Dentre os casos mais graves de aneurisma cerebral, 40% levam o paciente à morte. A informação é do neurocirurgião Victor Hugo Espíndola, convidado da edição do programa CB.Saúde — uma parceria entre o Correio Braziliense e a TV Brasília. Em conversa com a jornalista Carmen Souza, o especialista detalha os estágios da doença, alertando sobre as consequências do Acidente Vascular Cerebral (AVC), além de relacionar a saúde do sistema circulatório do cérebro com o do coração.
Qual é a taxa de mortalidade em casos de aneurisma?
Quando rompe esse aneurisma, a taxa de mortalidade fica entre 30% e 40%. Então é muito alta; a gente fala que praticamente metade dos pacientes que têm aneurisma morre e, daquela metade que sobrevive, grande parte fica sequelada. Desde sequelas muito graves, de paciente que fica acamado e não consegue interagir e conversar, até aquele que perde o movimento de um lado do corpo. Ou então, existem sequelas mais leves, mas não menos debilitantes, como déficit de memória, dores de cabeça intensas, o que pode afetar a qualidade de vida. A minoria de pessoas que têm um quadro grave sai dele com a vida normal. Quando rompe, é uma doença muito grave, por isso que a gente tem que fazer todo o esforço de diagnosticar e tratar antes da ruptura. Até porque tratar um aneurisma que nunca rompeu é muito mais simples e eficaz do que tratar um aneurisma rompido. São contextos completamente diferentes.
Em caso de AVC, a gente pensa numa janela estratégica para intervenção, para reduzir risco de mortalidade e sequelas. No caso do aneurisma, funciona desse jeito também?
A gente não tem a extrema urgência que tem em um Acidente Vascular Cerebral (AVC) isquêmico, quando há uma obstrução arterial e a gente tem um tempo máximo para desobstruir essa artéria com medicação venosa, até 4 horas e meia. O cateterismo, para poder desobstruir, idealmente, ele tem que ser feito em até 6 horas. Em alguns casos, a gente faz até 24 horas, mas quanto mais precoce, melhor. Para o aneurisma roto, aquele que sangrou, a gente não tem essa urgência extrema, mas a gente tem que tratar o mais rápido possível. O aneurisma que sangrou e o corpo conseguiu adaptar e parar esse sangramento, se você não tratar rápido, ele pode sangrar de novo. Então, a principal complicação desse aneurisma que sangrou é o seu ressangramento. A gente tem que tratar com certa brevidade sim para evitar que ele sangre de novo. Cada vez que sangra, aumenta mais a mortalidade e a gravidade do quadro.
Você disse que, para pacientes com um histórico familiar, a recomendação é fazer um check-up neurológico, mas veio também, aqui na nossa conversa, a pressão alta e o tabagismo como fatores de risco. A gente pode começar a pensar em fazer exames para descobrir o aneurisma de uma forma não acidental?
Isso é interessante porque, se a gente pega pacientes com esse perfil mais hipertenso e mais tabagista, hoje a gente tem exames não invasivos muito bons que não causam nenhum mal ao paciente e trazem informações muito importantes. Se você conseguir fazer esse exame, diagnosticar esse aneurisma e tratá-lo, você consegue evitar problemas muito graves. A gente não tem ainda na medicina uma recomendação formal para se fazer isso, mas eu acredito que seria, sim, uma estratégia bem interessante.
Hoje é o Dia Mundial do Coração, e existe uma relação muito direta da saúde do coração com a saúde do cérebro, certo?
Exatamente, são as doenças cardiovasculares. Acaba que a gente consegue englobar tudo num contexto só. O que é fator de risco, para ver se o aneurisma é isquêmico ou hemorrágico, é fator de risco para o infarto. Os fatores de risco são os mesmos, porque a fisiopatologia, o mecanismo da doença, é o mesmo. É a doença das artérias. Às vezes, as artérias que estão no cérebro estão no coração. Então, fatores de risco como pressão alta, diabetes, colesterol, obesidade, tudo isso vai levar a um defeito das artérias. Se acometer as do coração, vai levar ao infarto; se afetar as cerebrais, leva ao AVC. Então está tudo no mesmo contexto e a gente tem que prevenir as doenças cardiovasculares, que são as principais causas de óbito hoje.
*Texto de João Carlos Silva, estagiário sob supervisão de Márcia Machado
Saiba Mais
Gostou da matéria? Escolha como acompanhar as principais notícias do Correio:
Dê a sua opinião! O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores pelo e-mail sredat.df@dabr.com.br