A pulseira verde no braço é um indicativo de que, por mais que a saúde não esteja nada bem, dificilmente haverá atendimento. Há quem se mantenha firme, aguardando por qualquer sinal de consulta ou, ao menos, medicação. Para os pacientes que vão ao Hospital Regional de Ceilândia (HRC), esperar, com dor e sem perspectiva, não se trata de resiliência: é desespero. Na quarta-feira (13/9), o Correio conversou com pessoas que aguardavam no pronto-socorro por atendimentos na ortopedia. Em comum, a indignação.
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"Se a gente vem, é porque precisa", frisou Rosineide da Silva, 42 anos, que está com inchaço e muita dor na perna esquerda. A suspeita, segundo ela mesma avaliou, é de que seja gota. Quando passou pela triagem, informaram-lhe que não havia médicos e que, pela manhã, a prioridade seria para os casos emergenciais, isto é, aqueles classificados com pulseira amarela.
A dona de casa, moradora de Taguatinga, decidiu esperar, visto que a expectativa era de que houvesse atendimento para aquelas com pulseira verde a partir das 13h30.
Mas o autônomo Fernando Gamas, 54, encara a afirmação com desconfiança. Desde segunda-feira, vai ao HRC para trocar a tala do braço quebrado por um gesso. E até às 11h, de ontem, nada. "Sempre me falam para voltar amanhã, pois não tem médicos. Estou cansado, passo o dia aqui [no hospital] e tenho dormido a base de remédios", lamentou.
Sem engessar o braço direito, ele segue sem recuperação e com dores. Por morar em uma região de chácaras, leva uma hora e meia para se deslocar todas as vezes que tenta atendimento. "Hoje, vou esperar somente até às 15h", disse.
Maria do Socorro, 56, levantava-se com dificuldades. Há dois dias a dor no joelho, conforme relatou, a impede de trabalhar no restaurante onde é atendente. No HRC, ela aguardava há três horas por qualquer atendimento. Assim como Rosineide e Fernando, estava com a pulseira verde.
"Apesar de tudo, tenho fé que vou conseguir", afirmou, positiva. Sobre a situação do hospital, porém, foi incisiva: "só vejo esse governo construindo pistas. Eles se esquecem que nem todo mundo tem carro. O que precisamos mesmo é de médicos", destacou.
Do outro lado do hospital, na pediatria, o clima era mais ameno e sem filas. No banco, aguardavam sentados Eliene Santos, 35, e seu filho Matheus, de 5 anos. O pequeno estava com uma pulseira amarela e, segundo a mãe, com febre, dores e náuseas, há três dias. Para ela, disseram que havia médico e que o menino seria atendido. A expectativa, portanto, era boa.
"Sempre venho quando não há jeito e passei mais de quatro horas esperando atendimento nesse hospital, então, hoje até que está rápido", comentou Eliene, que aguardava chamarem o filho há uma hora.
O Correio entrou em contato com a Secretaria de Saúde do DF (SES-DF), para questionar a falta de atendimentos no pronto socorro da unidade, ontem. A pasta informou que, "na manhã de quarta, no pronto-socorro da ortopedia, havia dois médicos no plantão, que estiveram no centro cirúrgico de 7h às 10h30 e que, em seguida, os atendimentos voltaram a ser realizados".
Além disso, o HRC possui alta demanda de cirurgia ortopédicas de urgência/emergência, por ser referência para ortopédica de Ceilândia, Por do Sol, Sol Nascente e Brazlândia. "Essa demanda ocasiona, frequentemente, a ida dos profissionais para o centro cirúrgico, com impacto no atendimento de porta. Habitualmente são quatro médicos no plantão de ortopedia", informou a pasta.
Confusão
Na última segunda-feira, a Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF) precisou ser acionada no HRC para conter uma discussão entre mães que aguardavam atendimento pediátrico e uma funcionária. A queixa seria sobre a falta de médicos na ala.
A profissional respondeu que, durante o dia, médicos prestaram atendimento. Em resposta, as mães alegaram que era mentira. A PMDF confirmou que foi acionada para conter a discussão no local e a situação foi resolvida.
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