Estelionato

Mulher que aplicou golpe para custear casamento é condenada pela Justiça

Susy Ferreira Aguiar cumprirá a pena de 2 anos e 8 meses de reclusão em regime inicial semiaberto e deverá pagar a vítima

Mulher está presa e vai responder por estelionato -  (crédito: material cedido ao Correio)
Mulher está presa e vai responder por estelionato - (crédito: material cedido ao Correio)
Darcianne Diogo
postado em 12/09/2023 22:22

A Justiça do Distrito Federal condenou a mulher acusada de aplicar um golpe na amiga da família para custear uma festa de casamento luxuosa. Susy Ferreira de Aguiar, 38 anos, cumprirá a pena de 2 anos e 8 meses de reclusão em regime inicial semiaberto e deverá pagar um valor de R$ 58 mil à vítima.

O caso foi noticiado pelo Correio em março deste ano. Segundo as investigações conduzidas pela Polícia Civil (PCDF), Susy subtraiu mais de R$ 55 mil de uma idosa, de 66 anos, amiga da mãe dela. A vítima tinha uma dívida de mais de R$ 190 mil referente à hipoteca de um apartamento e foi ludibriada pela golpista. A suspeita ofereceu ajuda e indicou um suposto advogado especializado em direito imobiliário. O profissional chegou a entrar em contato com a vítima por telefone, disse que conseguiria renegociar a dívida e precisaria apenas do CPF e do nome completo dela.

A golpista fez várias transferências via pix da conta da idosa. Em 1º de março, ela transferiu R$ 30 mil. No dia 7, foram feitas mais duas transações no valor de R$ 10 mil cada. No dia seguinte, mais um depósito de R$ 10 mil e, em 14 de março, R$ 5 mil.

Na sentença judicial, proferida nesta terça-feira (12/9), o juiz Tiago Fontes Moretto decidiu que a ré não tem direito aos benefícios da substituição da pena privativa de liberdade, uma vez que acumula maus antecedentes. Ela foi condenada por estelionato consumado e um tentado. A pena deverá ser cumprida em regime semiaberto. “[...] ficou amplamente demonstrado que a ré induziu a vítima em erro, mediante o ardil de fazê-la acreditar que estava renegociando uma dívida no momento da contratação do empréstimo, para transferir da conta dela valores para pagar serviços do seu casamento e, posteriormente, requerer e receber esses valores dos fornecedores, sob a alegação de que os pagamentos foram realizados por engano. Com essa prática, a ré obteve a vantagem indevida referente à quantia de R$ 58 mil extraída da conta da vítima, o que configura o dolo de sua conduta”, frisou o magistrado.

O caso


O dinheiro subtraído por Susy da conta da idosa foi transferido para uma única conta em nome de uma empresária do ramo de festas, com nome fantasia de Lys Events. No entanto, a empresária sequer sabia que também estava sendo vítima do golpe. A vítima contou que a golpista não utilizou apenas o CNPJ dela, mas de uma empresa do buffet e do DJ que tocaria na cerimônia.

Desconfiada da quantidade de movimentações financeiras na conta, a idosa contratou uma advogada para verificar o andamento do processo referente à hipoteca da casa. Ao Correio, a advogada Laryssa Dias Rêgo Ferraz contou à época que, ao verificar os destinatários dos valores, constatou que, na verdade, tratava-se de fornecedores de casamento e que não havia quaisquer processos em trâmite que tratassem da revisão das parcelas do apartamento.

A idosa questionou Susy sobre o ocorrido e trocou as senhas bancárias. Em 15 de março, segundo a advogada, a estelionatária implorou à vítima para que elas se encontrassem pessoalmente, pois iria provar que não se tratava de golpe. “Uma suposta oficial de Justiça teria entrado em contato com a minha cliente para falar sobre uma audiência de conciliação. Algo totalmente estranho, pois constava no e-mail que havia documentos anexados, mas, na verdade, não tinha. Fui ao apartamento da vítima e constatei que se tratava de um golpe”, afirmou a advogada.

Segundo as investigações, a estelionatária usou os dados pessoais da própria advogada de defesa para “criar” a oficial de justiça, na tentativa de convencer a vítima de que não se tratava de um golpe. Na delegacia, a advogada, ao descobrir a verdade, abandonou o caso e prestou depoimento contra a autora.

A vítima e a suspeita foram conduzidas à delegacia na manhã dessa quarta-feira para prestar depoimento. Susy foi presa em flagrante e, durante o interrogatório, negou o crime e alegou que só tinha a intenção de ajudar a idosa. Disse ainda que não tinha acesso às contas bancárias da mulher.

A destinatária dos valores transferidos da conta da idosa também prestou depoimento. Trata-se da cerimonialista contratada para fazer o casamento da criminosa. À polícia, a mulher contou que cobrou R$ 900 pelo serviço. Mas Susy transferiu um total de R$ 33 mil para a conta dela e pediu para a profissional retirar o dinheiro cobrado e devolver o resto. A mulher relatou que não desconfiou de nada, pois achou que a conta fosse do marido de Suzy e, por isso, não a questionou.

A cerimonialista só descobriu que a conta dela havia sido usada para movimentar o dinheiro da vítima depois da prisão de Susy.

Golpe no marido

Chamado para depor, o marido da estelionatária relatou que mantinha um relacionamento com a suspeita há cerca de dois anos. Os dois são casados no civil desde novembro e fariam a festa neste domingo, com um total de 250 convidados.

Na delegacia, ao prestar depoimento, o rapaz disse nunca ter desconfiado de qualquer atitude criminosa da mulher, mas expôs uma série de golpes sofridos por ele desde março do ano passado. O primeiro deles foi referente à venda de um carro, depois dele anunciar o veículo em um site de vendas. De acordo com ele, na época, Susy indicou um amigo para vender o automóvel e repassou a conta da mãe dela para que fosse feito o depósito. No entanto, a mulher dizia a todo momento que o dinheiro não poderia ser retirado, pois estava sendo aplicado.

O homem ainda alegou ter tido a conta bancária invadida várias vezes e ter identificado diversas compras efetuadas pela internet. A vítima chegou a ter o nome negativado e gastou R$ 6 mil com uma advogada indicada pela própria esposa. Mas, na delegacia, descobriu, pela própria advogada, que ela jamais teria o representado em alguma ação e que, na verdade, tratava-se de um golpe.

Gostou da matéria? Escolha como acompanhar as principais notícias do Correio:
Ícone do whatsapp
Ícone do telegram

Dê a sua opinião! O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores pelo e-mail sredat.df@dabr.com.br

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação