Economia

Potencial turístico do DF apresenta outras vocações além do cívico

O segmento é o que mais se destaca na capital do país, no entanto, especialistas sugerem políticas públicas que revelem ao visitante que a cidade e o Entorno têm muito mais a oferecer, com os eventos, cachoeiras e parques naturais

O Distrito Federal é o destino procurado por quem curte o turismo, principalmente quando se trata do cívico. Só que, de acordo com especialistas ouvidos pelo Correio, o cenário tem se modificado nas últimas décadas e a capital do país apresenta hoje potencial para cumprir papéis diversos do setor. Professor do Centro de Excelência em Turismo da Universidade de Brasília (CET/UnB), Luiz Spiller ressalta que é preciso relativizar a questão cívica.

Segundo o Observatório do Turismo do DF, gerido pela Secretaria de Turismo (Setur-DF), a capital tem outras vocações para o turismo, como de negócios e eventos; criativo; ecológico e de aventura; gastronômico; histórico e cultural; náutico; religioso e místico; e rural.

Spiller aponta que a cidade pode se aproveitar de algum desses segmentos. "Brasília tem outras potencialidades muito grandes, já em exercício. Existem inúmeras ações e atividades acontecendo, em relação ao fenômeno do turismo, vinculadas ao setor de eventos, por exemplo. Muitos deles ocorrem aqui na capital e atraem turistas, que acabam utilizando os serviços do setor", pondera.

Para o professor da UnB, o que falta para Brasília se tornar um destino mais procurado é justamente descobrir essa potencialidade. "Nos articulamos muito com o território do estado de Goiás, em termos dos atrativos e das possibilidades que temos, tanto de usufruir de aspectos da natureza quanto culturais", ressalta Spiller.

O especialista acredita que, para atrair visitantes para o DF em datas como feriados prolongados, é necessário fomentar uma política pública que direcione a potencialidade cultural que representa a cidade. "Isso vai colaborar para o desenvolvimento socioeconômico do Distrito Federal. Temos que observar a importância de pesquisas e de investigações que tragam elementos para um bom planejamento e organização desse turismo no território", observa. "Isso é importante porque vai balizar e direcionar as políticas públicas, os programas, o planejamento e os projetos estruturantes", acrescenta o professor.

Atrativos próprios

Um dos pontos de destaque da capital é o Parque da Cidade. O local atrai brasilienses e excursionistas que procuram espaços abertos para realizar atividades físicas. Moradoras de Águas Lindas (GO), a diarista Raimunda Nonata, 43 anos, e a personal trainer Elma da Silva, 44, se deslocaram até o Plano Piloto para uma nova experiência — pedalar no parque. "Apesar de andarmos muito por aqui, nós nunca viemos de bicicleta, é a primeira vez", conta Raimunda. "Foi uma experiência maravilhosa. Com certeza vamos voltar mais vezes para aproveitar a cidade", complementa.

As duas aproveitaram a visita para conhecer a Nicolândia e tiraram fotos em frente à montanha-russa do parque. "Brasília tem lugares muito bonitos, o problema é que nós não sabemos explorar", avalia Elma. Para a turismóloga Rafaela Alves, pontos de vista como os da personal trainer são essenciais para atrair mais visitantes para o DF.

"Não são todas as pessoas que têm condições financeiras para viajar, então, é necessário aproveitar os atrativos da própria cidade", aponta. "Brasília e região contam com diversas cachoeiras e opções de lazer à beira do Lago Paranoá, para os que sentem falta do litoral, por exemplo. É necessário visitar e explorar o local em que moramos", finaliza.

O casal peruano Carlos Arientos, 55 anos, e Jeni Maton, 53, escolheu a Torre de TV para visitação. A dupla veio ao Brasil a turismo — desembarcou em Belo Horizonte e depois seguiu para a capital federal. Por enquanto, as atividades preferidas dos turistas têm sido passeios ao ar livre e ir às compras. "No Dia da Independência, acompanhamos todas as festividades da cidade", contaram os estrangeiros enquanto tiravam fotos do letreiro "Eu amo Brasília", localizado ao lado do ponto turístico. Questionados sobre as percepções da cidade até agora, Carlos e Jeni são só elogios à capital federal. "É tudo muito lindo, excelente. É um lugar muito organizado, com muita segurança e com palácios muito bonitos", constatam.

O estudante de arquitetura Gutierre Barbosa, por sua vez, veio a Brasília, direto do Rio de Janeiro, para visitar a família, e se sentiu na obrigação de contemplar a grandiosidade dos feitos de Niemeyer. "A arquitetura é impactante. É, de fato, um marco, um exemplo nacional de arquitetura", afirma. Para ele, a passagem pela capital foi ainda mais especial devido às celebrações da Independência. "Acabei vindo no feriado de 7 de Setembro, então pude ver de perto, também, toda essa questão social e política que se centraliza em Brasília", destaca.

Pandemia

Dados do Observatório do Turismo do DF mostram que a pandemia afetou o turismo no DF. A ocupação hoteleira anual, por exemplo, despencou de 58,41, em 2019, para 24,47, no primeiro ano de isolamento causado pela covid-19, em 2020. O fluxo de passageiros na capital do país também foi afetado, de acordo com o levantamento. Em relação ao transporte rodoviário, a quantidade de pessoas que passaram pela cidade caiu de 2,5 milhões (2019) para 1,4 milhão (2020). Já no aeroporto, o número caiu de 16,6 milhões para 7,9 milhões, na mesma comparação.

Segundo Luiz Spiller, a pandemia causou uma recessão no setor de turismo a nível mundial. "Ainda estamos nos recuperando desse impacto e ainda não se chegou ao patamar de 2019, por exemplo, com relação às operações derivadas do turismo", avalia. "Mas está havendo esse movimento de reconstrução e, quanto mais a gente tiver essa perspectiva da integração, no sentido dessa concertação entre políticas públicas, estruturantes para o turismo, em parceria com setor privado, mais rápido será a superação desse aspecto", acredita o especialista.

Em nota, a Secretaria de Turismo admitiu que, durante a pandemia, o segmento turístico foi um dos mais afetados, mas que manteve contato com o setor, a fim de contribuir com projetos e ações. "Foram realizados constantes diálogos com órgãos, entidades e empresários para traçar estratégias iniciais para a retomada, incluindo grupos de trabalho e campanhas de incentivo à visitação", informou a pasta.

Em relação ao fluxo de passageiros, a nota da Setur disse que alguns voos importantes foram retomados, como o que liga Brasília a Lima, no Peru, e as negociações com empresas aéreas e países continuam em andamento. "Brasília tem participado de diversas feiras internacionais, destacando-se no turismo do Brasil. O incentivo a grandes eventos, festivais, shows, eventos esportivos e feiras também faz parte do projeto para potencializar, cada vez mais, a movimentação turística", encerrou o texto.

 


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