No terceiro episódio do podcast Conversa com o Zé, o jornalista José Carlos Vieira recebeu o poeta e escritor Fabrício Carpinejar para um papo sobre a relação entre homens e mulheres, a desconstrução do machismo estrutural e o luto. O convidado, que está percorrendo o país com a peça Tudo que seu marido precisa saber, e se apresentou, na sexta-feira (8/9), na capital.
Ao abordarem o tópico do machismo estrutural e da violência contra a mulher, em especial, sobre a assustadora quantidade de feminicídios, Carpinejar explicou que o exercício do homem em desconstrução é pensar que a sua parceira não depende dele para nada, visto que é preciso perceber que a liberdade tem que ser maior que o amor. "É difícil se despedir (se separar) de alguém, mas é preciso ter coragem de abrir a porta. Precisamos aprender a ser rejeitados."
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Além disso, o escritor acredita que os homens deveriam passar mais tempo sozinhos antes de assumir um compromisso sério, pois muitas vezes saem direto da casa dos pais para um relacionamento, gerando um sentimento de transferência, no qual enxergam as companheiras como se fossem as suas mães e não suportam a possibilidade de serem descartados. "A solidão os cura, porque eles precisam se virar, fazerem a própria comida e cuidarem da casa, por exemplo", destacou.
Segundo Carpinejar, o espetáculo Tudo que seu marido precisa saber visa combater o romantismo exagerado, definido por ele como a distorção do amor, pois exige a renúncia da própria personalidade. "Tudo se baseia em ceder, em se privar, em deixar de ser (se anular). Você deve fazer tudo junto do outro, de modo contrariado. Você perde a sua solidão, a sua independência. Não existe paz", completou. Isso vale para os dois lados da relação.
Questionado sobre a diferença entre romantismo e amor, o poeta lembrou que o amor tem sua saúde na gentileza e que, nesta relação, é preciso haver respeito, educação e cordialidade, além do entendimento de que o parceiro vivia bem sem você e que sua companhia é uma escolha para agregar. O escritor reforçou que a vida "romanceada" não dará conta de resolver qualquer problema do relacionamento.
"É preciso ter outras fontes de felicidade, não basta apenas amar, tanto que a gente percebe que um casal tem longevidade quando é amigo um do outro", pontuou. A amizade é, para ele, a base da admiração. "Se você é amigo de quem ama, vai pensar duas vezes antes de magoá-lo", disse. Nesse viés, Carpinejar aproveitou para ressaltar que mostrar-se "excessivamente preocupado", dá margem a crises de ciúmes e possessividade. Já o sexo, para ele, é imaginação e independe de amor. "O casamento não diminui o sexo. A falta de amizade sim", destacou.
Mas, afinal, como quebrar esses pactos no cotidiano? Desabilitando a simbiose da dependência, conforme frisou Carpinejar, pois, passar a responsabilidade da sua vida para o outro é "infantilizar a sua mentalidade". Os efeitos colaterais de fazer tudo com o parceiro ou a parceira, o tempo todo, são: deixar de decidir a sua roupa, o que você quer comer, onde você quer ir e passar a pedir autorização para qualquer coisa que faça. "Você anula a sua identidade. Por isso, as pessoas sofrem tanto com a separação", comentou. "Cria-se um vácuo (logo depois da separação)", acrescentou José Carlos.
Dessa forma, o "detox" para uma relação a dois exige autocontrole, autoconfiança e o exercício da própria individualidade. "Se você se casa idealizando e criando expectativas para o companheiro ou a companheira, está cometendo um erro, pois o outro não será (sempre) como você deseja", argumentou o poeta. No que se refere à individualidade, ele recomenda não emprestar seus amigos nem fingir que a sua família é a família do outro. Basta ver o que acontece logo após uma separação.
Luto
Ao final da conversa, José Carlos comentou sobre o livro Manual do Luto, que considerou bastante tocante. Com a obra, o autor tenta mostrar que o luto é incurável e que, diferentemente do que nos dizem, não acaba. "O luto é para a vida inteira", frisou. "Imagine: dizem para você caminhar 3km. Você guarda a água para 3km. Quando acaba essa distância, você descobre que são 30km. Porém, não tem mais água e você já gastou toda a sua energia. Isso é o seu luto. Ele dura muito mais do que se imagina. É assustador", exemplificou.
Nesse contexto, o tempo passa e as demais as pessoas ao seu redor seguem a vida, se esquecem de quem se foi; mas você não. "Todo mundo imagina que você está sarado. Você tem apenas os primeiros meses de pesar, mas, depois, não tem mais ninguém ao seu lado. É uma solidão desumana. Por que não prestamos apoio para a vida inteira?", questiona. O sofrimento da perda, segundo o escritor, é o mesmo, independentemente de como tenha sido a relação com esse ente. "Não tem como apagar a saudade. A saudade não pede licença para entrar. A saudade é o que sobrou do amor", concluiu.
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