Por meio do projeto Capoeira: formação técnico-profissional e cidadania — nível básico da Agência Brasileira de Cooperação (ABC), do Ministério das Relações Exteriores, um grupo de quatro brasileiros do Centro Cultural de Capoeira Raízes do Brasil, com sede em Brasília, foi a São Tomé e Príncipe. Lá, eles apresentaram esse tipo de arte na Cimeira, forma como é chamado o Encontro de Países de Língua Portuguesa da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP), que realizou sua 14ª edição.
- Na CPLP, Lula consolida liderança do Brasil entre países lusófonos
- 'África tem tudo para se tornar potência agrícola', diz Lula na CPLP
- Capoeira: brasiliense Erick Maia defende o cinturão em torneio no RJ
- A capoeira, predominantemente masculina, ganha adeptas mulheres
- Projeto oferece aulas gratuitas de capoeira para pessoas de 4 a 60 anos
A iniciativa tem como objetivo ensinar valores de cidadania, conscientizar os jovens sobre os perigos de problemas como alcoolismo, uso de drogas, evasão escolar e gravidez precoce, por meio da capoeira — além de mostrar como a prática conduz a uma vida saudável.
Abertura
Na cerimônia de abertura da Cimeira, o grupo fez uma apresentação de capoeira no Estádio Nacional de São Tomé e Príncipe para mais de 30 mil pessoas e cantou os hinos nacionais santomense e brasileiro em um evento dentro do centro de formação do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) no país africano. "Além da condição física dos santomenses, o que mais chama a atenção deles é a musicalidade. A afinação, a melodia e a cadência são incríveis", afirmou o mestre Ralil Salomão, 62 anos.
Praticante de capoeira há mais de 30 anos, Ralil acredita que o projeto ajudou a disseminar essa expressão cultural em São Tomé e Príncipe, que possui 1,2 mil capoeiristas e 30 professores atualmente. "Todas as vezes que volto de São Tomé e Príncipe, volto com alguns ensinamentos. Sou aposentado da Caixa Econômica e, às vezes, passamos toda uma vida querendo conquistar recursos e bens. Lá, eles são felizes com o pouco que têm e trabalham sorrindo, sem falar no potencial físico que possuem", emociona-se.
Outros três mestres do Centro Cultural de Capoeira Raízes do Brasil ficaram no país africano para participar da festa de 7 de setembro na Embaixada do Brasil. Um deles é Marcos Vinícius Trindade Sousa, 41. Mais conhecido como Vampirinho, o contramestre de capoeira expõe que manifestações culturais brasileiras são muito bem vistas em São Tomé e Príncipe e no mundo. "Aqui é o segundo esporte mais praticado no país, perdendo apenas para o futebol. Fico honrado sempre que chego em um local como este e vejo o quanto eles amam nossa arte e o quanto estão praticando bem a capoeira", pontua.
Para o professor de educação física, é importante mostrar a potência de transformação social através do esporte. "Queremos que a capoeira esteja dentro das escolas por causa de sua potência de desenvolvimento integral. É a nossa arte marcial brasileira", destaca. Vampirinho lembra que esse intercâmbio cultural é necessário, também, para expandir a cultura brasileira pelo mundo.
Igualdade
Segundo Ricardo Silva, 40, mais conhecido como mestre Pimenta, a capoeira nesses eventos de trocas culturais ganha mais reconhecimento como instrumento de inclusão social e cultural entre países. "Grande satisfação em representar o Brasil em outro país e em especial na África, onde estão nossas origens. Apresentar a capoeira para o povo santomense foi espetacular", conta. A capoeira transcende alguns limites físicos e culturais, e oferece inúmeros benefícios que vão além das habilidades acrobáticas.
O mestre Ralil Salomão, por sua vez, aponta que a maneira como os capoeiristas se tratam evidencia uma profunda lição de igualdade e respeito que poucos esportes proporcionam. "Trata-se de uma arte que prega a igualdade entre todos. A roda é um verdadeiro exemplo de democracia em ação, em que a harmonia e a união prevalecem sobre qualquer forma de preconceito", destaca.
O mestre ainda acrescenta que a capoeira traz benefícios para o físico, o social e questões intrapessoais. Silva salienta que a realização do esporte promove o desenvolvimento da coordenação motora e da percepção rítmica, tornando o praticante mais consciente do seu próprio corpo e do ambiente ao seu redor. "Sua simplicidade atrai pessoas de todas as idades, tamanhos e etnias, promovendo inclusão e diversidade. Na roda de capoeira, todos estão compartilhando o mesmo espaço e a mesma paixão pela arte", completa.
Para o servidor público aposentado, a capoeira é mais do que uma simples forma de exercício físico, mas sim uma expressão cultural profunda. "É uma experiência que transcende os movimentos do corpo, tornando-se uma jornada emocional e espiritual única", garante.
CPLP
O 14º Encontro de Países de Língua Portuguesa da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP) ocorreu entre os dias 21 e 27 de agosto e reuniu chefes de estado e governos de Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Guiné Equatorial, Moçambique, São Tomé e Príncipe e Timor Leste. Criada em 1996, a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa visa o aprofundamento da amizade mútua, da concertação político-diplomática e cooperação entre os seus membros.
*Estagiário sob a supervisão de Hylda Cavalcanti
Saiba Mais
-
Cidades DF Regulamentada lei que garantirá mais recursos para o esporte no DF
-
Cidades DF Brasilienses resistem ao frio para dar continuidade à prática de esportes
-
Cidades DF Ação de vândalos, em Planaltina, prejudica projeto social esportivo
-
Cidades DF Marcas que valorizam o esporte incentivaram a Maratona Brasília 2023