Tragédia /

Local de acidente na Esplanada é interditado para investigação

Queda de operários de uma estrutura que estava sendo montada para o 7 de Setembro, na quinta-feira (31/8), provocou uma morte e deixou três feridos

Por conta do acidente, a montagem da estrutura foi interditada na tarde de ontem pelo Ministério do Trabalho  -  (crédito: Fotos: Ed Alves/CB/DA.Press)
Por conta do acidente, a montagem da estrutura foi interditada na tarde de ontem pelo Ministério do Trabalho - (crédito: Fotos: Ed Alves/CB/DA.Press)
Pedro Marra
postado em 02/09/2023 06:00 / atualizado em 02/09/2023 11:06

O acidente de trabalho com quatro operários na montagem de uma estrutura para as comemorações de 7 de setembro, na Esplanada dos Ministérios, mostrou uma realidade frequente no Distrito Federal: o aumento das ocorrências do tipo na capital. Segundo a Secretaria de Saúde do DF (SES-DF), as notificações de acidente de trabalho cresceram de 1,3 mil para 2,9 mil no primeiro semestre deste ano em relação ao mesmo período de 2022. Mas a pasta pondera que o número pode ter sido provocado pelo aumento da quantidade de notificações desses episódios.

Por sexo, os homens são os que mais se envolvem em acidentes de trabalho. Foram 2,2 mil de janeiro a junho deste ano, contra 649 mulheres que se acidentaram. O público masculino representa 77% do total de ocorrências. Apesar do aumento nas notificações, houve queda nas mortes. De acordo com a SES, ocorreram 34 óbitos, no primeiro semestre de 2022, contra 10 no mesmo intervalo de tempo deste ano.

Viga

 01/09/2023 Credito: Ed Alves/CB/DA.Press. Cidades. Acidente com operarios na montagem da estrutura para o desfile de 7 Setembro.
01/09/2023 Credito: Ed Alves/CB/DA.Press. Cidades. Acidente com operarios na montagem da estrutura para o desfile de 7 Setembro. (foto: Ed Alves/CB/DA.Press)

No caso da última quinta-feira, quatro trabalhadores caíram de uma altura de 15 metros. Fontes ouvidas pelo Correio informaram que os operários estavam montando a viga de sustentação de uma das torres da arquibancada. Todos usavam equipamentos de proteção individual (EPI). Um deles, porém, teve o capacete dividido ao meio e, com o impacto, sofreu traumatismo craniano, vindo a morrer pouco depois.

Diante do ocorrido, a montagem da estrutura foi interditada pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE). Segundo o auditor-fiscal do trabalho Marcos Góis de Araújo, chefe de fiscalização no DF, vai investigar se houve cumprimento da legislação e se todas as questões de segurança em saúde foram respeitadas. Além disso, serão ouvidos colegas das vítimas e testemunhas para realização de laudo técnico pela Polícia Civil do DF (PCDF). "Queremos chegar a uma razão da ocorrência para evitar futuros acidentes", ressalta.

Dos acidentados, Genes Gomes Coelho, que teve traumatismo craniano, faleceu. Jassé Dionísio de Sousa passou por uma cirurgia na perna e se recupera no Hospital de Base e Jardelmo Nunes da Silva estava, até ontem, em uma semi UTI da mesma unidade de saúde. Irmã de Jardelmo, Luciana Nunes contou que o sangramento na cabeça dele continua, mas a empresa se prontificou a ajudá-lo. "Estão correndo atrás de uma vaga na UTI", disse. Maxwell Meira da Silva foi o único que já recebeu alta.

Indenização

  • Vítimas foram encaminhadas para o Hospital de Base de Brasília Ed Alves/CB/DA.Press
  • 01/09/2023 Credito: Ed Alves/CB/DA.Press. Cidades. Acidente com operarios na montagem da estrutura para o desfile de 7 Setembro. Ed Alves/CB/DA.Press
  • O auditor-fiscal Marcos Góis está à frente das investigações Ed Alves/CB/DA.Press

Professora de direito trabalhista do Centro Universitário de Brasília (Ceub), Moara Lima afirma que, judicialmente, o funcionário tem direito a receber indenização por dano moral, por danos materiais nos gastos com medicamentos, consultas e tratamento em função do acidente. No caso do trabalhador que morreu, e que tinha um filho de 8 anos, a criança pode receber pensão se for dependente do pai. "Além disso, o afastamento por acidente de trabalho vai gerar estabilidade para o trabalhador, que não poderá ser demitido durante o período de afastamento e até um ano após o retorno para restabelecer a sua saúde", informa.

Moara acrescenta que o empregador tem a responsabilidade de zelar pela segurança e qualidade do ambiente de trabalho, incluindo o fornecimento de EPIs e de medidas de segurança. "Caso a empresa não forneça de imediato os direitos do trabalhador, ele pode judicializar a questão", orienta.

Investigação

A PCDF informou que investiga o acidente por meio da 5ª DP (Área Central), para determinar as causas. A corporação pediu a necropsia de Genes Gomes Coelho, operário que morreu na montagem da estrutura. Foi realizada perícia e as fotos do local sendo juntadas ao inquérito. A investigação continua para apurar as circunstâncias e causas. Todos os envolvidos e testemunhas que possam contribuir para a elucidação dos fatos serão ouvidos.

Em nota, a Palco Locação — empresa responsável por montar a estrutura para o evento — lamentou o acidente. "Nesses 30 anos de empresa, nosso maior patrimônio e orgulho são nossos meninos", diz, num trecho. A companhia também afirma que construiu uma família  entre a equipe e, por isso, está sem chão e sem rumo por perder um colega exemplar". Assegura, ainda, que está prestando toda assistência e solidariedade aos colaboradores e familiares. 

À reportagem, o gerente da empresa, Sinvaldo Ferreira Júnior, assegurou que esteve no pronto-socorro do Hospital de Base para dar suporte aos operários e familiares, com motorista à disposição dos parentes e vítimas. "A empresa sempre esteve presente dando apoio aos funcionários, ajudando em diversas situações. Esse é o nosso primeiro acidente com morte", declara.

 


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