No Distrito Federal, foram registradas 61.997 infrações de trânsito por uso de celular ao volante, de janeiro a agosto de 2023. O número equivale a 10 pessoas multadas a cada hora por usarem o aparelho enquanto dirigiam. No ano passado, foram 96.325 ocorrências desse tipo, de acordo com o Departamento de Trânsito (Detran-DF). A média é a mesma — 10 multas por hora.
Os números de 2022 são os maiores desde a mudança no Código de Trânsito Brasileiro (CTB), que classifica essa infração como gravíssima. Para o especialista em trânsito Artur Morais, os dados, que englobam autuações feitas pelo Departamento de Trânsito (Detran-DF), Departamento de Estradas de Rodagem (DER-DF) e Polícia Militar (PMDF), indicam que o uso do celular ao volante é uma das maiores causas de acidentes.
Artur cita um exemplo de uma situação na qual o motorista está a 40km/h e utiliza o dispositivo para ler ou enviar mensagens de texto, pelo período de cinco segundos. "É importante relembrarmos da física do primeiro ano do ensino médio. Se estar a 40km/h por hora, para transformar em metros por segundo, divide por 3,6 e terá 11 metros por segundo. Se serão cinco segundos para ler ou enviar mensagens, vai andar 55 metros sem olhar para frente. É a metade de um campo de futebol, praticamente", explica.
"Só na velocidade pequena, é possível causar um trágico acidente. Por isso, é necessário que o motorista entenda os riscos. O governo precisa fazer campanhas e uma fiscalização rígida, porque sabemos que é muito perigoso utilizar o celular enquanto dirige. No meu ponto de vista, beber e dirigir, e excesso de velocidade são semelhantes à utilização do celular ao volante. São fatores primordiais para acidentes no trânsito", analisa Artur.
Imprudência
A recepcionista Laura* (nome fictício) bateu com o carro na traseira de um veículo, na EPTG. Foi muito rápido. Aconteceu quando ela tirou as mãos do volante para responder uma mensagem em um aplicativo de conversas. "Ocorreu no ano passado, na época das festas de final de ano. Foi uma desatenção de três, quatro segundos. Quando reparei, tinha colidido no carro da frente, que havia parado no semáforo", lembra.
Ela estava em baixa velocidade, apesar de a máxima na EPTG ser de 80km/h. Laura buscou atendimento médico com dores na parte superior do corpo, mas não sofreu ferimento grave. Também se responsabilizou pelo conserto do outro veículo. "Se para quem está prestando a atenção no trânsito, os acidentes acontecem. As pessoas que não estão atentas, a chance de acidente é muito grande. Como uma boa brasileira, a gente só aprende depois que acontece. É uma atenção que eu estou tendo mais algo", contou.
Conscientização
Professor de direito do Centro Universitário de Brasília (Ceub), Victor Quintiere enfatiza que as leis existentes, sejam da área administrativa ou criminal, com sanções ao motorista, são suficientes. O especialista aponta que, para que o condutor entenda que a prática é infração, deveria haver mais campanhas educacionais.
"O grande ponto, a fim de solução desse problema, diz respeito à educação no trânsito, à conscientização dos riscos e dos perigos envolvidos na atitude do motorista, que enquanto dirige um veículo automotor usa o celular", avalia o especialista. Ele observa que o aparelho tira a atenção e prejudica os reflexos do condutor.
O que diz o Detran
Em nota encaminhada a reportagem, o Detran detalhou que realiza ações educativas para conscientização sobre os riscos de acidentes de trânsito causados pelo uso do celular ao volante. "Destacam-se as palestras para públicos diversos, com profissionais da Escola Pública de Trânsito indo a escolas, empresas e eventos. Além disso, são distribuídos materiais educativos com a mensagem 'Pare de dirigir teclando', muito conhecidos pelos usuários", informou o órgão.
Sobre policiamento e fiscalização, o Detran e os demais órgãos de trânsito informaram que têm intensificado o patrulhamento. "Além disso, (há) a presença em pontos fixos com grande circulação de veículos para fiscalizar condutores que seguem insistindo nessa imprudência. Isso representa mais de 255 autuações por dia ou pouco mais de 10 autuações por hora. Um número que mostra o empenho dos órgãos de trânsito do DF em coibir essa prática que causa muitos acidentes nas vias públicas", concluiu o Detran.
O que diz a lei
Dirigir com o celular na mão ou falar ao telefone durante a condução caracteriza infração de natureza gravíssima — sete pontos na carteira. O valor da multa é de R$ 293,47. A infração está prevista no parágrafo único do Artigo 252, do Código de Trânsito Brasileiro.
Fonte: Detran-DF
Autuações por uso de celular ao volante desde 2017
2017: 67.730
2018: 70.273
2019: 76.380
2020: 70.228
2021: 92.663
2022: 96.325
2023: 61.997 (até agosto)
Fonte: Detran-DF
Colaborou Arthur de Souza
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