SEGURANÇA PÚBLICA

A arte contra a opressão: muros usados pelo PCC em Brazlândia ganham grafite

Uma ação social promovida entre a Polícia Civil do DF e os órgãos públicos, na manhã desta segunda-feira (25/9), visa eliminar os rastros deixados pela facção em Brazlândia

Ação social em Brazlândia faz grafitagem em muros pichados pelo PCC -  (crédito: Divulgação/PCDF)
Ação social em Brazlândia faz grafitagem em muros pichados pelo PCC - (crédito: Divulgação/PCDF)
postado em 25/09/2023 12:24 / atualizado em 25/09/2023 12:36

A 55km do Plano Piloto, faccionados da maior organização criminosa do país, o Primeiro Comando da Capital (PCC), se instalaram e tentaram dominar uma das regiões que é o cinturão agrícola do Distrito Federal. Brazlândia se tornou atrativo para criminosos, que passaram a oprimir, ameaçar e ditar regras a moradores. As ininterruptas operações da Polícia Civil do DF (PCDF) em conjunto com a Polícia Militar (PMDF) colocaram atrás das grades mais de 20 membros da cúpula e traficantes. Mas as ações de combate à criminalidade não se resumem à detenção. Uma ação social promovida entre a PCDF e os órgãos públicos, na manhã desta segunda-feira (25/9), visa eliminar os rastros deixados pela facção na cidade.

A ação comunitária, que é em parceria com o GDF, começou às 8h e se concentrará especificamente na quadra 58 da Vila São José, local anteriormente dominado por faccionados. Participaram da iniciativa a Vigilância Ambiental, a Vigilância Sanitária, a Superintendência de Limpeza Urbana (SLU), a Administração Regional de Brazlândia e a PCDF.

  • Dinheiro e celulares apreendidos com traficantes da Vila São José Divulgação/PCDF
  • Muro pichado pelo PCC Divulgação/PCDF
  • Ação da Polícia Civil do Distrito Federal contra traficantes da Vila São José Divulgação/PCDF
  • Pichação na Vila São José, em Brazlândia Divulgação/PCDF
  • Ação social em Brazlândia faz grafitagem em muros pichados pelo PCC Divulgação/PCDF

No começo da manhã, os presentes se concentraram na Feirinha da Vila. Logo em seguida, começará a limpeza das quadras 56, 57 e 58 e, depois, uma iniciativa dos grafiteiros locais dará uma nova “cara” aos muros, que receberão uma pintura especial. Por anos, os muros foram pichados com dizeres do PCC, o que seria uma forma de intimidação aos moradores e “demonstração de poder”. “O PCC e o tráfico deixaram sua marca e inscrições em vários muros, para intimidar os moradores. Também danificaram a iluminação e proibiram a comunidade de usar a quadra poliesportiva. Tínhamos três quadras problemáticas na cidade. Intensificamos as ações na região e prendemos 14 membros do PCC e 9 traficantes (todos continuam presos), mas a experiência mostra que não basta prender. Então, resolvemos combinar uma ação de cidadania na região”, explica o delegado Fernando Cocito, chefe da 18ª Delegacia de Polícia (Brazlândia).

A ação promoverá, ainda, a troca da iluminação na quadra. Pioneira no projeto, Brazlândia deve seguir como exemplo para ações semelhantes em outras cidades do DF.

Operações

Em maio, a 18ª DP fez uma das maiores operações contra organizações criminosas no DF. Onze integrantes da cúpula do PCC e um do Comando Vermelho (CV) foram presos na época. As prisões fizeram parte da segunda fase da operação Sicário. A primeira foi desencadeada em março e levou à cadeia Gabriel dos Santos Lima e Grasielly dos Santos. Gabriel é filho de Walter Pereira de Lima, atualmente preso na Penitenciária do DF 1 (PDF1), onde cumpre mais de 58 anos de pena por diversos crimes, entre eles organização criminosa, roubos, tráfico de drogas e porte ilegal de arma de fogo. Grasielly é casada com Walter.

Teria sido de Walter a ideia de recrutar o filho para o PCC, que, por sua vez, foi encarregado de aliciar e batizar novos membros para a facção. O pai ainda atribuiu outras ordens ao criminoso de atacar policiais e atear fogo nos ônibus da cidade. O objetivo era gerar pânico na cidade e atacar grupos rivais.
Todas essas ordens eram transmitidas pela mulher de Walter e também integrante do PCC. A polícia apurou que ela era responsável por passar os recados e demandas dos membros da facção detidos na Papuda para a "Sintonia Final" — da alta cúpula — da facção em São Paulo. Em um dos recados repassados ao filho, Walter orientava o filho a andar com "gente grande" e vender drogas em alta quantidade.

Walter também se envolveu na transmissão de recados ameaçadores a um delegado da PCDF e à juíza da Vara de Execuções Penais do Distrito Federal (VEP), Leila Cury. No manuscrito, ele ordenava o sequestro de um familiar da magistrada, na tentativa de coagi-la a expedir alvarás de soltura de internos.

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