Além das flores que colorem a cidade, a primavera também é o momento de acasalamento das cigarras que, depois de passarem um longo período debaixo da terra, saem e começam a cantar. A professora doutora do curso de biologia da Universidade Católica de Brasília (UCB), Karine Barros, explica que as cigarras são insetos que passam por um processo de metamorfose ao longo da vida.
"A cigarra fica durante toda a fase jovem de 30cm a dois metros abaixo da terra. Durante esse período, elas se alimentam da seiva das raízes das árvores. Quando o período de chuvas se aproxima, elas saem da terra para alcançar a fase adulta e se reproduzirem. Nos troncos das árvores, elas passam pela metamorfose para conseguir o corpo adulto, depois acasalam-se e reiniciam o ciclo de desenvolvimento", explica Barros.
- Estação das flores, a primavera toma conta dos restaurantes da cidade
- Tempo: Chuvas e alta umidade trazem alívio aos brasilienses hoje (28/9)
- Tendências da estação: tons da primavera estão em alta nos looks
A bióloga também explica que a crença de que as cigarras cantam até explodir é um mito, por conta das "cascas" vazias que elas deixam no ambiente, no processo de transformação. "O que as pessoas costumam ver, na verdade, é a exúvia, ou seja, a pele velha da cigarra."
Após se tornarem adultos, os machos vão produzir o som para poder atrair a fêmea, que vai variar de acordo com a espécie. Depois de um tempo, após o acasalamento, as cigarras morrem", esclarece Karine Barros.
Sobre a importância das cigarras para o equilíbrio do ecossistema, a bióloga aponta o papel que o inseto desempenha na cadeia alimentar. "Elas são alimento para vários outros tipos de animais como, por exemplo, aves, alguns anfíbios e répteis".
O professor de zoologia da Faculdade de Planaltina da Universidade de Brasília (UnB), Eduardo Bessa, explica que é importante que as cigarras saiam da terra e sofram a muda de pele, com tempo para botar os ovos no início das chuvas e para os jovens se desenvolverem enquanto há umidade e muito alimento", sublinha.
Som
O que torna o acasalamento das cigarras mais perceptível é o canto que os machos emitem com o objetivo de atrair as fêmeas. Por emergirem da terra em grande quantidade, os sons podem causar incômodo, principalmente aos moradores de regiões onde há presença mais intensa de vegetação. Mas, para a musicista Ayla Gresta, 37 anos, o comportamento dos insetos acaba sendo uma inspiração artística.
Ela tem uma banda chamada Cigarras. "Eu gosto delas. É uma oportunidade de termos contato com decibéis altos de música e sons. Elas trazem o brasiliense para outra frequência", avalia a compositora. "O som produzido pela banda é de improviso. A gente escolheu esse nome pela forma que elas fazem o barulho, que é de maneira aleatória, mas que acaba gerando um encontro. Nesse grupo, a gente nunca ensaia, só combina a roupa", revela.
Para o zelador de um dos blocos da 415 Norte, Silvio Cesar, o canto das cigarras não gera incômodo. “Mas tem muitos moradores que reclamam, que chegam a questionar o porquê da existência delas. Eu digo que são todas criação de Deus. Tem um motivo para elas estarem aqui e cantando”, reflete.
Além da compreensão com o fenômeno da natureza, Silvio também interpreta a barulheira feita pelas cigarras como um bom sinal. “Quando elas cantam é porque é sinal de que as chuvas estão se aproximando. E, com esse calor, é uma boa notícia”, analisa.
Moradora do bloco I da 404 Norte, Elba Lúcia Moraes de Melo conta que apesar de a chegada das cigarras dar boas-vindas à chuva, o barulho delas desde as 5h da manhã até o anoitecer é um incômodo. "Todos os anos é a mesma coisa, quando as cigarras estão no auge da cantoria, chegam as primeiras chuvas, e aí vem o tormento. Além do barulho que é muito ruim, atrapalha a assistir televisão e falar ao telefone, porque quem está do outro lado da linha imagina que é uma panela de pressão. Eu tenho pavor das cigarras e mantenho as janelas fechadas, mesmo morrendo de calor", confessa a dona de casa.
Saiba Mais
Gostou da matéria? Escolha como acompanhar as principais notícias do Correio:
Dê a sua opinião! O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores pelo e-mail sredat.df@dabr.com.br