Acidente

Pacientes e amigos lembram legado do médico Roland Montenegro

Respeitado pelos amigos de profissão e querido pelas pessoas que atendeu durante a trajetória como cirurgião. Roland Montenegro Costa deixa um rastro de luz por onde passou

O médico Roland Montenegro Costa, uma das vítimas no acidente de avião em Barcelos, no Amazonas, neste sábado (16/9), era querido por colegas de profissão e pacientes. Aposentado do Hospital de Base de Brasília, é referência não somente por ter sido um grande cirurgião. É lembrado pela delicadeza, educação e amor que tinha pela medicina. 

Renomado na área, deixou um rastro de alegria e ensinamento por onde passou. Nas redes sociais, as várias homenagens ilustram bem esse carinho. Caroline Moura de Sales, 30 anos, conheceu o médico em 2018, depois de receber a recomendação de outra profissional.

“Passei por uma pancreatectomia distal com esplenectomia por conta de cistoadenoma benigno de pâncreas. Eu não tinha pâncreas, tinha cistos, várias lesões, tinha crises recorrentes de dores. Ele me devolveu qualidade de vida. Costumo dizer que sou uma outra pessoa após a cirurgia”, relembra a hoteleira hospitalar.

Um homem que, além de médico, portava-se como um amigo de todos. Segundo Carol, era nítida a paixão pela profissão, por ajudar o próximo e salvar vidas. Sempre que podia, fazia questão de manter proximidade com os pacientes. Uma conexão rara, poucas vezes vista. “Passávamos horas nas consultas conversando sobre tudo. Ele amava viajar, conhecer novas culturas. Um homem bastante viajado e eu, formada em turismo, adorava escutar as histórias”, conta

Hoje, ela trabalha em um hospital particular em Brasília. Viu o amigo Roland pela última vez na semana passada. O avistou de longe, em visita a um paciente. Elegante, de terno preto, vaidoso como de costume. Carol recorda que esse era o visual preferido do médico. “Pretendia fazer meu retorno médico agora em outubro, mas infelizmente não será possível, não entendemos os planos de Deus, mas ele cumpriu sua missão. Perdemos uma grande pessoa e profissional”, enfatiza Carol.

Atencioso e gentil

Desde a primeira consulta, Sara Sousa de Oliveira, 44, afirma que Roland era um ponto de calmaria. Ao descobrir um tumor no pâncreas, em agosto de 2021, o sentimento foi de desespero. “Ele me tranquilizou e sempre dizia que ia dar tudo certo. Contava piadas e falava sobre as experiências na medicina. O que mais me impactava sobre ele era sua dedicação pelos pacientes”, comenta.

Em janeiro do ano passado, operou para retirar o tumor do pâncreas. Uma cirurgia complexa, nada fácil. Sara conta que buscava por um médico experiente, que pudesse lhe ajudar. Indicado pelo oncologista Daniel Girardi, ele foi enfático: 'Faça a cirurgia com o Roland, ele é o melhor'. E, sem dúvidas, Sara assegura que nunca encontrou ninguém tão apaixonado pelo que fazia como o cirurgião.

“Fiquei um mês internada no Hospital Brasília, só na UTI foram várias passagens. Ele ia todos os dias fazer os curativos, nunca permitiu que as enfermeiras fizessem, ele queria estar à frente de tudo. Depois de um longo período no hospital, nos tornamos amigos”, acrescenta.

A afinidade cresceu e as visitas ao consultório tornaram-se frequentes. Não apenas para as revisões cirúrgicas, mas para colocar o papo em dia. Descontraído, ele contava histórias de quando era jovem e das peripécias na terra natal, no Maranhão. A proximidade, inclusive, cresceu ainda mais em virtude disso. Sara tem família maranhense. “Roland vai deixar um imenso legado”.

Reprodução/ Instagram - Sara e o marido ao lado do médico Roland Montenegro

Respeitado pelos colegas

Médico cirurgião de cabeça e pescoço, Ernandes Nakamura, 47, afirma que o colega era respeitado por toda a classe médica. “Pessoa de personalidade ímpar, sempre de bom humor a despeito das dificuldades. Fazia cirurgias de alta complexidade. Sempre com pensamento positivo da vida. Realmente uma grande perda”, lamenta.

Ernandes também é pescador e já esteve várias vezes em Barcelos. Assim como Roland, adora pescar com isca de superfície. Ele pescava e soltava os peixes. Sempre preocupado com a vida. Espero que possa ser acolhido no mundo espiritual por espíritos de luz. Estou triste. Coisas da vida”, complementa o médico.

Cirurgião oncológico, Renato Sabbag, 47, ressalta que Roland, antes de tudo, sempre foi um grande amigo. Extremamente generoso e atencioso com os colegas e pacientes. Médico exemplar, irretocável, com técnica cirúrgica primorosa. “Pessoa agradável e facilmente cativante. Energia vital e disposição para trabalhos inabaláveis. Sem tempo para lamúrias. Enfim, um exemplo. Deixou um legado de belas histórias e fez muita diferença na vida de inúmeras pessoas, dentre as quais me incluo”, completa Renato.

Arquivo pessoal - Renato Sabbag na companhia do grande amigo Roland Montenegro Costa

“Meu cirurgião”. Era assim que o cardiologista Wladimir Magalhães de Freitas, 56, carinhosamente chamava Roland. Ao lado da esposa, encontra-se consternado com a perda do amigo. “Era uma inspiração como médico, mas não era distante como os modelos e os ídolos, ele era próximo e sensível. Fará muita falta à família, aos amigos e à cidade. Uma saída rápida de cena no teatro da vida nos deixa a impressão que ele ainda está nos bastidores”, descreve Wladimir.

Renomado

A jornalista Gláucia Guimarães, 51, conta que conheceu o médico há 10 anos, em um momento difícil da vida. “Eu descobri um nódulo na cauda do pâncreas. Na época, consultei vários médicos e todos indicaram Roland. Ouvi de muitos profissionais da saúde que se eles próprios tivessem qualquer problema no pâncreas, não teriam dúvidas, procuraram o doutor Roland”, relata.

Gláucia operou com Roland e depois a relação entre médico e paciente, virou uma grande amizade. “Trocávamos mensagens por aplicativo de mensagem, conversávamos de política, mas, principalmente, do que a gente gostava muito de fazer: ele amava pescar e eu amo praia.”

A amiga de longa data lamenta a partida precoce de Roland. “Era um cara muito importante na minha vida. Vou me lembrar do carinho dele comigo, do cuidado com o paciente, do telefone dele à disposição, dos elogios que ele me fazia quando trabalhava na TV”, lembra. Nas redes sociais, publicou um longo texto de homenagem. No post, destacou como Roland era renomado no mundo inteiro. Tendo o trabalho requisitado em vários países.

O médico Lúcio Lucas, 53, detalha uma imensa tristeza pela morte do parceiro de trabalho, com quem trabalhou por 24 anos. “Pra mim, ele foi um dos cirurgiões mais importantes que já passou por Brasília, ele tinha uma capacidade única e inovadora”, conta o amigo.

Lúcio conta que a destreza de Roland era tanta que ele foi um dos primeiros cirurgiões do Brasil a ir buscar especialização em transplantes fora do país. “Ele era uma pessoa muito especial e vou lembrar dele como uma pessoa de extrema habilidade, sempre foi uma pessoa com muito conhecimento, sempre ajudou os profissionais mais novos”, contou com a voz embargada.

Vanderlea de Farias Magalhães diz não acreditar na perda do querido Roland. “Tive a benção e a felicidade de conhecê-lo, na minha primeira cirurgia, em 2008. Depois pude contar com o seu profissionalismo, carinho, apoio, acolhimento e bondade em 2014, 2017 e em 2022. Quero registrar minha eterna gratidão. Um profissional diferenciado. Era notório o amor com que exercia sua missão. Que Deus o acolha em seu Reino”, finaliza.

Mais homenagens

Gilmar Mendes, ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), lamentou profundamente o trágico acidente aéreo no Amazonas que ceifou tantas vidas. “Dentre elas a do médico Roland Montenegro, conhecido e reconhecido pela comunidade brasiliense. Meus sinceros pesares a amigos e parentes”, escreveu.

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Reprodução/Instagram/@mariadelaciseixas - Médico Roland Montenegro
Arquivo pessoal - Renato Sabbag na companhia do grande amigo Roland Montenegro Costa