Ana Luiza Moraes
O presidente do Instituto Kabu, Doto Takak Ire e Cassandra Mello, diretora do filme Escute, a Terra foi rasgada, foram os convidados do episódio do Podcast do Correio. No bate-papo com as jornalistas Sibele Negromonte e Rosane Garcia, foi abordada a construção da aliança entre os povos Yanomami, Munduruku e Kayapós, que se organizaram para promover a luta contra o garimpo nas terras indígenas. O filme "Escute: a Terra foi rasgada" mostra a construção desta aliança. Clique no link para assistir a entrevista completa.
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Como essa aliança surgiu?
Doto Takak Ire: Quando surgiu o garimpo na nossa região, a gente fez uma reunião entre nós, para ter força para lutar. Faz cinco anos que a gente vem trabalhando, e já faz três anos que a aliança está encaixada. A gente tem que falar a verdade. Quando muda o governo, muda o presidente da Funai. Por isso cada etnia criou a sua organização. Porque sabemos que existe uma forma de proteger a sua área independentemente do governo. Hoje, o instituto é uma ONG que protege, briga e luta pelas terras indígenas, pela comunidade e pela terra.
Quando se retira os garimpeiros, geralmente eles acabam voltando. O que é preciso fazer para evitar essa volta?
Doto Takak Ire: Nenhum garimpeiro volta sozinho. Se ele voltar sozinho, ele pode ser executado lá dentro. Quando a Funai quer resolver um problema, resolve. Quando o Ibama quer resolver um problema, resolve. Quando a Polícia Federal quer resolver um problema, resolve. Tem até internet no garimpo. Todo mundo fica sabendo. Faz sete anos que o Instituto Kabu trouxe uma base de vigilância. Lá na minha região, não tem garimpo. Se a gente descobrir que tem, vai lá e manda tirar. E a nossa comunidade ganha com a fiscalização. É nosso, mas a gente está ganhando para proteger mais ainda.
Como o filme "Escute: a Terra foi rasgada" foi idealizado? Como chegaram até as etnias?
Cassandra Mello: Em dezembro de 2021, eles fizeram uma reunião aqui em Brasília. Passaram três ou quatro dias conversando para decidir se iam fazer essa aliança, e a gente foi convidado para essa reunião, tanto eu quanto o Fred Haal. A gente pediu uma autorização para gravar essa reunião com o intuito de fazer um documentário. Foi uma conversa muito rica. Quando eles aceitaram que a gente fizesse esse filme, eles fizeram algumas rodas para dizer o que eles queriam que tivesse no filme, o que não queriam que tivesse no filme, e a gente levou tudo isso muito à risca. E eu acho que a coisa que foi importante é que a gente não quer mostrar só o que é desgraça no nosso território, porque ainda existem territórios que estão limpos, fortes, potentes.
Quando será a exibição do filme?
Cassandra Mello: No dia 12/9, às 18h30, vai ter o lançamento de um relatório que fala de como está a situação no território ianomame, 19h, o filme e, as 20h30 um debate. O filme ainda não está disponível, ainda estamos nesse trabalho de campanha de impacto. Foi lançado em São Paulo e está em alguns festivais internacionais. Já foi exibido na Colômbia, vai ser exibido na Espanha, está circulando um pouco.
Como continuar o enfrentamento contra o financiamento da ocupação das áreas indígenas pelo crime organizado?
Doto Takak Ire: O governo tem que fazer. É obrigação do Estado, entendeu? Eu, como indígena, vejo assim. É uma lei, é uma norma proteger os povos indígenas. É obrigação da Funai junto com a segurança pública. É só o governo cumprir o que está escrito na Constituição Federal. É obrigação do governo continuar expulsando os garimpeiros.
*Estagiária sob a supervisão de Márcia Machado
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