O Distrito Federal tem a maior inflação acumulada dos últimos 12 meses do país, 5,56%, de acordo com o Índice Nacional de Preço ao Consumidor Amplo (IPCA), calculado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Considerando apenas o mês de agosto, o DF fica em segundo lugar entre as regiões pesquisadas pelo IBGE, com variação de 0,68% em relação a julho, ficando atrás apenas de Fortaleza.
- Boletim Focus: projeção de inflação para 2023 volta a subir
- Preço de itens da cesta básica ainda pesa para 70% da população
- PIB do segundo trimestre deve confirmar processo de desaceleração
Esses e outros dados estão na pesquisa de comportamento de inflação de agosto no DF, divulgada ontem pelo Instituto de Pesquisa do DF (IPEDF). Entre os vilões do aumento de preços na capital, está o reajuste dos combustíveis anunciado pela Petrobras, que passou a cobrar das distribuidoras R$ 0,41 a mais na gasolina e R$ 0,71 no diesel por cada litro vendido. Também entraram na conta, o fim do Bônus de Itaipu, que gerava descontos nas contas de energia, e o reajuste de 5% nas contas de água e esgoto do DF, implementado em agosto pela Agência Reguladora de Águas, Energia e Saneamento Básico (Adasa).
Esmiuçando a alta dos preços, os grupos que mais contribuíram para a inflação de agosto na capital foram transportes e habitação. Na lista de itens que mais contribuíram para o setor de transportes mais caro estão veículo próprio e combustíveis foram os campeões. O automóvel novo, que teve inflação de 3,3 %, e a gasolina, que encareceu em 1,68%, são os destaques.
No caso de habitação, os vilões foram os preços do aluguel (1,67%) e a energia elétrica residencial (2,84%). A taxa de água e esgoto teve aumento de 4,55%.
A boa notícia é que o grupo de alimentos e bebidas apresentou deflação no período. Leite e derivados; tubérculos, raízes e legumes; aves e ovos; e carnes foram os principais itens que deixaram a compra do mês menos salgada. A batata-inglesa, por exemplo, registrou queda de 17,96% e a alcatra de 6,96%. O leite longa vida teve uma menor diminuição, porém ainda expressiva, de 3,79%.
"Apesar da inflação alta, tivemos um menor índice de difusão em relação ao mês anterior, o que significa que uma quantidade menor de itens da cesta registraram aumento no período. Tivemos uma inflação um pouco mais concentrada", aponta Pedro Borges, assessor da Coordenação de Análise Econômica e Contas Regionais do instituto, que também explica que a alta do acumulado dos últimos 12 meses é causada pelo fato da deflação do terceiro trimestre de 2022 está deixando de afetar o índice, movimento que ocorre naturalmente pelo decorrer do tempo.
No entanto, para os economistas, nos próximos meses, em função da alimentação e de uma queda nos preços dos combustíveis, a inflação de Brasília deve ficar na média nacional, fechando o ano na faixa de 4,9%, no acumulado de 12 meses.
Para o economista Adriano Sanches a tendência para a inflação no Brasil é de que ela continue em alta, mas em um ritmo menor do que o observado nos últimos meses. "É interessante observar que, apesar da alta inflação geral, alguns itens da cesta básica registraram deflação em agosto. Isso indica que a inflação não está afetando todos os setores e produtos igualmente", compara.
Atacado
O Índice Ceasa do Distrito Federal (ICDF), por sua vez, calcula as variações de preços de legumes, frutas e verduras no atacado. Em agosto de 2023, os grupos frutas, legumes, ovos e grãos apresentaram queda nos preços. Só as verduras tiveram alta na inflação, de 3,23%.
A queda mais acentuada foi registrada nos ovos e grãos, que retraíram em 5,34%, seguida das frutas (3,1%) e legumes (1,81%). "Agosto é, tradicionalmente, um mês desse movimento de queda de preços. Nos dois anos anteriores também foram registradas quedas no mesmo mês", observa o representante das Centrais de Abastecimento (Ceasa) do DF, João Bosco.
Cada um dos itens têm peso diferente no resultado final do indicador, segundo João Bosco. "91% é dividido entre frutas e legumes. Os 9% restantes são divididos entre verduras e ovos e grãos. Assim a gente entende que a queda das frutas impacta muito mais do que o aumento das verduras", observa Bosco.
Entre as frutas, o limão tahiti foi o que teve a maior alta nos preços, que dispararam 65,43%, aumento explicado pela diminuição da oferta de produtores de São Paulo e a forte concorrência com a demanda estrangeira pelo produto. A uva niagara e o abacate também pesaram mais no bolso, com inflação de 15,02% e 14,78%, respectivamente. Os mamão formosa, mamão hawai, morango, banana prata e goiaba tiveram redução dos preços devido à redução da procura pelas frutas e a produção estabilizada.
No setor de legumes, as altas do tomate (18,06%), abobrinha italiana (17,14%) e o inhame (15,04%) não tiveram forças para sobrepujar a queda de outros produtos que também têm força no cálculo do indicador, como a batata doce e a abóbora japonesa, que registraram quedas de 24,05% e 20,91, respectivamente. A cenoura caiu 11,75%.
Já com as verduras, as altas ficaram por conta das alfaces lisa/crespa e americana (18,87%) e o brócolis (15,46%), afetados por fatores climáticos. A queda pela procura de ovos causou retração nos preços do produto, tanto do tipo branco, que reduziu 6,59%, quanto do vermelho, que registrou retração de 7,57% nos preços.
Colaborou Laezia Bezerra