na região. Portanto, qualquer medida deve ser cuidadosamente planejada e embasada em conhecimento científico", destaca.

Ainda de acordo com Reis, é importante enfatizar que a febre maculosa, doença transmitida pelo carrapato, que tem causado medo aos moradores do DF, não é transmitida diretamente pelas capivaras. "Os carrapatos podem infestar várias espécies diferentes, incluindo cachorros domésticos, cavalos e aves. Sendo assim, as capivaras não podem ser responsabilizadas pelo número de carrapatos na região do lago. Além disso, é relevante ressaltar que a febre maculosa não foi confirmada no DF e apenas carrapatos infectados podem transmitir a doença", ressalta.

Urbanização

Thiago Silvestre, biólogo do Ibram, analisa que, com a urbanização de diversas áreas no entorno do DF, a qualidade das coleções hídricas diminuiu bastante com o despejo de esgoto, entulho, captação irregular de água, fazendo com que esses e outros animais procurem lugares mais adequados à vida. "Devemos mudar a visão utilitarista da fauna silvestre para arbitrar se esta ou aquela outra espécie nos traz ou não benefícios. Os animais silvestres possuem seu direito intrínseco à vida, que deve ser respeitado. Esses direitos estão assegurados na Lei de Crimes Ambientais", ressalta.

Thiago explica ainda que, caso as populações de capivaras diminuam drasticamente, seja por razões naturais ou por um manejo equivocado, elas serão substituídas por outras espécies, o que pode suplantar bastante o quantitativo encontrado hoje na região do lago, que é em torno de 400 indivíduos, flutuando entre as épocas seca e chuvosa.

Conforme o biólogo, na época de seca, as capivaras concentram-se nas margens do Lago Paranoá, porque são áreas essenciais à preservação da biodiversidade (áreas de preservação permanente e subzona de preservação de vida silvestre). Na estação chuvosa, essas populações seguem pela drenagem em busca de outros locais para colonizar, reduzindo sua presença na orla.

 

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Equilíbrio

Normalmente, as capivaras vivem em grupos grandes com um macho dominante e várias fêmeas. Há ainda os chamados machos satélites, que buscam áreas para formar seus próprios grupos. Esses animais são territorialistas, o que ocasionalmente resulta em disputas entre eles, mas geralmente são pacíficos em relação aos seres humanos e preferem se afastar quando se sentem ameaçados pela presença de pessoas. As capivaras também são alvo de predadores, como jacarés, onças, sucuris e aves de rapina, e fazem parte da complexa teia de relações que mantém o equilíbrio na natureza.