A mobilidade no Distrito Federal é cerceada para pedestres e ciclistas, em especial, para os mais vulneráveis financeiramente. É o que concluiu o relatório Desigualdade da Mobilidade Urbana no Distrito Federal, do Observatório de Políticas Públicas do DF, divulgado no final de 2022. Segundo o estudo, nas regiões administrativas (RAs) de renda mais baixa, uma das motivações principais para se caminhar é ir ao trabalho. Nos locais de renda mais alta, o caminhar é realizado sobretudo como uma atividade física.
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De forma semelhante, para os mais pobres, a bicicleta é usada para ir ao trabalho por 32,3% dos usuários e para fazer compras/serviços por 25,8%. Nas RAs de mais alta renda, a bicicleta é usada para atividade física e de lazer: 38,9% e 44,4%, respectivamente. No DF, 40,2% da população usa exclusivamente ônibus, 10,1% metrô e 10,1% ambos. Ou seja, 60% da população usa transporte coletivo, público. O índice de uso de ônibus é ainda maior nas RAs de renda mais baixa.
No entanto, conforme defendeu o deputado distrital Max Maciel (PSol), em audiência pública realizada da Câmara Legislativa do DF, na última terça (12/9), valoriza-se, demasiadamente, o deslocamento por veículos particulares. "Quando pensamos em obras, por exemplo, temos ainda uma visão muito rodoviarista, na qual o objetivo é favorecer os carros em detrimento do transporte coletivo e da mobilidade ativa", pontuou. Mobilidade ativa é toda a forma de transporte não motorizada, geralmente ligada à energia produzida pelo corpo humano.
O evento foi sugerido pelo parlamentar e teve como tema a "Mobilidade ativa como forma de melhorar a mobilidade urbana", no qual foram debatidas formas de transformar o DF em um espaço mais acessível e saudável a pedestres e ciclistas. A audiência contou com a participação de autoridades e especialistas.
Íris Pavan, mestre em ciência política e pesquisadora do Grupo Demodê do Instituto de Ciência Política Universidade de Brasília (UnB), destacou a ausência de opções de transporte que levam aos locais envolvidos no trabalho reprodutivo. "Andar a pé pode ser uma atividade bastante complicada para as mulheres, seja pela falta de infraestrutura e de segurança, seja pelo tempo de deslocamento, que é significativamente maior dependendo da distância", pontuou. Setembro é considerado o mês da Mobilidade Urbana no Brasil.
Maria Lúcia Rego Veloso, da Rede Urbanidade (Prourb/MPDFT) e do Brasília para Pessoas, abordou o desafio das pessoas com deficiência (PcDs) em garantir o direito de ir e vir, compartilhando imagens de acidentes que sofreu ao andar com sua cadeira de rodas motorizada em calçadas quebradas. "É importante resgatar a proximidade dos locais que nos atende. Mas, para isso, precisamos de calçadas e de uma região que realmente receba o pedestre. Quem tem carro dificilmente vai voltar para o transporte público, principalmente se este não tiver qualidade", ressaltou.
Perseu Rufino, arquiteto e urbanista, ativista pelos direitos da pessoa com deficiência, lembrou que, hoje, novas necessidades têm surgido e que a qualidade de vida se reflete no caminhar. Porém, o espaço urbano ainda segrega e exclui determinados grupos sociais, refletindo padrões estabelecidos pela sociedade. "Competimos com os veículos e ficamos à mercê dessa hierarquia, na qual o carro domina", argumentou o arquiteto.
Tragédias
Segundo o ativista, isso gera impactos psicossociais aos PcDs, pois limita os estudos e a profissionalização desse grupo. "A flexibilidade nos meios de transporte aumenta a capacidade de pessoas sem prejudicar o fluxo local. Cidades mais dinâmicas são mais seguras, porque estimulam a ocupação dos espaços", sugere Rufino. Sheylla Maria Brito, da Bike Anjo e Rodas da Paz, também relatou ao público um acidente que sofreu ao pedalar em ciclovias má planejadas e questionou: "Quantas tragédias serão necessárias para que haja uma manutenção nas ciclovias do Plano Piloto?".
De acordo com Max Maciel, o primeiro passo para melhorar o deslocamento no DF é fazer a população entender que mobilidade é um direito constitucional, não um privilégio, para haver cobrança e fiscalização. O objetivo, segundo ele, é investir em transporte de qualidade; fortalecer a mobilidade interna das cidades, com linhas circulares; descentralizar serviços, para que as pessoas possam resolver seus problemas dentro dos seus próprios territórios e manter a gestão pública dos sistemas.
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