Música, poesia, arte, gastronomia. Os 57 anos da Quadra 312 Norte não poderiam ser diferentes. A "doze", como é conhecida, se transformou em um cantinho especial dentro de Brasília. Com onze blocos e a comercial, moradores, comerciantes e frequentadores protagonizaram uma grande festa, neste sábado, com música, drinks, espaço kids e economia solidária e criativa.
Os Amigos da Doze, grupo de moradores e ex-moradores, movimentam a quadra desde sua criação com eventos e a integração entre todos da comunidade. A festa deste ano contou com o apoio de moradores, síndicos dos blocos e alguns empresários. Carlos Cezar, 62, mais conhecido como Cecéu, explica que ele é a quarta geração dos Amigos da Doze. "Juntamos todas as gerações de moradores da 312 para angariar recursos para cobrir (os gastos do) evento", explica. Cecéu conta que a comunidade é animada e após as comemorações de 50 anos da quadra, a festa virou tradição.
Amor e tradição
Construída e entregue no ano de 1966, os primeiros moradores da quadra eram funcionários públicos, militares e professores da rede pública. A maioria dos lares tinha famílias numerosas transferidas, principalmente, do nordeste brasileiro. Tanto que, durante um tempo, a quadra foi batizada de "Ceará—Mirim". Filho cearenses, Chico Lima, 59, se mudou com a família para a "doze" aos três anos e viveu na quadra durante grande parte da vida. "Há alguns anos começamos a realizar esse aniversário da 312. É importante essa celebração para reforçar a nossa identidade e memória", expõe. O poeta assegura que a quadra é marcante na vida de todos que vivem ali. "Temos esse amor pelo espaço, nos traz muitas lembranças da infância. Nós crescemos com Brasília, temos quase a mesma idade da cidade, e isso é muito bonito", conta.
Morador da 312 há cinquenta e cinco anos, Zacarias Paixão, 84, diz não trocar sua a comunidade da "doze", por lugar nenhum. "A convivência com os moradores é maravilhosa. Eu conheço todos os vizinhos dos 11 blocos, quando passo todo mundo me chama conversar", frisa. O aposentado não precisa sair de sua quadra para comprar mantimentos, buscar serviços bancários ou de saúde. "Nós temos todo tipo de comércio que pode existir. De loja de material de construção até alimentação", expõe. Zacarias recomenda que as pessoas que ainda não conhecem a "doze", devem ir até a região para conhecer. "Caso alguém mude para cá, ela vai entrar em uma família que gosta de conversar e interagir", orgulha-se.
Apaixonado pela quadra, Francisco Félix, 72, nem cogita se mudar da "doze". "Aqui é um lugar muito bom, quadra segura, tranquila. Eu encontro tudo que preciso aqui", destaca. Para o aposentado, o comércio e a boa relação da comunidade são pontos fortes da região. "Eu quero que a quadra 312 continue por muito tempo do jeito que está funcionando e melhore cada dia mais", destaca.
Comércio
Proprietária do Chiquinhos Bar há 35 anos, Maria de Paiva Lopes explica que o bairro é uma "casa mãe" para todos que vivem ali. "Aqui tem um pouco de tudo, e o nosso bar virou um ponto de encontro dos moradores", salienta. A comerciante afirma que existe grande parceria entre a comunidade do local. "Passamos a ser essa união, a família da 312 Norte. Gostamos muito daqui, temos grande diversidade de lojas, restaurantes e bares. Está tudo perto, é muito bom", conta. A moradora diz que após tantos anos na região não pretende se mudar.
Morador da 312 Norte de 1980 a 2018, Luiz Amorim trabalhou por muitos anos no açougue T-Bone, estabelecimento tradicional da 312, até se tornar dono do estabelecimento em 1994. Segundo o comerciante, a quadra é um ótimo lugar para viver e pretende passar o bastão do açougue para seu filho Luís Carlos Amorim, 17. "Na Europa existem açougues de 800 anos, lá é comum manter a tradição do pequeno estabelecimento. Espero que o T-Bone continue a sua história na doze", frisa. O açougue de Amorim sempre fomentou a realização de eventos culturais na quadra. "A 312 é uma quadra pujante, é um local que tem uma história cultural muito antiga. E conseguimos dar essa contribuição para a doze", afirma.
Luiz Amorim destaca que a quadra 312 tem características de cidade pequena, em que todas as pessoas conversam e vivem em comunidade. "Devemos continuar com essa comunidade muito bacana e pretendo continuar com o açougue o resto da minha vida", planeja.
Para Leomar Santos, 61, o segredo para manter seu estabelecimento, a Só Frango, por muitos anos dentro da 312 Norte é o bom relacionamento com a comunidade. "O pessoal gosta mesmo de vir aqui. A Só Frango virou uma referência aqui na doze", salienta. O comerciante destaca que já está há tanto tempo no local que viu muitos filhos de seus clientes virarem adultos. "Tinha meninas que vinham com a mãe comprar frango, e hoje elas são mães de família", lembra. Leomar reforça que a união dos moradores da quadra é tão grande que eles se consideram uma grande família. "Eu vou ficar aqui até me aposentar (risos). Depois vou repassar o comércio para meu filho, e a tradição vai continuar", finaliza.
*Keli Silva, estagiários sob a supervisão de Adriana Bernardes
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