Os últimos dias surpreenderam a todos. A previsão do tempo avisou, é verdade. Mas os brasilienses incrédulos preferiram crer mesmo no histórico de agostos de seca extrema. Os tempos são outros e mudam ao sabor das marés e do aquecimento global. Acrescentamos alguns graus celsius a cada ano e os nossos calendários desajustados nos deixam confusos.
Quem apostou numa festa ou diversão ao ar livre frustrou-se. A não ser que tenha aproveitado para tomar um banho de chuva. São Pedro foi paciente. Mandou as águas caírem do céu de madrugada e no fim da tarde. Deu tempo de curtir sob o sol escaldante desse cerrado. Os parques tomados pelo fervor de centenas de atletas e de amadores.
Os ipês amarelos, milagres sinceros de agosto, tomam conta da cidade em uma dança lado a lado ao ritmo da brisa quente, incapaz de refrescar os míseros mortais que se amontoam debaixo de suas copas cheias em busca do clique perfeito. E como será possível encontrar imperfeições naquele local? Nada que se diga ou que se faça sob aquele ângulo pode soar feio, estranho ou ridículo. Toda pieguice há de ser perdoada sob as copas do ipês.
O cenário idílico somado à chuva fora de época é a bênção perfeita para um povo imperfeito. Mas os nossos defeitos não serão perdoados. Pagaremos caro pela corrupção, pelo descaso, pela falta de solidariedade e de justiça. Se a mesma mão que dá é a que toma, estamos fadados a sofrer as consequências dos nossos atos.
Tem gente que quer viver o felizes para sempre sem contar nenhum era uma vez. Mas subverter a ordem das coisas pode cobrar um preço alto mais tarde. O colorido de nossas timelines não ilumina a escuridão da vida real e, pelo contrário, pode nos fazer mergulhar mais profundamente nas trevas.
Os ipês são o milagre de agosto, assim como a chuva que trouxe alívio para os dias secos. Devemos procurar milagres e esperanças em todas as estações, e nos convertermos também em conforto e alegria para quem nos acompanha nas caminhadas da vida.