Para conectar a periferia com as tendências de inovação no mercado nacional e internacional, o segundo e último dia da Expo Favela Brasília realizou, ontem, painel de debates intitulado Elas no Poder / Mulheres na Linha de Frente que destacou a representatividade e a liderança feminina destas comunidades no empreendedorismo e na cultura popular. O evento, que aconteceu durante o final de semana, teve como sede o museu interativo Sesi Lab, — perto da Rodoviária do Plano Piloto — e contou com um público de aproximadamente 5 mil pessoas, entre palestrantes, expositores e público visitante. A etapa promovida na capital federal apresentou oportunidades de ascensão profissional a partir do incentivo à educação.
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A professora de teatro, atriz e escritora com 11 livros publicados, Cristiane Sobral, uma das painelistas, ressaltou a importância das mulheres do DF serem motivadas a buscar espaços de poder. "Fiz graduação e mestrado e sempre notei a dificuldade do protagonismo da mulher nos espaços de poder. Precisamos trabalhar mais pela sustentabilidade das mulheres, que são as que seguram a maioria dos lares brasileiros", analisa.
Cristiane diz que as jovens que a conhecem pessoalmente a abraçam e deixam mensagens de reconhecimento. "Ex-alunas minhas dizem muito para mim que estavam em uma palestra ou aula e que o fato de eu ter contado tudo o que passei as incentivou. Quando entro nas escolas, os alunos dizem: olha lá, uma professora negra!. Então, a representatividade é real", opina a palestrante.
Leitura sustentável
Um exemplo de empreendedorismo coletivo é a parceria de Cristiane Sobral com o artesão de Valparaíso de Goiás Hugo César. Durante o evento, ele vendeu plantas de sombra e um livro da Editora Aldeia de Palavras, a qual Cristiane é dona, a partir de R$ 80. "Juntamos a sustentabilidade com a leitura, e chegamos nesse projeto, chamado Leitura Sustentável. Serve para fazer as pessoas saírem um pouco do celular e as incentivar a cuidar de uma planta, que é uma responsabilidade que a pessoa tem, como se fosse um pet vegetal", explica.
Para ele, uma ideia inovadora nem sempre está relacionada à tecnologia. "O Expo Favela abre portas muito importantes para a inserção de novos microempreendedores com ideias inovadoras no mercado. Como o que eu propus. Vendo as plantas para pessoas que moram sozinhas em apartamentos no DF, para que possam cuidar delas no dia a dia", complementa.
Junto de Cristiane Sobral, a presidenta do Instituto Rosa dos Ventos Produções, Stéffanie Oliveira, desta a força das mulheres dentro das culturas populares do DF. "Nossos territórios, em sua maior parte, estão na periferia, têm uma ligação com a natureza, foram empurrados para fora do grande centro de Brasília, mas também são uma grande potência e têm uma riqueza cultural", avalia.
Pelo Rosa dos Ventos, Stéffanie discursou sobre a atuação do instituto para empoderar mulheres na cultura popular. "Em 9 de dezembro, por exemplo, temos a Festa das Yabás, na Praça dos Orixás, que é a segunda edição em homenagem ao ancestral feminino da cultura africana. É perto do Dia de Iansã e Oxum, então tem uma representatividade especial, para colocar mulheres à frente", completa.
Diversidade
O cuidado na escolha de cada palestrante foi do diretor artístico Anderson Quack, responsável por elencar os participantes e cantores que engrandeceram a Expo Favela Brasília. Segundo ele, o objetivo foi gerar inspiração tanto do público quanto os expositores. "As mesas foram pensadas dessa forma, com diversidade de gênero, raça, território e faixas-etárias para que todos se sentissem incluídos", contextualiza.
Anderson destacou que a participação dos jovens foi um dos focos da edição, embora o evento eúna vários tipos de pessoas, com idades variadas. "Os temas da Expo Favela Brasília têm um viés mais voltado para o jovem empreendedor, que é quem mais carece de informação e de acesso às oportunidades para podere gerir e fomentar os seus negócios", comenta.
Para o presidente da Central Única das Favelas no Distrito Federal (Cufa-DF), Bruno Kessler, a edição proporcionou vários momentos de emoção entre o público e os expositores. "O nosso grande objetivo foi trazer capacitação, formação e oportunidades para quem está expondo também. Tivemos relatos de pessoas emocionadas, que conseguiram aproveitar bem o conteúdo muito rico que oferecemos", afirma.
Kessler disse satisfeito ao ver jovens empreendedores que levaram projetos para expor no evento. "O termo favela é muito estigmatizado por pautas negativas. Não podemos ser pautados somente por coisas ruins, porque temos uma potência muito grande, com novos negócios surgindo. É uma semente que estamos plantando para gerar novos frutos lá na frente", diz.
Representando o Correio Braziliense, a jornalista Samanta Sallum falou no painel 7 sobre economia criativa e a editora do site, Mariana Niederauer palestrou no painel Elas no Poder / Mulheres na Linha de Frente.